Escritores que ganharam o Prêmio Nobel de Literatura.
1995: Seamus Heaney (1939-2013) (pronúncia Sheimus): poeta e dramaturgo irlandês, Heaney apresenta um dos currículos mais bem estruturados dentre os ganhadores do Nobel de Literatura, ilustrado por uma forte receptividade por parte do público e da crítica e pela extensa série de prêmios e honrarias acadêmicas a ele conferidas. Embora originário da Irlanda do Norte, que faz parte do Reino Unido, ele sempre se dizia e se comportava como um irlandês. Sua cidade natal, Londonderry, é denominada por grande parte dos moradores como simplesmente Derry, em ostensiva oposição aos preceitos vindos da corte londrina. A família, com oito filhos, trabalhava em fazendas, que era um dos temas preferidos no vasto lirismo dos poemas de Heaney. Seu primeiro livro de poesia, Eleven Poems (1965), foi escrito para um festival literário. No ano seguinte ele publicou uma de suas obras mais conhecidas, a coletânea de poemas reunidos no livro Death of a Naturalist, muito bem recebido nos círculos literários. Heaney, na jovem idade de 27 anos, já se tornara um dos poetas mais conhecidos na Irlanda e no Reino Unido. Ele estudou Literatura na Queen’s University em Belfast (capital da Irlanda do Norte). Casou-se em 1965 com uma professora. Na sua juventude e parte da vida adulta foi um entusiasmado praticante do “futebol gaélico”, que guarda alguma semelhança com o rugby. Uma peculiaridade desse esporte é que ele é estritamente amador, não se aceitando o pagamento de salários aos atletas. Os anos que se seguiram viram uma intensa atividade de publicações, notadamente de livros de poemas (mais de 20) e de diversas peças de teatro. Uma das características de seu estilo literário segue a corrente do Naturalismo, com a lírica descrição das paisagens de seu país.
De 1970 a 1971 ele foi Professor Visitante em Berkeley (California). Heaney morou em Dublin de 1976 até a sua morte. Nesse amplo período esteve como Professor Residente em Harvard, EUA (cargo esse que não lhe exigia morar no país) e Professor de Poesia em Oxford, Inglaterra. Em 1981 ele fundou, junto com o conhecido ator Stephen Rea (1946-), uma companhia de teatro. Em 1991 tornou-se fellow da Royal Society of Literature, instituição criada pelo rei George IV em 1820.Quando foi escolhido para receber o Nobel, em 1995, Heaney encontrava-se na Grécia em férias com a esposa. Ninguém conseguiu contatá-lo, nem mesmo os filhos. Dois dias depois, ao chegar ao aeroporto de Dublin, ele foi transportado diretamente à residência do presidente da Irlanda. Felizmente, Heaney não foi acometido pela jocosamente denominada “Síndrome de Estocolmo”, que costuma levar os laureados a diminuírem drasticamente a produção literária pós-premiação, tanto pelo fardo das expectativas geradas quanto pelas exigências diplomáticas que chegam em larga escala. Ele continuou a publicar e receber outras honrarias, como, por exemplo, a medalha francesa de Commandeur des Arts et des Lettres em 1996 e o prestigiado título de Saoi of Aosdána. Esta curiosa denominação, expressa na língua gaélica, contempla os eleitos pela Associação Irlandesa de Artistas para o cargo de Saoi, que só se torna vago após a morte de um dos seus cinco membros. Em 2006 ele recebeu o T.S. Eliot Prize e em 2009 o David Cohen Prize for Literature. Em 2013, ao sair de um restaurante em Dublin, sentiu-se mal, foi levado ao hospital e faleceu no dia seguinte. Suas últimas palavras, que ele escreveu em um bilhete dado à esposa, foram Noli timere (“Não tenha medo”, em latim). Nesse dia o tradicional jornal The Independent escreveu que havia falecido “talvez o mais conhecido poeta do mundo.”
A língua dinamarquesa (2)
O alfabeto dinamarquês possui, além das tradicionais letras latinas, os acréscimos já vistos no sueco e no norueguês e aqui repetidos para uma melhor consolidação: å (nos três idiomas escandinavos, pronúncia aproximada de “ô”), æ (no norueguês e dinamarquês, no sueco é ä, pronúncia aproximada de “â”) e ø (no norueguês e dinamarquês, no sueco é ö, pronúncia aproximada de “ê”). Nenhuma explanação sobre a língua dinamarquesa estaria completa sem menção à sua particularíssima fonética: ao contrário das outras línguas germânicas já apresentadas, não se lê aproximadamente como está escrito. Os linguistas consideram a pronúncia do dinamarquês como sendo a mais complexa dentre as línguas ocidentais. De fato, as crianças dinamarquesas levam mais tempo para pronunciar corretamente as palavras do que os coleguinhas da Suécia e Noruega. O ápice desta complexidade tem nome e endereço: o stød (pronúncia “stô”, esqueçam o “d”), fenômeno fonético só encontrado no dinamarquês, que consiste em uma parada glotal (glote: abertura na laringe) mediante o repentino estreitamento das cordas vocais, proeza literalmente impossível para alguém de fora do país. O problema maior é que, sem o stød, algumas palavras homófonas não podem ser diferenciadas, levando o ouvinte a uma natural crise de perplexidade. Por exemplo: hun (ela) e hund (cachorro) têm, aparentemente a mesma pronúncia, o que as diferencia na fala é o poderoso stød. Se pedirem mais um exemplo: bønder (camponês) e bønner (feijão). Para facilitar a vida dos pobres estrangeiros, algumas vezes (nem sempre!) o stød vem representado graficamente por um simpático apóstrofo.
Comentemos agora coisas mais agradáveis. Na parte gramatical o idioma dinamarquês apresenta fortes semelhanças com as línguas escandinavas apresentadas anteriormente, como por exemplo o artigo definido enclítico, isto é, mediante um acréscimo ao final da palavra. Assim: Jeg så et hus – eu vi uma casa – e Jeg så huset – eu vi a casa. A partícula negativa, que vem depois do verbo, é ikke. Existem apenas dois casos, nominativo e genitivo. Nesse último a construção também é enclítica. Os gêneros são o comum (união dos masculinos e femininos) e neutro. A reforma ortográfica realizada em 1948 aboliu o uso de letra maiúscula no início dos substantivos, como ainda ocorre no alemão. Os pronomes pessoais são: jeg, du, han/hun, vi, i, de. Números de 1 a 10: en, to, tre, fire, fem, seks, syv, otte, ni, ti. A construção dos numerais 50, 60, 70, 80 e 90 é baseada no sistema vigesimal, que também é adotado parcialmente pelo francês. Desta forma a palavra 60 equivale a “três vezes vinte”: tres (genitivo de tre) sinds tyve. Como ninguém tem paciência de dedicar tantas letras para um simples número, a expressão oral é abreviada para tres. De maneira análoga, o número 50 é construído como 3 x 20 – 20/2, ou seja, é uma real expressão matemática.
Uma curiosa particularidade da língua dinamarquesa é a regra de colocação do verbo sempre na segunda posição na frase (regra V2). Por exemplo: Peter (sujeito) så(verbo) Anne (objeto): “Peter viu Anne”. Contudo, se houver um complemento, como o advérbio “ontem” teremos: I gar (ontem) så(verbo) Peter (sujeito) Anne (objeto), em tradução literal: “Ontem viu Pedro Anne”. Sensacional, não é mesmo?
Dias da semana: Mandag, Tirsdag, Onsdag, Torsdag, Fredag, Lørdag, Søndag. Algumas expressões: God morgen (bom dia), Farvel (até logo), Tak (obrigado). Relembremos: Tack em sueco e Takk em norueguês, a pronúncia dos três é a mesma, só muda a grafia. Unskyld mig (desculpe), Det forstår jeg ikke (não compreendo), Jeg elsker dig (eu te amo). Por incrível que pareça, a língua dinamarquesa não tem uma expressão específica para se dizer “por favor”. Razões para tal são a compreensão de que favores são praticamente obrigatórios e ainda a clara existência de uma estrutura social mais igualitária no país. Quem quiser ser mais simpático, pode adornar de doçura o tom de voz ou mesmo a postura corporal. Em alguns casos caberia o uso da expressão Vaere så venlig (literalmente “seja gentil”), mas isso raramente acontece.
As mitológicas personagens de dois sexos
Todos sabem que no livre “Metamorfoses” de Ovídio (43 a.C.- 17 d.C.), uma das grandes obras da literatura universal – capaz de proporcionar uma leitura muito agradável – existe a menção a Tirésias, profeta cego de Tebas (Antiga Grécia), o qual, mordido por uma serpente, passou sete anos transformado em mulher. À pergunta de qual gênero poderia usufruir melhor dos prazeres carnais, ele não teve dúvidas em afirmar que são as mulheres. Mas aqui no nosso país também temos algo semelhante com Logum Edé, um orixá filho de Oxóssi e Ogun no candomblé ketu. Essa divindade, que rege os navegantes, é do sexo masculino durante seis meses, atuando como um valente caçador e se alimentando de carne. Nos outros seis meses do ano transforma-se em uma divindade feminina, de aspecto suave e comedora só de carne de peixe.
Frase para sobremesa: Duas contribuições de Seamus Heaney: 1) Não consigo pensar em um livro em que os poemas tenham mudado o mundo. O que eles fazem é mudar a compreensão das pessoas em relação ao que está acontecendo no mundo. 2) A paz não é o oposto da guerra, mas sim a civilização.
Bom descanso!