Post-86

Escritores que ganharam o Prêmio Nobel de Literatura.

2001: V.S. Naipaul (1932-2018): forma abreviada (e com muito bom senso) do nome completo de Vidiadhar Surajprasad Naipaul, escritor trinitário (da ilha caribenha de Trinidad e Tobago), cujos avós emigraram da Índia para trabalharem em plantações de açúcar no Caribe. O pai, jornalista, conseguiu manter a tradição de criar os filhos nos dois idiomas, hindi e inglês. Aos 18 anos Naipaul recebe a chance dourada da sua vida, sendo contemplado pela comunidade indiana em Trinidad com uma bolsa de estudos para cursar qualquer universidade de língua inglesa no mundo. Já pensaram? Em 1950 ele pega um avião até Nova Iorque e de lá um navio para a Inglaterra. Seu destino era a tradicionalíssima Universidade de Oxford. Antes de viajar ele havia comprado uma caneta e um bloco de notas, seus equipamentos para se tornar um escritor. Tais recordações fazem parte de um de seus romances mais celebrados, “O enigma da chegada” (Enigma of Arrival), publicado em 1987. Após dois anos de frustações e decepções, Naipaul pede ao pai dinheiro para retornar a casa. Não obstante as atribulações no estudo, ele foi considerado por um de seus professores, o conhecido escritor J.R.R. Tolkien (1892-1973), como sendo “o melhor aluno da universidade”. Todavia, em vez de viajar para Trinidad, ele decide repentinamente ir para a Espanha, onde gasta toda a quantia enviada pelo pai. Anos mais tarde, quando inquirido sobre tal decisão, ele afirmou ter sido acometido “por alguma estranha doença mental”. Em 1954 muda-se para Londres, onde começa a trabalhar como apresentador de programas de rádio.

Seu primeiro livro, publicado quando tinha apenas 25 anos, foi “O massagista místico” (The mystic masseur, 1957), para o qual ele recebeu 125 libras de direitos autorais. Quatro anos depois Naipaul escreve um de seus principais romances, “Uma casa para o Sr Biswas” (A house for Mr. Biswas, 1961), uma obra maiúscula, deliciosamente divertida, que retrata – baseada na vida do próprio pai – a procura por uma casa como sinal de poder e riqueza. Para quem não lê com muita frequência e busca sugestões, vai aí uma forte recomendação para as próximas férias. Com essa publicação Naipaul recebeu, ainda muito jovem, um reconhecimento mundial. Ela faz parte da lista dos cem melhores livros em inglês do século XX, feita pela conhecida editora Modern Library. Como se não bastasse, foi selecionada pela poderosa Revista Time como um dos cem melhores livros publicados no período de 1923 a 2005. Eles devem ter tido seus motivos para escolherem essa amplitude temporal tão específica. Neste mesmo ano de 1961 ele recebe o prêmio Somerset Maugham, destinado a escritores com menos de 35 anos, sendo o primeiro não europeu a receber a comenda. O Nobel só chegaria 40 anos depois, mas o caminho estava muito bem pavimentado. Em 1962, ano da independência da antiga colônia britânica de Trinidad e Tobago, passa um ano viajando pela Índia. Ele já estava casado desde 1955 com uma colega de universidade, sem qualquer comunicação para as duas famílias. Naipaul sempre foi criticado por apresentar uma visão muito negativa dos países do Terceiro Mundo. A Índia, terra dos seus ancestrais, não escapou das abordagens pessimistas do escritor. O mesmo ocorreu em relação às muitas viagens realizadas para o continente africano, nas quais os leitores encontram aspectos racistas e discriminatórios. Praticamente todas suas obras de ficção e não ficção (mais de 30 livros) têm como cenários os países subdesenvolvidos que ele tanto criticava. Um outro livro seu muito bem recebido pela crítica foi “Os mímicos” (The Mimic men, 1967), que aborda as memórias de um político caribenho fictício exilado na Inglaterra. Em 1971 Naipaul recebe o prestigiado Prêmio Man Booker pelo livro “Num estado livre” (In a free state), composto por cinco narrativas sobre imigrantes que buscam a independência política e pessoal. Na cronologia de publicações uma obra de destaque foi o romance político “Os guerrilheiros” (Guerrillas, 1975). Quatro anos depois é lançada aquela que muitos analistas consideram como a obra-prima de Naipaul: “Uma curva no rio” (A bend in the river), ambientado no cenário das transformações pós-colonialistas na África. Em 1981 Naipaul é contemplado com o Prêmio Jerusalém, de frequência bienal e destinado a artistas que se destacaram na luta pela liberdade. Nove anos depois é nomeado “Cavalheiro Britânico (British Knighthood) pela Rainha Elizabeth II. No ano de 1994 Naipaul esteve em São Paulo como convidado da 13. Bienal do livro. Na ocasião ele externou o desejo de escrever um livro sobre o Brasil, o que acabou não ocorrendo. Naipaul faleceu em casa, aos 85 anos, de causas não divulgadas.              

A língua carélia

Este idioma é considerado por muitos linguistas como sendo apenas um dialeto do finlandês. Mas aí entra em cena a questão política. Da mesma forma como vimos na apresentação do idioma moldavo (v. Post 71), que é praticamente o mesmo que o romeno, o fato de ele ser falado em um país independente (Moldávia, antiga República soviética) levou à sua condição de se constituir em uma língua própria. A Carélia é uma região geográfica dividida entre a Finlândia e a Rússia. Se ela estivesse integralmente contida dentro da Finlândia, muito possivelmente a língua carélia não passaria de uma variante dialetal do finlandês. Para complicar, pois o lado geopolítico dos idiomas é sempre complexo, existem quatro dialetos dentro da língua carélia, os quais não se reúnem em um idioma escrito padronizado. A estimativa do número de falantes é de 30.000 na Rússia e 5.000 na Finlândia. Os números de 1 a 10 são muito semelhantes aos do finlandês: yksi, kakši, kolme, neljjà, viizi, kuuzi, seiččeman, kahekšan, yhekšan, kymmenen. Vejam algumas expressões no dialeto mais utilizado, que é o Livvi-carélio: Terveh (olá), Hyviä huondestu (bom dia), En ellenda (não entendo), Prostikkua (desculpe, semelhante ao russo Prostitie), Ole hyvä (por favor), Suvaičen sinuu (eu te amo), Passibo (obrigado, muito semelhante ao russo spaciba).    

As línguas lapônicas

Os idiomas lapônicos, assim como o finlandês, pertencem ao ramo fino-úgrico. Esse conjunto de línguas faladas pelos lapões são reunidas pelo nome de Sámi, que é, atualmente, o termo empregado para designar os povos que vivem na região histórica da Lapônia, a qual envolve o norte da Noruega, Suécia e Finlândia, assim como o extremo noroeste da Rússia. Existem dez dialetos do idioma Sámi, os quais formam uma sequência contínua de pequenos territórios, onde os povos vizinhos uns aos outros podem se comunicar de forma mutuamente inteligível, ao passo que aqueles mais afastados entre si não são capazes de fazê-lo. Estima-se a existência de cerca de 30.000 falantes das línguas Sámi, com a grande maioria (80%) associada ao dialeto Lapão Setentrional. Pelo menos três desses dialetos possuem apenas a comunicação oral, cujas raízes remontam há mais de 1.000 anos. A língua escrita dos dialetos Sámi teve seus primeiros registros no século XVII. O alfabeto Sámi possui letras adicionais e sinais diacríticos. A língua é oficial em diversos municípios da Noruega, Suécia e Finlândia, mas não na Rússia, onde ainda não atingiu essa condição. 

A maioria do vocabulário guarda alguma semelhança nos diversos dialetos. Por exemplo a palavra “pássaro” é loddi no Lapão Setentrional e ledtie no Meridional. Para “árvore” tem-se muorra e maere. Os exemplos que serão dados a seguir se referem ao Lapão Setentrional, o qual, como visto, é o dialeto falado majoritariamente. Os membros da etnia lapã, pelo fato de viverem normalmente em tendas comunitárias, demonstram um rico vocabulário para designação dos diversos membros da família. Um pequeno exemplo confirma essa diversidade: a palavra “tio paterno” tem duas formas: čeahsi para um tio mais novo que o pai e eahki para aquele mais velho que o pai. Existem, no mínimo, 17 palavras para representar o conceito de “neve”, dependendo se é um pedaço, se está solta, se é crosta ou camada, se é pegajosa, escorregadia, pesada, firme etc. Para a rena, que é a base alimentar do povo lapão, a riqueza é ainda maior, abrangendo 43 palavras para o mesmo animal, dependendo se é novo, velho, filhote, magro, cansado, alto, arisco, manso, ou seja, para o que as línguas ocidentais designam por meio de adjetivos, os lapões criaram o seu termo próprio. Os pronomes pessoais são: mun, don, son, mi, dii, sii. Numerais de 1 a 10: okta, guokte, golbma, njeallje, vihtta, guhtta, čieza, gávcii, ovcci, logi. Algumas expressões: Buorre beairi (bom dia), Bures (olá), Leage buorre (por favor), Ándagassii (desculpe), Giito (obrigado; bem semelhante ao finlandês), Mun rähkistan du (eu te amo),Oaidnaleapmai (até logo; naturalmente, ao final da pronúncia da palavra, a pessoa já terá ido embora).  

Origem de alguns nomes comerciais (5)

Pullman: ônibus confortável, de chassi elevado e poltronas reclináveis (do inventor norte-americano George M. Pullman, 1831-97).

Samsung: grupo industrial sul-coreano fundado em 1938. O nome significa “três estrelas”.

Toshiba: união de duas empresas japonesas formando o conglomerado Tokyo Shibaura Electric Co. 

Tupperware: a conhecida marca de recipientes para conservação de alimentos foi criada em 1946 pelo norte-americano Earl Tupper O produto sofreu o acréscimo da palavrinha ware, que é um sufixo útil para se designar o conceito de “mercadoria.”

Yale: fábrica de fechaduras fundada em 1840 pelo engenheiro norte-americano Linus Yale (1821-68).

Frase para sobremesa: A felicidade em si consiste no processo de sua conquista (Fiódor Dostoiévski, 1821-1881)

Bom descanso!

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