Post-88

Escritores que ganharam o Prêmio Nobel de Literatura.

2003: J. M. Coetzee (1940-): John Maxwell Coetzee foi o segundo escritor sul-africano a ganhar o Nobel, depois de Nadine Gordimer (1991). Nascido na Cidade do Cabo, filho de um advogado e de uma professora, ele passou a infância e adolescência na região, tendo se graduado em dois cursos aparentemente imiscíveis, Língua Inglesa e Matemática, ambos com louvor. De 1962 a 65 morou em Londres trabalhando na empresa IBM como programador de computadores. Mudou-se para o Texas, onde completou em 1968 o doutoramento na Universidade de Austin, com uma pesquisa sobre as obras de Samuel Beckett (Nobel em 1969). Em seguida foi lecionar por três anos na Universidade de Nova Iorque. Em decorrência de sua participação em um protesto contra a guerra do Vietnam, o visto de residência não foi renovado. Coetzee retornou então para o seu país, tornando-se professor na Universidade do Cabo até a aposentadoria em 2002. Neste mesmo ano ele emigrou para a Austrália, como professor convidado na Universidade de Adelaide. Recebeu a cidadania australiana em 2006.

Seu primeiro livro foi Dusklands, publicado em 1974. Ele continuou escrevendo romances e ensaios de forma regular, sendo um dos laureados do Nobel que mais acumulou premiações na carreira literária. Merece destaque a trilogia de obras, embora ficcionais, de claro caráter autobiográfico: “Infância” (Boyhood, 1998), “Juventude” (Youth, 2002), onde aborda memórias de sua época londrina, e “Verão” (Summertime, 2009). Todavia aquela que é considerada sua obra-prima é o impactante romance “Desonra” (Disgrace, 1999), que trata da sedução de uma aluna por um professor, o que provoca a demissão dele do emprego. Em Portugal a obra foi publicada como “Desgraça”. Qual título seria mais adequado? Lembremos que todas as desonras consistem em desgraças, contudo a recíproca não é verdadeira. Como li a obra, acho que a versão brasileira corresponde melhor ao enredo do livro. O romance foi transformado em filme, com o mesmo título, sob a direção de Steve Jacobs (1967-) e tendo o conhecido ator John Malkovich (1953-) no papel do professor.

Além da premiação do Nobel em 2003, Coetzee foi o primeiro escritor a ganhar por duas vezes o prestigiado Man Booker Prize: em 1989 pelo livro Life & Times of Michael K. e em 1999 pelo já mencionado romance Disgrace. O prêmio mais antigo do Reino Unido, James Tait Black Memorial Prize, criado em 1916, foi atribuído a Coetzee em 1980 pela obra Waiting for the Barbarians. Já mostramos em outros Posts alguns contemplados do Nobel que também ganharam o prêmio Jerusalém, conferido a escritores que se destacaram na luta pela liberdade. Coetzee foi galardoado com esse laurel em 1987 pelo conjunto de sua obra. Uma das mais relevantes premiações francesas, a Femine, foi inaugurada em 1985 com a obra de Coetzee Life & Times of Michael K. Sua publicação mais recente foi o romance The Pole, lançado em 2023, no qual é retratada a vida de um pianista polonês. Ademais, Coetzee conta com uma longa lista de doutoramentos honorários pelas mais renomadas universidades do planeta. Na vida pessoal é conhecido como uma pessoa reclusa, muito disciplinada (não bebe, não fuma e não come carne), bastante tímida, raramente concedendo entrevistas e que tem o curioso hábito de não comparecer a premiações e lançamentos de suas obras. Por isso os poucos exemplares com dedicatória do autor são valiosos e cobiçados pelo público leitor. Foi casado em 1963, divorciou-se em 1980, tendo gerado dois filhos. É agradável termos chegado, nos nossos Posts, à parte mais avançada na descrição dos ganhadores do Nobel, o que nos poupa o desconforto do relato de como morreram.     

A língua húngara (magyar nyelv) (1)

É o idioma com maior número de falantes dentre aqueles do ramo fino-úgrico. Estima-se que cerca de 13 milhões de pessoas residentes na Hungria (Magyarország) e 4 milhões de moradores em países vizinhos usem o húngaro como o principal idioma de comunicação. Deve-se destacar que a palavra “magiar”, muitas vezes usada erroneamente como sinônimo de “húngaro”, designa a principal etnia formadora do povo húngaro. Naturalmente existem moradores do país, falantes de húngaro, que não pertencem ao povo magiar. A palavra “Hungria” tem sua origem no turco On Gur, que significa “dez tribos”, em referência à formação do país. Os ugrianos, ancestrais dos magiares, viviam nas estepes da Sibéria por volta de 2.000 a.C. A partir dos séculos IV e V teve início a migração para o oeste. Tribos nômades vindas dos montes Urais (que separam a Rússia Europeia da Rússia Asiática) entraram nos Cárpatos (ala oriental do sistema de montanhas da Europa) no ano de 896. O primeiro estado húngaro foi formado em 1004, quando da conversão dos nômades ao cristianismo, liderados pelo rei Estêvão I. A Hungria esteve sob domínio otomano de 1526 a 1686. De 1867 a 1918 houve a existência do Império Austro-Húngaro, dissolvido após o término da Primeira Guerra Mundial. No Tratado de Trianon (1920), assinado pelos vencedores da guerra, a Hungria perdeu 2/3 de seu território e de sua população, além da saída para o mar na região da atual Croácia. Parte dos territórios retirados da Hungria foram incorporados à Romênia, Eslováquia, Sérvia, Croácia, Eslovênia, Ucrânia e Rússia, que são países onde existem minorias de fala húngara. Os primeiros escritos em língua húngara remontam ao século X, utilizando-se os sinais gráficos de runas. A partir do ano 1000 o idioma passou a ser escrito no alfabeto latino.  

O idioma húngaro é, sabidamente, um dos mais difíceis do mundo. Não bastasse a existência de 18 casos gramaticais, todos com as suas respectivas declinações, ele apresenta uma fonética muito particular. Assim, por exemplo, ele é o único idioma ocidental que não usa o “s” com seu som original. Se quisermos representar a pronúncia de “s” temos de usar o dígrafo “sz”. Já a letra “s” do húngaro é falada como “ch”. Desta forma o nome da capital deve ser pronunciado ao estilo dos nossos nordestinos e cariocas: Budapecht. Até aí tudo bem, mas estamos longe de terminar. A sílaba “gy” tem o som de “dj”. Portanto, o som da etnia, que compõe também o nome do país, é madjar. A letra “c” é pronunciada como “ts” e o dígrafo “cz” como “tch”. Por exemplo a contagiante dança popular húngara conhecida por “xarda” ou “czarda” obviamente soa como “tcharda”. Para terminar essa curta lista de exemplos lembremos que “zs” é falado como “j”. Acho que basta. Apenas mais um detalhe: a língua húngara possui vogais breves e longas. Para representar o som longo são colocados acentos agudos sobre as vogais. No caso daquelas vogais já acentuadas, como ö e ü, o alongamento é representado por dois acentos agudos (os quais, à primeira vista, lembram um trema; olhem com bastante atenção): ő e ű. O húngaro é o único idioma do planeta que apresenta esse charme gráfico.  

(continua no próximo Post)

Origem dos dias da semana (2)

Sexta-feira: Dies veneris, Friday, Vendredi, Venerdi, Viernes, Freitag. Enquanto as línguas românicas homenageiam a deusa Vênus, nas germânicas é a deusa nórdica Frigg a eleita.

Sábado: Dies saturni, Saturday, Samedi, Sabato, Sabado, Samstag. Em alguns idiomas a homenagem é para o deus Saturno, enquanto em outros o nome vem do hebraico shabat (dia de repouso).

Domingo: Dies solis, Sunday, Dimanche, Domenica, Domingo, Sonntag. Temos novamente uma divisão entre o nome do Sol (latim e línguas germânicas) e a designação de “dia do Senhor” nos outros idiomas. 

Mas qual seria o primeiro dia da semana? A pergunta é legítima, contudo, a resposta não o é, dado que, creiam ou não, inexiste uma padronização sobre esse assunto. Conforme indicação do ISO (International Standard Organization) a segunda-feira é o primeiro dia da semana, ao passo que no Brasil a ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) considera o domingo como sendo o início da semana. No fundo, o que provoca tais divergências, são fatores históricos e, principalmente, religiosos. Sob o ponto de vista da devoção espiritual, qual dia é o mais relevante: o domingo dos cristãos, o sábado dos judeus ou a sexta-feira dos muçulmanos? O dia em que conseguirmos responder a essa questão (ou seja, nunca) poderíamos ter o esboço de uma padronização. Por enquanto, vamos seguindo na mesma toada. Por exemplo, na Inglaterra e EUA a semana se inicia no domingo, ao passo que na maioria dos países europeus ela começa na segunda. Em termos populacionais, aproximadamente metade do mundo considera a segunda-feira como o começo da semana e a outra metade adota o domingo. Para complicar mais ainda algo que é uma verdadeira teia de dúvidas, no Irã, Afeganistão e Somália o primeiro dia da semana é o sábado. 

Frase para sobremesa: Dois petiscos de Coetzee: 1) A dor é a verdade. Tudo o mais está sujeito à dúvida. 2) Eu acredito mesmo que não tenho medo da morte. O que me faz encolher, penso eu, é a vergonha de morrer tão estúpido e confuso como sou.

Bom descanso!

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