Post-90

Escritores que ganharam o Prêmio Nobel de Literatura.

2005: Harold Pinter (1930-2008): considerado como um dos maiores dramaturgos do século XX, o britânico Harold Pinter nasceu em uma família de classe média de ascendência judaica. Seu pai era alfaiate e a mãe dona de casa. Pinter também foi ator de teatro e cinema, diretor de dezenas de peças teatrais e roteirista de filmes. Ele é visto como um dos renovadores do teatro moderno, notadamente na vertente do chamado Teatro do Absurdo. Sua influência foi tão marcante que chegou a ser criado o atributo de “estilo pinteresco” para designar aquelas situações em que pessoas normais são colocadas frente ao inesperado. Pinter começou sua carreira de escritor criando poesias aos 12 anos de idade. Sua primeira obra de destaque na dramaturgia foi a peça “Festa de aniversário” (The birthday party, 1957). No início, ela se constituiu em um retumbante fracasso, tendo cumprido apenas oito apresentações. No entanto – pois ocasionalmente o destino costuma dar um empurrãozinho – quando a peça foi levada à televisão se tornou um explosivo sucesso. Em seguida foi feita a remontagem teatral, agora sim, com bastante êxito.   

Das 29 peças teatrais escritas por Pinter, os maiores destaques ficam, além de “Festa de aniversário”, com “O porteiro” (The caretaker, 1959), “Volta ao lar” (Homecoming, 1965) e “Traição” (Betrayal, 1976), todas elas adaptadas para o cinema. Aliás, com Pinter, nunca a literatura esteve tão perto da sétima arte. A lista de filmes (cinema e TV) em que atuou como roteirista e ator preencheria toda uma página deste Post. Para ficarmos aqui com apenas um exemplo, o aclamado filme “A mulher do tenente francês” (The French lieutenant’s wife, 1981), dirigido pelo tcheco Karel Reisz (1926-2002) e com um elenco de peso, contando com Jeremy Irons (1948-) e Meryl Streep (1949-), teve o roteiro de Harold Pinter.

Ele foi também um conhecido ativista político, ou pacifista, como se autodenominava. No entanto, algumas polêmicas surgiram neste aspecto, como, por exemplo, sua participação em um Comitê de Defesa do líder sérvio Slobodan Miloševi  (1941-2006), acusado de frequentes banhos de sangue nos conflitos na antiga Iugoslávia. Ele foi enviado ao Tribunal de Haia para ser penalizado pelos crimes de guerra cometidos, mas morreu durante o julgamento, vítima de um infarto do miocárdio. Pois bem, o argumento de Pinter para defender uma pessoa com contundentes provas de genocídio, não era de que ele fosse considerado inocente, mas sim a competência do Tribunal Penal Internacional para resolver esta questão. Na vida familiar Pinter teve duas esposas, um único filho e um conhecido rol de amantes. A concessão do Nobel em 2005 foi bastante criticada por vários intelectuais e críticos ligados ao teatro havendo ainda o argumento de que outros escritores, vivos e já idosos, teriam muito mais mérito no recebimento do laurel. Pinter não compareceu à cerimônia de premiação devido a problemas de saúde, sendo representado por seu editor. Lembremo-nos de que, no ano anterior (2004), Elfriede Jelinek também não esteve presente em Estocolmo. Pinter morreu de câncer na véspera do Natal de 2008. No seu funeral foram feitas oito leituras por amigos, todas elas selecionadas anteriormente pelo próprio falecido.  

A língua letã

Voltamos agui à família de idiomas indo-europeus, no seu ramo báltico. No Post 87 mostramos a língua estoniana, que pertence ao grupo fino-úgrico. Dentre os três idiomas oficiais dos países bálticos (Estônia, Letônia e Lituânia) abordaremos agora a língua letã e, no próximo Post, a lituana. A propósito, uma das possíveis origens da palavra “báltico” vem do idioma lituano baltas, com o significado de “branco”.

A língua letã (latviešu valoda) é falada por aproximadamente dois milhões de pessoas. Na própria Letônia cerca de 62% da população a utiliza como primeira língua, já que o país conta com outros grupos populacionais de destaque, como os russos e bielorussos. No Brasil existem comunidades de origem letã nas regiões Sul e Sudeste, oriundas de ondas migratórias iniciadas em 1889 (ocupação do país pelo Império Russo) e que continuaram até o fim da Primeira Guerra Mundial. Sabe-se que tribos bálticas já habitavam a região ao final do primeiro milênio. No século XII ocorreu uma série de invasões alemãs (denominadas cruzadas germânicas) para cristianização dos povos pagãos. Em 1558 a Rússia invadiu a região, seguida, em 1621, do domínio sueco. A Letônia ficou independente em 1918, mas por pouco tempo, já que em 1940 foi novamente invadida pela União Soviética. Após o término da Segunda Grande Guerra, o país foi devolvido à Rússia, no quadro dos acordos de fronteira celebrados entre vencedores e perdedores, passando a compor uma das 15 repúblicas soviéticas. O retorno à condição de independência só ocorreu em 1991, na esteira da fragmentação da União Soviética. Um dos artistas letões mais conhecidos é o cineasta Serguei Eisenstein (1898-1948), nascido na capital Riga.        

O idioma letão e o vizinho lituano, embora apresentem diversas semelhanças, não são mutuamente compreensíveis. No letão existem as consoantes silábicas (por exemplo stikls, espelho), ao passo que no lituano é inserida a vogal: stiklas. O acento tônico no letão recai sobre a primeira sílaba, como ocorre também com as línguas já vistas do ramo fino-úgrico (finlandês, estoniano e húngaro). Existem três dialetos na língua letã: o Central, que é a base da língua escrita, o Livoniano e o Alto. A proximidade com a Rússia e os vários séculos de domínio soviético provocaram a absorção de grande número de empréstimos da língua russa. A fonética do letão é bastante complexa, ou seja, nem sempre se lê como se escreve. Por exemplo a letra “j” é pronunciada como “i” (o que ocorre em várias outras línguas) e o “v” como “u”. Assim o vocábulo “preparado”, com clara influência russa (gatovi), escreve-se gatavs e se pronuncia como gataus. Zivis (peixe) se fala como zius. O letão é uma língua tonal, o que traz grandes dificuldades para os estrangeiros. Existem três tons: o uniforme, o decrescente, marcado por um acento grave, e o quebrado, marcado pelo acento circunflexo, em que há uma interrupção brusca do som, seguida de uma queda. No letão também encontramos a cedilha, que é usada como sinal de palatalização. O que é isto? É quando a língua se eleva até atingir o palato (céu da boca). Existem diversos exemplos de palatalização nas transformações do latim para o português: filiu → filho; aranea → aranha. À semelhança do japonês, chinês e húngaro, o título de tratamento vem depois do nome. Assim, “Senhor João” é “João Senhor”, o que não deixa de ter um certo charme. Na língua letã os substantivos, adjetivos, numerais e pronomes são flexionados em número e gênero. No letão só existem os gêneros masculino e feminino. Há uma abundância de pluralia tantum, que é a expressão latina para substantivos que são registrados apenas na forma plural, como nos exemplos do inglês clothes (roupa), scissors (tesoura), trousers (calças) e tantos outros. Em português temos o exemplo de núpcias.

Os pronomes pessoais são: es, tu, vinš/vina, mēs (indicação de alongamento da vogal, que recebe um traço superior), jūs (idem), vini/vinas. Números de 1 a 10: viens, divi, trīs (“i” alongado), četri (pronúncia “tchetri”), pieci, seši (pronúncia “sechi”), septini, astoni, devini, desmit. Dias da semana: pirmdiena, otrdiena, trešdiena, ceturtdiena, piektdiena, sestdiena, svētdiena (do russo cviet, santo), portanto domingo é o “dia santo”. Algumas expressões: Sveiki (olá), Atā (até logo), Labrít (bom dia; esta palavra também pode ser usada como uma reprimenda de ignorância, algo assim como “seu burro!” em português; claro que devemos ter o domínio total do contexto para emprego de um termo tão sensível), Paldies (obrigado), Lūdzu (por favor), Atvainojiet (desculpe; para estrangeiros talvez seja melhor apenas erguer as mãos no gesto de uma prece), Es nesaprotu (não entendo) e Es tevi mīlu (eu te amo).   

Origem dos nomes de algumas marcas de cervejas (2)

Heineken: indústria holandesa de cerveja, fundada em Amsterdam (1863) por Gerard Adriaan Heineken (1841-93). É aproximadamente da mesma época (1870) a criação da cervejaria holandesa Amstel, que é o nome do principal rio de Amsterdam.     

Skol: cervejaria de origem dinamarquesa, cujo produto entrou no mercado brasileiro em 1967 como a primeira cerveja em lata do país. O nome reproduz a palavra pronunciada quando do brinde feito com o choque dos copos (em sueco, norueguês e dinamarquês é Skål – pronúncia: skol). O termo é derivado do Antigo Norueguês skál, que significa tigela, ou seja, o recipiente em que o produto é bebido. A popular crença de que os vikings usavam como tigela o crânio dos inimigos (p. ex. skull em inglês) é vista com desconfiança por muitos etimologistas.

Stella Artois: cervejaria fundada em 1366 na cidade de Leussen na Bélgica e comprada em 1717 pelo mestre cervejeiro Sebastian Artois. A palavra stella (estrela em latim), foi usada em uma produção especial na época de Natal e logo se incorporou definitivamente ao nome. Uma outra estrela está também na marca Estrella Galicia, cervejaria fundada em 1906 na cidade de A Coruña, na Galícia (Espanha).

Frase para sobremesa: Duas reflexões de Pinter: 1) O passado é tudo aquilo de que você se lembra, imagina que se lembra, se convence de que se lembra ou finge que se lembra. 2) É muito difícil sentir desprezo pelos outros quando nos vemos ao espelho.

Bom descanso!

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