Escritores que ganharam o Prêmio Nobel de Literatura.
1998: José Saramago (1922-2010): até agora o único escritor de língua portuguesa a ganhar o Nobel, Saramago se constitui em um dos mais pujantes exemplos de sucesso literário. Filho de pais analfabetos – seus avós também o eram – ele nasceu em uma aldeia (Azinhaga) na região do Ribatejo (ao norte do rio Tejo, enquanto Alentejo é ao sul do Tejo). Na verdade, Saramago, que é o nome de uma planta herbácea que crescia na região, era a alcunha um pouco depreciativa da família de seu pai (Souza). O notário, ao registrar o filho, cometeu o equívoco de denominá-lo de Saramago. No seu discurso de recebimento do Nobel, logo na primeira frase, ele exalta a figura do avô materno (“O homem mais sábio que conheci não podia ler nem escrever…”). Em 1924 a família mudou-se para Lisboa. Por falta de condições financeiras ele não pôde realizar os estudos pré-universitários. Formou-se em escola técnica e seu primeiro emprego foi como serralheiro mecânico. Em 1947 Saramago publica seu primeiro romance “A terra do pecado”, cujo título original era “A viúva”, julgado pelos editores como um nome de pequeno apelo comercial. Nesse mesmo ano nasce sua única filha, Violante, que passou a viver na Ilha da Madeira desde 1980. Violante, bióloga de formação, foi vereadora e deputada, além de ter publicado cinco livros, sendo o último a obra autobiográfica “De memória nos fazemos”. Depois de quase vinte anos sem escrever, Saramago lança o livro de poesias Poemas possíveisem 1966. Seu segundo livro, o romanceClaraboia, foi rejeitado pelos editores, que sequer lhe comunicaram essa decisão. Após o recebimento do Nobel, quando Saramago já era considerado um dos maiores romancistas vivos, foi procurado pela editora com a proposta de publicação da obra esquecida nas gavetas. Ele, provavelmente tomado por um natural sentimento de mágoa, recusou ceder os direitos de publicação. A obra permaneceu inédita até 2011, quando a família decidiu publicá-la em caráter póstumo. Após a Revolução dos Cravos (1974), Saramago trabalhou como editor e colunista nos periódicos Diário de Notícias e Diário de Lisboa, escrevendo crônicas quase que diariamente, as quais foram posteriormente reunidas nos volumes Folhas políticas e Os apontamentos. A partir de 1975 passou a dedicar-se apenas à literatura. Após ter publicado o livro de poesias O ano de 1993,em 1975, ele decide doravante escrever apenas romances, o grande gênero literário que o consagrou. Em 1980 é publicado o livro Levantado do Chão, que se constituiu no primeiro sucesso literário de Saramago, tendo recebido o prêmio Cidade de Lisboa. No entanto, a obra que o projetaria internacionalmente foi Memorial do Convento, publicada em 1982. Ao ver seu livro O Evangelho segundo Jesus Cristo proibido em Portugal, Saramago decidiu sair do país, passando a viver, até o fim de seus dias, em Lanzarote, nas Ilhas Canárias, pertencentes à Espanha. Algumas de suas características, como o ateísmo, a defesa da política comunista e o crônico pessimismo fizeram com que Saramago colhesse muitos adversários ao longo da vida. Todos eles já passaram, mas a genialidade do escritor, esta é perene.
Na vida pessoal teve apenas uma filha, a já mencionada Violante, cuja mãe foi esposa de Saramago de 1944 a 1970. Nesse último ano conheceu a escritora Isabel da Nóbrega, com quem viveu até 1986. Em 1988 casou-se com a jornalista espanhola Pilar del Río, tradutora de seus livros para o idioma espanhol, e com ela viveu até o dia de sua morte. Pilar é a presidente da Fundação Saramago, cujas bandeiras são a defesa da Cultura e do Meio Ambiente. Saramago recebeu diversas honrarias e distinções com destaque para o mais importante prêmio da língua portuguesa (Prêmio Camões, 1995) e para o Nobel de Literatura (1998). Existe a história, imagina-se que verdadeira em sua maior parte, de que, ao sair o resultado do Nobel, Saramago estava prestes a embarcar para a Alemanha, com vistas à participação na famosa Feira de Livros de Frankfurt, a maior do mundo no gênero. Quando ele apresentou seu passaporte no balcão de check-in da Lufthansa, uma sorridente funcionária pega o documento, arregala os olhos e lhe transmite um efusivo cumprimento pelo galardão recebido. É como dizem os italianos: si non è vero, è ben trovato (se não é verdadeiro é bem inventado), aforismo creditado ao filósofo italiano Giordano Bruno (1548-1600) condenado pela Inquisição à morte na fogueira.
O estilo Saramago aproxima-se da tradição oral portuguesa no relato das histórias, com grande vivacidade na comunicação e a presença de longas frases e períodos. Em seus textos, como há a ausência de travessões, os diálogos são inseridos no próprio parágrafo, além do generalizado uso de vírgulas no lugar do ponto final. Sua produção completa abarca 18 romances, 8 livros de crônicas, 5 peças teatrais, 3 livros de contos, 3 de poesias, 3 de memórias e 3 infantis. Qual seria a melhor obra de Saramago? Para mim, tal questão ficaria sem resposta, tamanha a marcante qualidade de todas as suas produções literárias. Como entusiasmado admirador de Saramago, já tendo lido praticamente a totalidade de suas obras, seria muito difícil apontar a melhor, sabedores que somos de que a fruição de um livro depende de conjunturas espaciais e temporais. Além disso, não existe sempre a necessidade de se escolher a obra máxima de um escritor, principalmente em casos como o de Saramago. Com relação às produções mais conhecidas pelo público internacional, caberia destaque àquelas adaptadas com sucesso para o cinema: Ensaio sobre a cegueira (2008) com direção de Fernando Meirelles (1955-) e O Homem Duplicado (2014), dirigido pelo canadense Denis Villeneuve (1967-). Saramago morreu na ilha de Lanzarote de leucemia crônica, tendo a companheira Pilar ao seu lado. Foi cremado em Lisboa, sendo as cinzas depositadas ao pé de uma oliveira localizada defronte à Casa dos Bicos, sede da Fundação Saramago.
A língua feroesa (1)
Esta é a língua oficial das Ilhas Faroe (Føroyar), também escritas em português como Féroe ou Féroes), que é um arquipélago situado a meio caminho entre Escócia e Islândia. O idioma pode ser designado como feroês, faroês ou ainda feroico, na língua original føroyskt. Na verdade, o nome do arquipélago contém uma tautologia (repetição) já que o sufixo oe no norueguês antigo significa “ilha”. A tradução do nome seria “ilha das ovelhas”, condição essa que permanece até os dias de hoje, já que a população de ovinos (70.000) supera a de seres humanos (50.000). Na Nova Zelândia a discrepância é ainda mais assustadora, pois são 5 milhões de habitantes contra 25 milhões de ovelhas. Mas não nos deixemos assustar, pois aqui no Brasil a população bovina ainda é um pouco superior à humana. Basta de digressões. As ilhas Faroe são, atualmente, uma dependência da Dinamarca, possuindo, no entanto, uma grande autonomia interna, pois não fazem parte da União Europeia, têm bandeira própria e, também, uma moeda local, que é a coroa feroesa. As ilhas foram descobertas por viquingues noruegueses no século IX, Em 1271 elas vieram a integrar os territórios da Coroa norueguesa. A partir de 1380 passaram a ser controladas pela Dinamarca. Os ingleses ocuparam o país em um curto período no século XIX, de 1807 a 14, mas ele voltou, em seguida, a pertencer à Dinamarca. Durante a Segunda Guerra Mundial as ilhas foram novamente ocupadas pelos ingleses, até 1946, quando a Dinamarca reassumiu o controle. Dois anos depois as Ilhas Faroe adquiriram a almejada autonomia interna.
Conhece-se pouco sobre o desenvolvimento histórico do idioma feroês até meados do século XIX. Ele deixou de ser uma língua escrita por cerca de 300 anos desde a união com a Dinamarca (1380), quando o dinamarquês se tornara o idioma oficial. A língua era mantida apenas na tradição oral, principalmente nas canções e baladas que descreviam as façanhas dos antigos colonizadores. Só a partir do início do século XVIII se iniciaram as primeiras tentativas para a retomada da língua escrita. Em 1846 foram estabelecidas as regras sintáticas e léxicas do idioma adormecido. Em 1938, em ousada decisão interna, os feroeses decidiram que seu idioma natal seria o único a ser ensinado nas escolas. Dez anos depois ele se converteu na língua nacional do país. Para os feroeses, o dinamarquês é considerado apenas como sendo um idioma estrangeiro. Na prática, a maior parte da população feroesa fala o dinamarquês, mas apenas 3% o têm como primeira língua. No entanto, as intensas relações comerciais e educacionais com a Dinamarca mostraram a conveniência de que fosse retomado o ensino do dinamarquês na população escolar. Estima-se que o feroês seja falado por 70.000 pessoas nas Ilhas Faroe e por 20.000 na Dinamarca.
(continua no próximo Post)
Origem de alguns nomes comerciais (3)
Johnson & Johnson: a indústria, criada em 1886 por três irmãos norte-americanos (Robert, James e Edward Johnson), produzia inicialmente compressas pós-cirúrgicas.
Kawasaki: indústria pesada japonesa, conhecida também no ramo de fabricação de motocicletas, criada por Shozo Kawasaki (1837-1912).
Kodak: a indústria de máquinas fotográficas foi fundada em 1888 pelo empresário norte-americano George Eastman, inventor do filme em rolo. O nome foi escolhido por sua sonoridade e pela marcante presença da letra favorita de Eastman (K).
LG: indústria sul-coreana de eletrônicos, criada pela fusão das empresas Lucky e Goldstar.
McDonald’s: criado pelo norte-americano Ray Croc (1902-84), inspirado em uma lanchonete dos irmãos McDonald em San Bernardino, Califórnia, os quais lhe deram o direito de usar o nome. A primeira loja começou a funcionar em 1955.
Mont Blanc: indústria fundada em 1906 em Hamburgo (Alemanha) na fabricação de instrumentos de luxo para escrita, relógios e joias. O nome é uma homenagem à mais alta montanha dos Alpes (4.809 m), localizada na fronteira entre França e Itália.
Nestlé: uma das maiores indústrias do mundo na produção de alimentos, bebidas e chocolates, foi fundada originalmente em Frankfurt pelo farmacêutico alemão Henri Nestle (1814-90). Seu sobrenome, em dialeto suábio (v. Post-61), significa “pequeno ninho”. Em 1839, ao emigrar para a Suiça, ele mudou o nome de família para Nestlé, por razões políticas e devido a uma maior harmonia com a língua francesa.
Frase para sobremesa: se quisermos escolher as melhores frases de Saramago, não chegaríamos a lugar nenhum, dado que seus livros são uma sucessão de frases notáveis. Mas vamos ao esforço: 1) Todos nós somos escritores, só que uns escrevem e outros não; 2) Sempre chega a hora em que descobrimos que sabíamos muito mais do que antes julgávamos; 3) Tolerar a existência de outro e permitir que ele seja diferente ainda é muito pouco. Quando se tolera, apenas se concede e essa não é uma relação de igualdade, mas de superioridade de um sobre o outro; 4) Não é a pornografia que é obscena, é a fome que é obscena.
Até a próxima!