Escritores que ganharam o Prêmio Nobel de Literatura.
2000: Gao Xingjan (1940-): escritor chinês que se naturalizou francês em 1998. É autor de contos, novelas e, principalmente, peças de teatro, além de ser um pintor de carreira internacional. Gao é considerado como o introdutor do Teatro do Absurdo na literatura chinesa. O pai era bancário e a mãe atriz de teatro. Durante a Revolução Cultural, imposta por Mao Tsé-Tung (1893-1976) na China, que durou de 1966 até a sua morte, Gao foi forçado a trabalhar como camponês, em uma forma de educação que preservasse o comunismo e eliminasse os traços de capitalismo. Neste período ele teve de queimar toda a sua produção literária, o que é um dos piores castigos que um escritor pode sofrer. Após a morte de Mao o Partido Comunista Chinês considerou aquela triste década como sendo “um severo retrocesso”. Mesmo assim Gao enfrentava graves problemas com a censura chinesa, que considerava o Teatro do Absurdo como uma forma dissimulada de propaganda imperialista. Em 1983 ele escreveu a peça “Bus Stop”, na qual os personagens dialogam sobre a vida tendo como único cenário uma parada de ônibus. A crítica encontrou semelhanças com a obra clássica de Samuel Beckett Esperando Godot (v. Post 53). Em 1986 Gao recebeu um falso diagnóstico de câncer no pulmão. Resolveu então, talvez como forma de despedida, passar dez meses viajando ao longo do rio Yang Tze, coletando imagens e memórias, de onde nasceu sua obra-prima “A montanha da alma”, finalizada em 1989. A tradutora australiana que preparou a versão inglesa levou sete anos nessa dura missão. Outros dois anos decorreram na busca por editores. Finalmente a obra foi publicada em 1998. Dois anos depois Gao recebeu o Prêmio Nobel de Literatura, com uma menção específica a esse grandioso livro. Essa obra, juntamente com o relato autobiográfico Uma cana de pesca para meu avô (1990) são, até agora, as únicas produções literárias de Gao traduzidas para o português, ambas editadas em Portugal. A partir de 1990, todas as peças de teatro e novelas de Gao foram proibidas na China e o autor declarado persona non grata. Já emigrado para a França, ele prosseguiu suas atividades de escrita e de pintura.
Na ocasião do recebimento do Nobel, o governo chinês considerou que se tratava de uma atitude muito mais política do que literária. Gao é uma pessoa reclusa e avessa a entrevistas, tendo declarado que “em política e literatura não acredito ou pertenço a qualquer escola”. De forma coerente, é um ateísta convicto. Ele próprio faz a capa de seus livros, ilustradas com belas pinturas. Em 2002 recebeu a relevante comenda francesa da Légion d’Honneur.
A língua finlandesa (suomen kieli)
Todos os idiomas até agora apresentados pertencem ao grande grupo das línguas indo-europeias. Neste Post iniciaremos a abordagem de algumas línguas que, embora faladas na Europa, não são idiomas indo-europeus, mas sim do ramo fino-úgrico, também conhecido como ramo uraliano. Estima-se que a origem dessas línguas, ainda incerta nos aspectos temporal e geográfico, tenha ocorrido aproximadamente 3.000 anos antes de Cristo, na região europeia/asiática dos Montes Urais, de lá tendo se espalhado para partes da Europa e da Ásia. Avalia-se que esses idiomas fino-úgricos sejam utilizados por cerca de 25 milhões de pessoais. Neste Blog apresentaremos apenas os idiomas de maior relevância, quais sejam o finlandês, o estoniano e o húngaro. As línguas fino-úgricas apresentam algumas características em comum, tais como o fato de serem idiomas aglutinantes (os casos gramaticais são declinados mediante o acréscimo de sufixos), a existência de elevado número de casos e a ausência de gênero gramatical.
O finlandês é falado por aproximadamente 5,4 milhões de pessoas, a maior parte residente na Finlândia, mas também em regiões da Suécia e da Rússia. No Brasil a imigração finlandesa, na década de 1930, levou à criação do distrito de Penedo, no Parque Nacional de Itatiaia, onde vivem cerca de 1500 pessoas de etnia finlandesa. Deve-se destacar que, na Finlândia, os idiomas oficiais são o finlandês e o sueco, já que a Finlândia pertencia à Suécia até 1809, quando passou para o domínio da Rússia, ganhando a independência somente em 1917, após a Revolução Bolchevique que derrubou a monarquia russa. No entanto, desde 1892 o finlandês já havia se tornado um idioma oficial.
Os primeiros escritos nesse idioma remontam ao século XVI. É a única língua europeia que, em qualquer texto, apresenta um número maior de vogais do que de consoantes. A variante escrita é facilmente identificável pelo uso frequente de tremas e de letras duplicadas, as quais possuem uma pronúncia mais longa. A sílaba tônica é sempre a inicial. Existem dois dialetos mutuamente compreensíveis, o ocidental e o oriental, ocorrendo apenas diferenças fonéticas entre eles. Como ocorre com todos os idiomas fino-úgricos é muito elevado o número de casos gramaticais, no finlandês são 15. Além daqueles já mencionados no Post 33, quando foi abordado o idioma basco, existem ainda os casos essivo (indica o adjunto adnominal de estado, como por exemplo “Sendo estudante…”), elativo (adjunto adverbial de saída de um lugar), ilativo (adjunto adverbial de entrada em um lugar) e o curioso abessivo, que indica a ausência de algo. Por exemplo, aurinko (sol) e auringotta (sem sol). Imaginem, caros leitores, que, na qualidade de uma língua aglutinante, todos os casos são formados por modificações no final das palavras. São declinados não apenas o substantivo, mas também o determinante (adjetivos por exemplo). Em finlandês não existe o futuro, o qual é indicado por composições verbais (em português usamos tanto o futuro simples eu viajarei quanto o composto eu vou viajar). Não há artigos. Os pronomes pessoais são: minä, sinä, hän (tanto para ele quanto para ela), me, te, he. Um traço original do finlandês é a construção da negação verbal, na qual a partícula não é única, mas varia com a pessoa. Assim: minä en puhu (eu não falo), sinä et puhu (tu não falas). Números de 1 a 10: yksi, kaksi, kolme, neljä, viisi, kuusi, seitsemän, kahdeksan, yhdeksan, kymmenen. Os números de 7 a 10 são termos relativamente longos, o que não é usual na maior parte das línguas. Dias da semana: Maanantai, Tiistai, Keskiviikko, Torstai, Perjantai, Lavantai, Sunnuntai. Algumas expressões: Hyvää huomenta (bom dia), Kiitos (obrigado), Näkemiin (até logo), Olkaa hyvä (por favor), Anteeksi (desculpe), En ymmärrä (não entendo). No finlandês existe a chamada “diglossia”, ou seja, diferenças entre as linguagens formal e informal. Se vocês desejarem manifestar o verdadeiro amor (“eu te amo”), comecem pelo uso da expressão formal Minä rakistan sinua. Caso a questão evolua positivamente chegará o momento de usarem a versão informal Mä rakastan sua. Na eventualidade de vocês trocarem as duas variantes, as consequências poderão ser complexas.
Origem de alguns nomes comerciais
Nike: fundada em 1962 por dois norte-americanos, com o nome da marca homenageando Niké, a deusa da mitologia grega que simbolizava a força e a velocidade. Em português, o nome dessa deusa é Nice.
Nivea (a pronúncia internacional é “nivéa”): a indústria alemã, com sede em Hamburgo, foi criada em 1882 pelo farmacêutico Paul Beiersdorf (1836-96). O nome da marca remete ao adjetivo latino nívio, branco como a neve, de acordo com o padrão de beleza da pele utilizado na época.
Nokia: indústria de papel, que evoluiu para o ramo de eletrônicos, fundada em 1865 na cidade finlandesa de Nokia.
Pepsi: indústria de refrigerantes criada em 1893 nos EUA, tendo mudado diversas vezes de dono. O nome é derivado de um possível efeito da bebida no processo de digestão (do grego pépsis, пέψη; observem a terceira letra, ψ psi, que representa um dígrafo, i.e., a união de duas consoantes).
Frase para sobremesa: Duas reflexões de Gao: 1) Sou um artista, mas entre as minhas pinturas. Escrever é um luxo para mim. 2) O que é essencial é o que é percebido, não o que existe. Existir e não ser percebido é o mesmo que não existir.
Até a próxima!