Escritores que ganharam o Prêmio Nobel de Literatura.
1997: Dario Fo (1926-2016): um dos mais conhecidos e festejados dramaturgos do mundo, o italiano Dario Luigi Angelo Fo se dedicou, a par de compor algumas canções e participar de roteiros de filmes, basicamente a escrever peças de teatro, mais de sessenta em sua longa vida. O pai, além de ator de uma companhia amadora de teatro, era empregado da rede ferroviária do país, o que o levava a mudar com frequência para diversas cidades. A mãe era dona de casa e escritora, tendo publicado um livro autobiográfico em 1978. Mas também sabia como contar histórias. Ambos os pais eram socialistas e participavam ativamente da resistência antifascista na Itália. Nas férias passados junto ao avô, Dario aprendeu e desenvolveu a tão difícil “arte de escutar”. Era esse o caldo fértil em que vicejou o talento do menino, certamente predestinado para o mundo do teatro. Em 1940 Dario mudou-se para Milão, com o objetivo de estudar Arquitetura em uma academia de artes. Alguns anos depois foi convocado para o exército italiano durante a Segunda Guerra Mundial. Conseguiu fugir do quartel e se esconder no sótão de uma casa. Terminado o conflito, ele retomou os estudos na academia de artes. De 1945 a 1951 dedicou-se ao projeto de palcos de teatro, à decoração dos cenários e à improvisação de monólogos. Aquele era o seu novo mundo. Na década de 1950 começou a participar de shows de variedades. Daí até sua morte o teatro foi a essência de sua vida. Suas peças consistiam em sátiras à política, à igreja, aos costumes, aos bancos e à corrupção em geral. Logicamente, elas eram objeto de fortes censuras, tanto na Itália, quanto no exterior. Por algumas vezes Fo, já com a fama de um dos maiores dramaturgos vivos, teve recusada sua entrada nos EUA. Em represália aos frequentes ataques à vida política de seu país, sua esposa foi sequestrada e torturada em 1973. E o que Dario fez? Escreveu uma peça de teatro sobre o amargo episódio.
Suas obras tinham por vezes títulos muito longos e originais, ao exemplo da peça lançada em 1969: L’operaio conosce 300 parole, il padrone 1.000, per questo lui è il padrone (“O operário conhece 300 palavras, o patrão mil, por isso ele é o patrão). Embora seja difícil destacar quais teriam sido suas melhores peças, a crítica dedica atenção especial a duas delas: Mistero bufo, 1969 (“Mistério bufo”), na qual dezenas de personagens, representadas por poucos autores, apresentam quadros com temas bíblicos mesclados com jograis medievais; Morte accidentale de um anarchico, 1970 (“Morte acidental de um anarquista”), cuja trama aborda o caso real do suposto suicídio de um suposto anarquista. Quando trabalhava como ator, o que ocorreu em muitas de suas peças, Fo utilizava a língua inventada de Grammelot. Este recurso de comédia consiste na mistura de palavras de diversos idiomas, junto com outras criadas, e que produzem um marcante efeito cômico. Na verdade, não existe um Grammelot padrão, já que cada ator pode inventar o seu. O exemplo clássico no cinema é a imitação de Hitler feita pelo genial (existe algum adjetivo superior?) Charles Chaplin (1889-1977) no filme O Grande Ditador (1940). Dario Fo, que sempre aparece rindo nas fotos, afinal de contas era um comediante, teve um único casamento e um único filho. A concessão do Nobel de Literatura a Fo em 1997 foi considerada por muitos analistas como equivocada, já que outros escritores mereceriam o prêmio de forma mais integral, principalmente o dramaturgo britânico Harold Pinter, absoluto favorito naquele ano, mas que veio a ser contemplado em 2005. Em 2013, portanto três anos antes de sua morte por complicações pulmonares, Fo promove mais uma de sus inovações, tornando-se candidato à Presidência da Itália pelo partido 5 Estrelas, criado por um grupo de conhecidos comediantes.
A língua islandesa (2)
O islandês, à semelhança do alemão, possui quatro casos: nominativo (sujeito da frase), acusativo (objeto direto), dativo (objeto indireto) e genitivo (relação de posse). Contudo, o islandês, assim como o basco (v. Post 33), é uma língua ergativa, o que significa que o sujeito da frase só fica no caso nominativo quando o verbo é intransitivo (Eu durmo). Se ele for transitivo (Eu compro pão) o sujeito adquire uma outra forma. É como se disséssemos, em português, algo assim como Mim compro pão. Esta característica é também conhecida pela expressão inglesa de quirky subjects (sujeitos esquisitos ou singulares). Embora a ordem das palavras no islandês seja normalmente SVO (Sujeito-Verbo-Objeto) ela pode se alterar sem problemas, já que as respectivas declinações garantem a compreensão completa do sentido da expressão. Como já visto nas outras línguas escandinavas, o artigo definido é enclítico, ou seja, é formado por um adendo ao final da palavra. Assim: drengur (amigo), drengurinn (o amigo). Os gêneros das palavras são três: masculino, feminino e neutro. Na fonética do islandês o acento tônico recai sobre a primeira sílaba. A formação dos sobrenomes dos descendentes é baseada no prenome do pai. Assim, se o pai se chama Stefan Gunnarsson, o filho pode receber, por exemplo, o nome de Robert Stefánsson (filho de Stéfan) e a filha o de Harpa Stefánsdottir (filha de Stefán).
Os pronomes pessoais (na terceira pessoa do singular e do plural eles são aqui apresentados na ordem masculino, feminino e neutro): ég, þú, hann/hún/það, við, þið, peir/paer/þau. Números de 1 a 10 (de 1 a 4 eles são declináveis conforme o gênero; por questão de simplicidade mostramos aqui apenas a forma masculina): einn, tveir, þrír, fjðrir, fimm, sex, sjö, átta, níu, tíu. Algumas expressões: Halló (Olá), Bless (até logo), Góðan daginn (bom dia), Takk (obrigado, mas com a pronúncia de “tahk”), Visamlegast (por favor), Afsakiö (desculpe), Ég skil ekki (não entendo), Ég elska þig (eu te amo). Dias da semana: Mánudagur, Priðjudagur, Miðvikudagur, Fimmtudagur, Föstudagur, Laugardagur, Sunnudagur.
Origem de alguns nomes comerciais (2)
Canon: a famosa indústria japonesa de câmeras fotográficas, fundada em 1935, tem o nome inspirado em Kwanon, adeusa budista da misericórdia.
Catupiry: o nome comercial desse produto de queijo macio é originário da palavra “excelente” em tupi-guarani, o que é plenamente justificado.
Colgate: deve seu nome ao imigrante inglês William Colgate (1783-1857) que, em 1806, fundou a conhecida indústria de pastas dentifrícias.
Dell: a fábrica de acessórios de computador e de produtos eletrônicos foi criada no Texas por Michael Dell (1965-)
Ericsson: empresa sueca do ramo de telecomunicações, fundada em 1876 por Lars Magnus Ericsson (1846-1926).
HP: a indústria norte-americana de calculadoras e equipamentos eletrônicos foi fundada pelos engenheiros Bill Hewlett (1913-2001) e Dave Packard (1912-96).
Jacuzzi: famosa pela produção de piscinas de hidromassagem, a empresa foi fundada em Berkeley, California em 1915 por sete irmãos, imigrantes italianos da família Jacuzzi.
Frase para sobremesa: Em contraponto à comicidade de Fo, apresentamos duas considerações de Sêneca (4 a.C. – 65) sobre a morte: 1) É insano temer a morte, porque o que é certeza apenas se aguarda, teme-se o que é duvidoso; 2) O derradeiro dia alcança a morte, cada um dos demais se acerca dela.
Bom descanso!