Post-81

Escritores que ganharam o Prêmio Nobel de Literatura.

1996: Wisława Szimborska (1923-2012): escritora polonesa que se dedicou quase que unicamente à poesia. Filha de um administrador dos bens de um nobre polonês, Szimborska mudou-se na infância para a cidade da Cracóvia, considerada como a capital cultural do país. Durante a Segunda Guerra Mundial, com a maior parte das escolas fechadas, ela tinha aulas clandestinas e ainda trabalhava nas ferrovias estatais para evitar a deportação para solo alemão, onde os desempregados poloneses tinham de cumprir trabalhos forçados. Na Cracóvia ingressou na Universidade Jaguelônica (nome de uma dinastia de reis poloneses), fundada em 1364, sendo assim uma das mais antigas da Europa. Contudo, ela não conseguiu concluir a graduação em Literatura Polonesa devido a dificuldades financeiras. Nesse período já escrevia poemas que eram publicados em revistas e jornais. Em 1949 tenta editar seu primeiro livro de poesia, que é censurado pelas autoridades polonesas “por não cumprir os requisitos socialistas.” A primeira publicação de Szimborska foi a coletânea de poemas “That’s why we are all alive (Dlatego zyemy, 1952). No início de sua carreira literária era adepta do Realismo Socialista, que consistia em uma política de Estado para todas as manifestações artísticas. Posteriormente, quando já  famosa, foi muito criticada por abraçar uma orientação de inspiração stalinista, muito embora tenha se posicionado, ao longo da vida, de forma contrária a alianças entre Polônia e União Soviética.

Szimborska tem várias de suas obras traduzidas para o português, algumas delas feita em rimas adaptadas para o novo idioma, o que se evidencia como um grande, e discutível, esforço para transportar a musicalidade do original. Contudo, a maior parte dos poemas conhecidos recebe uma tradução livre, como se fosse em prosa, o que costuma conferir um desejado tom de sensibilidade. Ao longo da vida, ela escreveu não mais de 300 poemas, o que é avaliado como uma baixa produção quando se trata de poesia. Muito tímida e avessa a entrevistas e fotografias (onde sempre aparece com um sorriso de lábios fechados), Szimborska tinha o hábito de escrever as linhas dos poemas em pedaços de papel, que eram então reunidos, compilados e, finalmente, datilografados ou digitados. Seus poucos amigos diziam que, por vezes, ela começava pelo fim do poema, cumprindo depois “a longa escalada até o começo”. Na vida pessoal, casou-se com um poeta polonês em 1948 e divorciou-se seis anos depois. Eles não tiveram filhos. Dentre os vários prêmios literários recebidos, destacam-se, além do Nobel em 1996, o cobiçado prêmio Goethe, concedido apenas a cada três anos, e a Ordem da Águia Branca, a mais alta condecoração da Polônia.     

No seu memorável discurso de recebimento do Nobel, Szymborska destacou a difícil condição de se definir como poeta – a maioria prefere dizer que são escritores – uma profissão que nada tem de fotogênica (não se imaginam fotos de um poeta em trabalho de criação). Enfatizou a coragem do amigo russo JosephBrodsky (Nobel em 1987, v. Post 72), que se autointitulava “poeta” e que, como tal, foi preso como um “parasita da sociedade”. E, ao fim, comenta a importância da simples expressão “não sei”, motor dos avanços da humanidade e perene fonte de inspiração para os poetas. Szymborska, já acometida de um câncer de pulmão, morreu enquanto dormia.

A língua islandesa (1)

O idioma islandês (íslenska) pertence ao grupo germânico das línguas indo-europeias. Ele é falado por aproximadamente 320.000 pessoas, a quase totalidade delas sendo moradoras da ilha. O islandês era o mais ocidental dos idiomas indo-europeus até o estabelecimento dos portugueses nas ilhas Açores. O isolamento geográfico da Islândia, aliado às altas taxas de alfabetização do país, fazem com que o islandês seja a mais conservadora das línguas escandinavas. A origem do idioma é o norueguês antigo, falado pelos viquingues, sendo que pouquíssimas alterações ocorreram até os dias de hoje. Desta forma as crianças na escola não têm nenhuma dificuldade em ler as sagas (lendas escandinavas) do século XII. Em caso único no conjunto das línguas do planeta, o islandês apresenta uma forte resistência à incorporação de palavras de outros idiomas.  O que se busca, a qualquer custo, é a pureza da língua. Vejam alguns exemplos: táxi (leigubil), telefone (simi), eletricidade (tölva), computador (útvarp). Essas novas palavras foram criadas por linguistas islandeses baseadas na sinonímia com termos aproximadamente correspondentes. Existe na Universidade da Islândia em Reykjavik (capital do país) um setor dedicado exclusivamente à formulação dos neologismos. Vale o registro de uma mescla de dois dos idiomas mais exóticos do mundo, o chamado basco-islandês, criado no século XVII para facilitar a comunicação dos bascos, caçadores de baleias no extremo norte, com os islandeses. Seria muito temerária qualquer incursão mais aprofundada nessa língua. 

A ilha vulcânica da Islândia foi descoberta por navegadores entre os séculos VIII e IX. Em meados do século X ela já contava com um Parlamento ativo. No século XI se converteu ao Cristianismo e permaneceu independente até 1292, quando ocorreu a união com a monarquia norueguesa. Ao final do século XIV foi partilhada pelo Reino Unido da Noruega e Dinamarca. Em 1814, na separação entre esses dois países, ela passou a pertencer à Dinamarca. Em 1918 a Islândia foi reconhecida como um Estado soberano unido à Dinamarca e, finalmente, em 1944, adquiriu sua independência formal.  

Uma peculiaridade do islandês é o fato de se tratar de uma língua monocêntrica, ou seja, aquela que possui apenas uma versão padronizada, não havendo, portanto, a ocorrência de dialetos. Exemplos de outros idiomas monocêntricos são o russo e o japonês. O alfabeto islandês possui diversas letras que não existem nas outras línguas germânicas. Por exemplo, todas as vogais apresentam uma variante acentuada, que é considerada, inclusive nos dicionários, como sendo uma nova letra (entre parênteses é apresentada a pronúncia aproximada): á (au), é (ie), í (i), ao passo que a fonética da letra i não acentuada é (ê), ó (ou), ö (ê), ú (u), enquanto o u não acentuado é (ê), ý (i) e o y não acentuado é pronunciado como o “i” longo. Aos leitores mais sensíveis sugiro pularem o parágrafo, pois agora a situação só vai piorando. Além do dígrafo æ (ai), já visto no norueguês e no dinamarquês, temos as duas estrelas da festa: a consoante eth, grafada no maiúsculo por Ð e no minúsculo por ð, a qual tem um som intermediário entre o “d” e o “th” inglês e a consoante thorn escrita com Þ no maiúsculo e da mesma forma þ  no minúsculo, apresentando o som do inglês “th”, mas variando para “f” quando está no início da palavra. Ambas as consoantes são heranças vivas das linguagens nórdicas antigas. Como vários termos em islandês contam com a presença simultânea das duas bailarinas, pode-se imaginar a ginástica facial para se tentar atingir a sombra de uma pronúncia correta. Mas sempre vale o esforço.

(continua no próximo Post)

Origem de alguns nomes comerciais (1)

3M: fabricante de suprimentos médicos e de escritórios. A primeira atividade do grupo foi a mineração, tendo fundado em 1902 a Minnesota Mining and Manufacturing Company.

Adidas: logo após a Primeira Guerra Mundial o alemão Adolf Dassler (1900-78) começou a desenvolver sapatos de pano para atletas. O sucesso da empresa veio quando a Alemanha ganhou a Copa do Mundo de Futebol em 1954 usando chuteiras fabricadas pela Adidas. O nome da marca vem da junção de Adi(diminuitivo de Adolf) e Dassler. 

Aviões: as principais marcas levam os nomes dos seus projetistas, todos eles nascidos aproximadamente na mesma época: Antonov, companhia estatal ucraniana, fundada pelo construtor Oleg Antonov (1906-84); Boeing, empresa criada pelo norte-americano William Boeing (1881-1956); Douglas, fábrica de aviões fundada pelo norte-americano Donald Wills Douglas (1892-1981); Lockheed, criada pelos irmãos norte-americanos Allan (1889-1969) e Malcom Lockheed (1886-1958); Tupolev, aviões projetados pelo russo Andrei Tupolev (1888-1972).

Calças Levi’s: em 1847 um judeu alemão, Loeb Strauss, emigrou para Nova York e começou a trabalhar como vendedor de tendas. Em 1853, já naturalizado norte-americano, com o prenome americanizado para Levi, mudou-se para San Francisco e ali iniciou a fabricação de calças de brim, na verdade, o mesmo tecido usado nas tendas. Em 1860 ele iniciou a importação da França de um tecido similar, mais flexível, fabricado em sarja de algodão. Como a primeira fábrica francesa desse material era na cidade de Nîmes, o tecido passou a ser conhecido como “brim de Nîmes”, logo transformado em “denim”, que era o nome antigo dos jeans. A maior parte da exportação do denim era para a confecção de calças resistentes usadas pelos marinheiros da cidade portuária de Gênova, na Itália, os quais os franceses chamavam de “genes”. Bastou que a palavra chegasse aos EUA para se transformar em jeans. Pois bem, o referido Lévi-Strauss fundou em 1872 sua própria indústria de tecelagem, nascendo assim a calça Levi’s. Peço encarecidamente aos leitores mais desatentos que não confundam o Lévi-Strauss norte-americano com seu homônimo no sobrenome, o conceituado antropólogo e filósofo belga Claude Lévi-Strauss (1908-2009).     

Frase para sobremesa: Não há como deixarmos Szymborska de lado: 1) O mundo é cruel, mas também merece outros adjetivos mais compassivos; 2) Prefiro-me gostando das pessoas do que amando a humanidade; 3) Nessa escola do mundo, nem sendo maus alunos repetiremos um ano, um inverno, um verão.

Até a próxima!

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