Post-92

Escritores que ganharam o Prêmio Nobel de Literatura.

2007: Doris Lessing (1919-2013): a escritora britânica Doris May Taylor, que adotou o sobrenome do marido após seu segundo casamento, passando a se chamar Doris Lessing, nasceu no Irã, onde seu pai, um militar ferido na Primeira Grande Guerra, trabalhava como funcionário de um banco inglês. A mãe tinha a profissão de enfermeira. Doris foi a pessoa mais velha a ganhar um Nobel de Literatura, na avançada idade de 87 anos. Ela era, portanto, 33 anos mais velha que seu antecessor na premiação, o escritor turco Orhan Pamuk (v. Post 91). Doris viveu no Irã até os seis anos de idade, quando sua família se mudou para o país africano da Rodésia do Sul (atual Zimbábue), onde o pai queria ganhar a vida como agricultor. Ela foi educada em uma escola religiosa dominicana na capital Salisbury (atual Harare), mas abandonou o curso aos 13 anos de idade, tornando-se autodidata. Dois anos depois saiu de casa devido a conflitos com a mãe. Para ganhar dinheiro começou a cuidar de crianças em famílias abastadas e foi nessa atividade que teve a oportunidade de ler os bons livros que os patrões lhe emprestavam. Poucos anos depois começou a escrever. Casou-se com 18 anos, teve dois filhos e se separou seis anos depois, sendo que os filhos ficaram sob os cuidados paternos. Seu segundo casamento, com um diplomata alemão, ocorreu em 1945. Este matrimônio, do qual foi gerado um filho, também teve curta duração, apenas quatro anos. Portanto, com a jovem idade de 30 anos, Doris já havia passado por dois divórcios e tido três filhos. Logo após o segundo divórcio ela mudou-se para Londres, juntamente com o filho, onde publicou seu primeiro romance “A canção da relva” (The grass is singing, 1949), o qual foi adaptado ao cinema em 1981 sob o título de Killing Heat, dirigido por Michael Raeburn (1943-) e com roteiro da própria Doris. A obra conta a história de uma norte-americana que se muda para a fazenda do pai, no Zimbábue, e ali se envolve amorosamente com um dos empregados. Outro livro de Doris levado às telas foi Memoirs of a Survivor (publicado em 1974 e filmado em 1981) com a direção de David Gladwell (1935-) e estrelado por Julie Christie (1940-2008).

A obra magna de Doris, aquela que a consagrou definitivamente como escritora, foi o celebrado romance “O carnê dourado” (The golden notebook, 1962), obra com tintas autobiográficas e de uma explícita defesa das posturas feministas. Doris, que gostava de escrever sobre ficção científica, lançou em 1971 a enigmática obra “Roteiro para um passeio no inferno” (Briefing for a descent into hell), selecionado para o conhecido prêmio literário Booker Prize. Adepta da filosofia sufista (corrente mística originária do Irã e da Índia, que se opõe ao ortodoxismo muçulmano), ela publica de 1979 a 83 uma série de romances com essa inspiração, reunidos sob o título de Canopus in Argos, que ela considerava como sendo a obra mais relevante de sua carreira. E m 1984, já bastante conhecida como escritora ela faz um experimento para demonstrar a dificuldade de publicação para jovens autores: sob o pseudônimo de “Jane Somers” ela envia dois manuscritos a duas editoras. A primeira delas recusa as duas obras, com severas críticas à qualidade do texto, enquanto a segunda aceita publicar os textos após alguns ajustes.

Doris recebeu importantes prêmios literários europeus, dentre eles o Príncipe de Astúrias de Letras e o David Cohen Prize for Literature. No entanto recusou o título de Dame (equivalente ao Sir masculino), que seria conferido pela Rainha Elizabete, por considerá-lo “associado a um império não existente”. De personalidade forte e convicções muito bem definidas, Doris também colecionava polêmicas com a mídia e o público. Em uma delas afirmou que os ataques terroristas a Nova Iorque em 11/09/2001 não teriam sido tão terríveis quanto as ações do grupo extremista IRA (Irish Republican Army) nos diversos atentados na Irlanda do Norte. Sua escolha como ganhadora do Nobel de Literatura em 2007 desagradou uma boa parte da crítica especializada. Doris, que não compareceu à cerimônia de premiação por motivos de saúde, enviou à Academia uma carta para ser lida por sua editora sueca. Em um desabafo Doris qualificou a escolha de seu nome como um “maldito desastre”, pois a pressão da mídia por entrevistas e fotografias não a teriam permitido escrever mais “nem uma linha sequer”. Como já vimos, outros laureados também assumiram um comportamento hostil perante o recebimento do maior prêmio da Literatura. Por que isso acontece? Doris faleceu em casa aos 94 anos de idade. Sua medalha do Nobel foi a leilão em 2017, o que antes só havia ocorrido com André Gide, vencedor em 1947 (v. Post 30).     

A língua russa (1)

O idioma russo (Русский язик – ruski iazik) pertence ao ramo eslavo das línguas indo-europeias. Ele é falado por uma população aproximada de 260 milhões de pessoas. Tal estimativa carece de uma maior exatidão, já que as 15 antigas repúblicas que compunham a União Soviética utilizam o idioma em graus variados. Enquanto na atual Rússia ele é, obviamente, a primeira língua, nas 14 repúblicas restantes – desde 1991 convertidas em países independentes – prepondera sua utilização como segunda língua. No entanto, em alguns locais, como, por exemplo, nos três países bálticos (Estônia, Letônia e Lituânia) a tendência é a gradativa substituição do russo pelo inglês, como segunda língua. Além disso existem numerosas colônias de emigrantes espalhadas pelo mundo, notadamente nos EUA e em Israel. De qualquer forma, o russo é a língua materna mais falada da Europa. Deve-se destacar ainda a riqueza da literatura russa, sem dúvida uma das mais pujantes do mundo, o que faz com que outros milhões de pessoas se dediquem ao estudo do idioma.

As línguas eslavas podem ser divididas nos seguintes grupos:

  • Grupo oriental: russo, ucraniano e bielorrusso. São línguas mutuamente inteligíveis, ainda mais se considerando as misturas entre esses idiomas nas regiões de fronteira. A recente guerra da Ucrânia tem mostrado a existência de um elevado percentual da população que prefere falar russo, embora sendo ucranianos. O mesmo ocorre em Belarus, onde o idioma oficial é o bielorusso, mas um grande grupo da população se comunica em russo.
  • Grupo ocidental: polonês, tcheco e eslovaco.
  • Grupo meridional: servo-croata, esloveno, búlgaro e macedônio.

Nos diversos Posts a seguir as línguas eslavas serão apresentadas nessa ordem. O nome de “russo” foi dado pelos conquistadores viquingues que invadiram a região da atual Rússia no século IX. Esta denominação pode ter origem na palavra “rio” (rus no antigo nórdico) ou no termo “remador” (ruotsi na mesma língua). O primeiro estado russo se formou no século IX na região de Kiev, atual capital da Ucrânia. Ele foi historicamente conhecido como a “Rússia de Kiev”. Ficaria difícil explicar a complexa evolução da história da Rússia por meio de Posts, o que também não é nossa intenção. Para isso servem os bons livros de História. Em 1694 o czar Pedro I (ou Pedro, o Grande, em epônimo literal, pois ele tinha mais de dois metros de altura) criou o Império Russo. Além disso, ele promoveu uma revisão do alfabeto e determinou que os autores deveriam utilizar um estilo literário próximo à língua falada. Destaca-se, nesse aspecto, a relevante contribuição dada pelo notável escritor Alexandre Pushkin (1799-1837), considerado como o fundador da moderna literatura russa. Ele morreu precocemente em um duelo, quando um absurdo tiro de pistola ceifou a vida de um dos expoentes da literatura mundial.    

O russo é uma das seis línguas oficiais da ONU, junto com árabe, chinês, espanhol, francês e inglês. Na Internet é a segunda língua mais popular, depois do inglês. O russo é escrito no alfabeto cirílico. A ele fazem companhia, atualmente, na Europa o ucraniano, bielorusso, búlgaro, macedônio, sérvio e na Ásia o mongol, cazaque, uzbeque, quirgiz e tadjique. Com a entrada da Bulgária na União Europeia, em 2007, o cirílico tornou-se o terceiro alfabeto nessa Organização, além do latino e do grego. A criação do alfabeto cirílico é creditada a dois missionários cristãos bizantinos, irmãos de sangue, São Cirilo (827-69) e São Metódio (815-85), religiosos em Constantinopla (atual Istambul) e que se dedicaram à expansão do Cristianismo. Quando viveram na Morávia (reino eslavo nos séculos IX e X, localizado nos atuais territórios da República Tcheca, Eslováquia e noroeste da Hungria) modificaram o alfabeto da Antiga Igreja Eslava, influenciado pelo latim, grego e hebraico, criando assim o alfabeto glagolítico, utilizado na tradução dos evangelhos e outros textos religiosos para o eslavo eclesiástico. Em nova evolução, desenvolveram o alfabeto que passou a ser conhecido como cirílico.

(continua no próximo Post)

Origem de nomes comerciais ligados à moda, joias e perfumes (2)

Bulgari: sobrenome do fundador grego da empresa, Sotirios Voulgaris, em italiano Sotirio Bulgari (1857-1932).

Burberry: casa de moda britânica fundada em 1856 por Thomas Burberry (1835-1926), conhecido como o inventor da gabardine (fazenda de lã ou algodão tecida em diagonal).

Calvin Klein: fundada em Nova York (1978) pelo designer homônimo (1942-). 

Carolina Herrera: a designer de moda e criadora de perfumes nasceu em Caracas, na Venezuela (1935-).

Cartier: fundada pelo joalheiro francês Louis-François Cartier (1819-1904).

Coco Chanel: pseudônimo da designer francesa Gabrielle Chanel (1883-1971). Faleceu no famoso Hotel Ritz de Paris, onde viveu seus últimos 30 anos.

Frase para sobremesa: Duas citações de Lessing: 1) O que é o homem? Muito ruim para ser uma obra de Deus e muito bom para ser obra do acaso. 2) É isto o que significa aprender. De repente você percebe algo que já tinha percebido toda a tua vida, mas numa nova forma.

Bom descanso!

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