Escritores que ganharam o Prêmio Nobel de Literatura.
2002: Imre Kertész (1929-2016): foi o primeiro escritor húngaro a receber a premiação. Era filho de comerciantes judeus, com os pais tendo se separado quando ele tinha apenas cinco anos. Com 14 anos foi deportado para o campo de concentração de Auschwitz. No processo de separação dos prisioneiros, quando lhe perguntaram a idade, ele respondeu sem hesitação: 16 anos. Como Imre, mesmo tão jovem, já conhecesse bem a língua alemã, entreouviu uma conversa dos soldados em que diziam que os homens acima de 16 anos iriam trabalhar no campo e os menores desapareceriam. Conforme as palavras do próprio Imre, “essa foi a mentira que salvou minha vida”. De Auschwitz ele foi transferido para o campo de Buchenwald. Após a libertação dos campos de concentração ao final da guerra (1945), ele retornou a Budapeste para completar o ensino médio. Logo depois trabalhou como jornalista, em fábricas e como tradutor de alemão. Temos aqui mais um caso em que o primeiro livro escrito se transformaria no maior sucesso do escritor. Ele terminou de escrever o romance “Sem destino” (Sorstalanság) em 1969. Nele é descrita a experiência de um adolescente em campos de concentração (que ele nega ser autobiográfica), mas a obra só foi publicada em 1975, logo se transformando em uma referência literária no país, sendo inclusive adotada no currículo de leitura em escolas de ensino médio na Hungria. Em 2005 o livro foi transformado em filme (em português: “Marcas da guerra”) com direção de Lajos Koltai (1946-) e música do célebre compositor Ennio Morricone (1928-2020). As outras duas obras da chamada Trilogia do Holocausto foram “O fiasco” (A kudera, 1988) e “Kadish (cerimônia fúnebre judaica) por uma criança não nascida” (Kaddis a meg nem született gyermekért, 1990). Na época ele já morava na Alemanha, onde passou quase todo o restante de sua vida. Outra obra muito conhecida de Imre é o livro de contos “A bandeira inglesa” (Az angol lobogó, 1991), também publicado no Brasil.
Imre evitava utilizar a palavra “holocausto”, que ele considerava como sendo uma maneira de santificar a barbárie. Em seu lugar preferia o termo mais frio e objetivo de “genocídio”. A concessão do Nobel de Literatura a Imre Kertész não repercutiu favoravelmente nos círculos literários da Hungria, pois muitos o consideravam como uma espécie de “traidor”, tendo trocado sua pátria pelo país que havia oprimido o povo húngaro. Este ressentimento se complicou ainda mais quando ele declarou, em uma entrevista, que se considerava um berlinense. Dois anos após o Nobel, Imre foi agraciado com a medalha Goethe, uma das mais significativas da Alemanha. A produção literária de Imre foi relativamente modesta em termos quantitativos, tendo publicado 13 obras, a maioria delas romances. Ele faleceu em sua casa em Budapeste, vitimado por complicações decorrentes do mal de Parkinson.
A língua estoniana
O idioma estoniano é o único, dentre aqueles falados nos países bálticos (Estônia, Letônia, Lituânia), que pertence ao ramo fino-úgrico. Estima-se em 1,1 milhão o número de pessoas que utilizam essa língua. A Estônia, que é o menor dos países bálticos, esteve sucessivamente sob o domínio da Dinamarca, Polônia, Suécia e Rússia. Foi um país independente durante um curto período (1918-39), quando, por força do pacto soviético-alemão no pós-guerra, voltou para o domínio dos russos. Com o desmembramento da União Soviética em 1991 a Estônia e os outros países bálticos recuperaram sua independência.
Os primeiros escritos em estoniano surgiram no século XIII. O idioma guarda diversas semelhanças gramaticais e fonéticas com o finlandês, tais como o caráter aglutinante, a ausência de distinção entre presente e futuro, ausência de gênero e a existência de elevado número de casos (14). Na fonética o estoniano também possui a tonicidade na primeira sílaba e a profusão de vogais duplas, as quais indicam uma pronúncia mais longa. Ao longo de sua história, a língua estoniana recebeu fortes influências do idioma alemão. Mesmo tendo uma restrita expansão geográfica, o estoniano possui dois dialetos, Norte e Sul. A língua estoniana moderna evoluiu a partir do dialeto falado no Norte, que é a região mais desenvolvida do país. A negação é feita pela inserção da partícula ei antes do verbo. O alfabeto estoniano possui a curiosa letra Õ. Sim, é como vocês estão vendo: um “o” com til. Sua pronúncia fica entre um “ô” e um “ê”, puxando mais para esse último. Complexo, não? Os pronomes pessoais são: mina, sina, tema, meie, teie, nemad. Números de 1 a 10: üks, kaks, kolm, neli, viis, kuus, seitse, kaheksa, üheksa, kümme. Vejamos algumas expressões: Tere hommikust (Bom dia), Tänan (obrigado), Palun (por favor), Vabandage (desculpe), Tsau (assim como no italiano, serve para cumprimento e despedida), Ma ei saa arv (não entendo), Ma armastan sind (eu te amo). Dias da semana: Esmaspäev, Teisipäev, Kolmapäev, Neljapäev, Reede, Laupäev, Pöhapäev.
No sul do país existe um outro idioma, muito semelhante ao estoniano, que é o Võro(temos aí o “o” com til), falado por aproximadamente 75.000 pessoas. Antigamente era considerado como sendo apenas um dialeto do estoniano, mas, com o passar do tempo, muitos linguistas passaram a classificá-lo como um idioma, reforçado pelo fato de possuir literatura própria, além de periódicos e estações de rádio. Embora bastante similar à língua-mãe, ele possui suas peculiaridades, como, por exemplo, a construção negativa das frases, que é feita mediante a aposição de uma partícula após o verbo, e não antes dele, como no estoniano. Apresentamos a seguir algumas expressões em Võro para que vocês possam compará-las com o estoniano, logo acima. Números de 1 a 10: üts, kats, kolm, nelli, viis, kuus, säidse, katössa, ütessä, kümme. Para “bom dia”: hüvvä hummogut. Obrigado: Aiteh. Não entendo: Mas saa-i arvo. Eu te amo: Armasta sinno. Desculpe: Andkö andis. Semelhantes, mas nem tanto. Aqui temos o clássico exemplo de um dialeto que evoluiu para idioma, tanto pela persistência da população, quanto pelo apoio de renomados linguistas. É essa a dinâmica das línguas.
Origem dos nomes dos dias da semana:
Temos apresentado nos nossos Posts de idiomas a designação dos dias da semana nas diversas línguas. No mundo ocidental eles derivam normalmente de denominações de deuses (e consequentemente planetas) das mitologias romana e nórdica. Mostramos a seguir uma síntese desses nomes nos idiomas mais conhecidos (sequência: latim, inglês, francês, italiano, espanhol, alemão).
Segunda-feira: Dies lunae, Monday, Lundi, Lunedi, Lunes, Monntag. Aqui tem-se a homenagem à Lua.
Terça-feira: Dies martis, Tuesday, Mardi, Martedi, Martes, Dienstag. Há uma clara referência ao deus Marte. Em inglês e alemão, que são línguas germânicas, o homenageado é o deus nórdico da guerra, Tyr.
Quarta-feira: Dies mercuri, Wednesday, Mercredi, Mercoledi, Miércoles, Mittwoch. A homenagem é feita a Mercúrio. O nome em inglês é derivado do deus nórdico Wodan (o mesmo que Odin), enquanto os alemães, muito práticos, indicam simplesmente “meio da semana”. O mesmo ocorre com o nome em russo (Ϲреда, leia-se “sriedá”, que significa a metade). Mas como extrair a metade de uma sequência de sete, portanto um número ímpar, sem usar decimal?
Quinta-feira: Dies jovis, Thursday, Jeudi, Giovedi, Jueves, Donnerstag. A referência é ao deus Jovi ou Júpiter. No inglês entra em cena o deus Thor e, em alemão, um dos atributos dessa divindade, que é o trovão (Donner).
(continua no próximo Post)
Frase para sobremesa: Duas contribuições de Kertész: 1) A leitura é como que uma droga que confere um adormecimento agradável aos contornos da crueldade da vida. 2) Você sobrevive à sua falta de sensibilidade e compreende que o vazio do mundo é, de certa maneira, uma obra sua.
Até a próxima!