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Escritores que ganharam o Prêmio Nobel de Literatura.

1994: Kenzaburo Oe (1935-2023): aclamado escritor japonês, cujas obras tratam fundamentalmente de questões políticas, sociais e filosóficas. Conforme a tradição no Japão e em diversos países do Extremo Oriente, o sobrenome é colocado em primeiro lugar. Portanto, na nossa nomenclatura ocidental, o antropônimo completo seria Oe Kenzaburo, não existindo o nome do meio. Seu pai, que gerou sete filhos, morreu durante a Guerra do Pacífico (nome dado às batalhas que ocorreram na região do Pacífico por ocasião da Segunda Guerra Mundial). Ele foi educado pela mãe, que, em sábios gestos familiares, o presenteava regularmente com livros. Aos 19 anos Oe entrou para a Universidade de Tóquio no curso de Literatura Francesa. Suas primeiras histórias, influenciadas pela escrita contemporânea francesa e norte-americana, foram publicadas quando tinha 22 anos. Casou-se ainda jovem, em 1960. Seu filho mais velho nasceu com uma doença mental (hérnia cerebral), cuja repercussão na vida familiar foi relatada em diversos livros. Aquela que é considerada como sua obra-prima, o pungente romance “Uma questão pessoal” (Konjinteki na taiken, 1964), disponível na tradução em português, é um magnífico exemplo de literatura realista e com altíssimo nível de sensibilidade. Trata-se de enfática recomendação para os amantes das belas letras. Dentre as várias premiações recebidas por Oe, merecem destaque, naturalmente além do Prêmio Nobel de Literatura em 1994, o prestigiado prêmio literário japonês Akutagawa e a maior medalha francesa, a Légion d’Honneur. Todavia, ele recusou a cobiçada Ordem da Cultura, um dos mais prestigiados prêmios japoneses, pelo simples fato de que era entregue pelo Imperador, cuja autoridade o revolucionário Oe não reconhecia. Em coerência com sua postura pacifista, Oe liderou diversas campanhas contra o uso da energia nuclear, que ele considerava inaceitável em um país que havia sofrido os bombardeios de Hiroshima e Nagasaki. Em livro escrito em 1970 (Okinawa Notes), o autor descreve a barbaridade dos próprios militares japoneses que forçaram o suicídio em massa de centenas de civis quando da invasão dos Aliados à ilha japonesa de Okinawa. O exército moveu um processo contra Oe, que teve a satisfação moral de sair vencedor na contenda jurídica. Após o desastre ocorrido em 2011 na usina nuclear de Fukushima, o mundo assistiu a veementes protestos, liderados, à época, pelo maior escritor vivo da língua japonesa. No seu discurso de recebimento do Nobel, Oe destacou que seu maior objetivo na literatura era “defender a dignidade de todos os seres humanos.” Belas palavras. Oe morreu aos 88 de causas naturais, enquanto dormia.              

A língua dinamarquesa (1)

As considerações feitas anteriormente sobre os outros dois idiomas escandinavos, tanto sob o aspecto histórico quanto na estrutura da língua, se aplicam também ao idioma dinamarquês (dansk). Ele é falado por aproximadamente seis milhões de pessoas, a maior parte moradoras da Dinamarca. O país possui dois territórios insulares onde o dinamarquês é falado por parte da população. Na Groenlândia, a maior ilha do mundo (2,1 milhões de km2), que pertenceu à Noruega até 1721, 25% das pessoas o consideram como primeira língua e 75% como segunda língua, depois do groenlandês. Ressalte-se que, desde 2009 o dinamarquês não é mais a língua oficial da ilha. Apenas como uma curiosidade geográfica, vamos esclarecer algo que me intrigava desde a infância. Olhem para um mapa-múndi, vejam a gigantesca representação da Groenlândia e a comparem, por exemplo, com a Índia, de tamanho claramente menor. Esta é a impressão que temos devido ao fato de as projeções cartográficas usuais privilegiarem as regiões situadas no extremo norte da Terra. O fato é que a Índia, com a superfície aproximada de 3,3 milhões de km2 é mais de 1,5 vezes maior que a Groenlândia. Voltemos aos idiomas. O outro território pertencente à Dinamarca são as Ilhas Faroe, situadas ao norte da Inglaterra. Elas estiveram sob o domínio norueguês até 1380. Lá apenas 3% da população tem o dinamarquês como primeiro idioma e 97% como segundo idioma, logicamente depois do feroês. Além disso, o dinamarquês é língua minoritária no estado alemão de Schleswig-Holstein, localizado no norte do país (capital: Kiel) e anteriormente um ducado de propriedade privada da nobreza dinamarquesa. Ademais, na Islândia, que pertenceu à Dinamarca de 1380 a 1918, o idioma dinamarquês é matéria obrigatória no ensino escolar do país. 

Alguns curtos traços sobre a história da Dinamarca, a qual, em grande parte, se confunde com aquela das outras nações escandinavas. O país, que é considerado como um dos mais antigos do mundo, foi formado no ano de 958, mediante a união de várias tribos viquingues. Quem realizou a façanha foi o rei Haroldo I (935-986), também conhecido por Haroldo Dente-Azul (Harald Blåtand). As explicações para essa curiosa alcunha são várias, algumas delas reinterpretando o significado deste apodo no idioma dinamarquês mediante a mudança na grafia dos nomes. Ou seja, pretendeu-se dizer uma coisa e montou-se uma palavra similar a Dente Azul. Outra teoria, talvez a mais confiável, indica que o soberano realmente dispunha de dentes azulados. A empresa sueca Ericsson, conhecida fabricante de equipamentos de comunicação, resolveu homenagear o fundador da Dinamarca no nome da tecnologia criada para comunicação sem fios, em inglês Bluetooth, ou seja, algo também capaz de reunificar produtos eletrônicos. A logomarca é formada por letras rúnicas.    

Até o século XVI a Dinamarca usava um conjunto de dialetos para comunicação de seus habitantes. O idioma dinamarquês foi gradativamente sendo formado pela união dos principais dialetos. Com a Reforma Protestante, nesse mesmo século, o latim foi substituído pela nova língua, mais facilmente disseminada pela recente invenção de equipamentos para impressão de livros. A linguagem padrão então adotada foi baseada no dialeto da capital Copenhague, com muitos empréstimos do baixo-alemão.

(continua no próximo Post)

Nossa homenagem aos cães

Não é segredo para ninguém que as famosas Ilhas Canárias, pertencentes à Espanha, possuem incontáveis atrações turísticas, mas a observação de canários seguramente não é uma delas. O historiador Plínio, o Velho (23-79) já reportava a existência dessas ilhas, situadas no extremo oeste do mundo conhecido. O nome do arquipélago é derivado do latim cannis (cão). Esses animais foram ali levados por colonizadores africanos guanches, que eram povos do Norte da África, de origem berbere. A palavra “cínico” também tem uma origem canina (grego κυων – kyon – cão). O “cinismo” era a doutrina de filósofos gregos do século IV a.C., a qual se identificava pela oposição aos valores sociais e culturais vigentes na época e preconizava a condução de uma vida natural, autêntica, virtuosa e livre de posses, assim como fazem os cães, estes ainda com a vantagem de saberem separar com clareza os amigos dos inimigos. A conotação de cínico como sendo alguém debochado e sarcástico foi incorporada posteriormente. Temos ainda o nome “canícula” como significado de calor muito forte, uma referência ao nascimento da estrela Sirius da constelação do Grande Cão, o qual coincide com os fortes calores do verão. E finalmente o atributo pouco valioso (do qual os cães não têm nenhuma culpa) de “canalha”, no sentido de uma pessoa infame e abjeta.

Frase para sobremesa: Um rio nunca deixa de ser misterioso. Ele passa, há qualquer coisa de um adeus no seu movimento e segue, soturno, cegamente, em demanda de algo que ignoramos o que seja (Lúcio Cardoso, 1912-1968).

Até a próxima!

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