Escritores que ganharam o Prêmio Nobel de Literatura.
1992: Derek Alton Walcott (1930-2017): o escritor Walcott nasceu na pequena ilha caribenha de Santa Lúcia (área de 617 km2), a qual trocara de mão entre ingleses e franceses em 14 oportunidades, vindo a se tornar uma colônia britânica em 1814 e tornando-se independente apenas em 1979. Walcott foi o segundo caribenho a ser laureado com o Nobel de Literatura, após a premiação de Saint-John Perse, natural de Guadalupe, em 1960. O pai era empregado público, além de poeta e pintor, enquanto a mãe, que ganhava a vida como costureira, costumava andar pela casa declamando versos de Shakespeare. Walcott escreveu em sua carreira literária basicamente poesias, além de peças de teatro. Com 14 anos ele publicou seu primeiro poema em um jornal local e aos 19 anos conseguiu da mãe (o pai já havia falecido) o empréstimo de 200 US$ para editar um livro de poemas em Trinidad-Tobago. Para pagar o empréstimo ele andava pelas ruas vendendo, com algum sucesso, a obra aos passantes. Na adolescência mudou-se para a Jamaica após ter ganho uma bolsa de estudos para estudar na Universidade das Índias Ocidentais (University of West Indies), um sistema universitário que abrangia 17 países e territórios de língua inglesa no Caribe, possuindo campi na Jamaica, em Trinidad-Tobago e em Barbados.
Após a conclusão da graduação em Literatura, Walcott foi viver em 1953 em Trinidad-Tobago, continuando a escrever e a ter aulas de pintura. Seu irmão gêmeo, Roderick Walcott, já começara a adquirir fama como dramaturgo. Em 1970 Derek teve sua peça Dream of a monkey mountain produzida pela TV norte-americana. Já conhecido como um talentoso poeta, ele passou a lecionar em universidades nos EUA, Inglaterra e Canadá. Em 1981 foi contratado como professor pela Universidade de Boston, onde lecionou até sua aposentadoria em 2007. Nesta fase tornou-se amigo próximo do exilado russo Joseph Brodsky (Nobel de Literatura em 1987) e do poeta irlandês Seamus Heaney, laureado em 1995. Na sua trajetória literária, Derek foi acumulando prêmios e honrarias dados por revistas e por fundações, dentre elas a Royal Society of Literature. Sua obra-prima, publicada em 1990, é o longo poema épico Omeros, composto por sete livros e 64 capítulos, o qual reescreve, de forma moderna, a Ilíada de Homero, misturando antigos deuses gregos e personagens históricos caribenhos. Da mesma forma que a Divina Comédia, de Dante, o poema é escrito quase todo em tercetos (estrofes de três linhas), contendo ainda alguns trechos em língua crioula (línguas mistas de idiomas europeus com línguas nativas; teremos um Post sobre esse assunto). A capa do livro foi pintada pelo próprio autor.
Na vida privada, Derek tinha fascínio pelas viagens ao redor do planeta. Casou-se por quatro vezes, tendo tido também um filho que se dedicou à pintura. Em 2009, quando foi candidato a assumir uma posição no prestigioso conselho do Oxford Professor of Poetry, criado em 1708, ele foi levado a retirar a candidatura devido a diversas denúncias de assédio sexual no período de 1981 a 1996. Vai-se o homem, fica só o poeta.
A língua norueguesa (1)
Em um caso peculiar entre as línguas germânicas, o idioma norueguês (norsk) é, na realidade, formado por duas variantes, conforme será apresentado a seguir. O norueguês pertence ao grupo nórdico das línguas germânicas, sendo falado por aproximadamente cinco milhões de pessoas na Noruega e em outros países vizinhos da Escandinávia (Suécia e Dinamarca). Os três idiomas escandinavos derivam de um tronco comum, o protonórdico, o qual evoluiu para o nórdico antigo (semelhante à língua islandesa atual), se separando em línguas distintas entre os séculos XI e XIV. Essas três línguas são mutuamente inteligíveis, principalmente na forma escrita. Enquanto o norueguês e o dinamarquês escritos são muito próximos, no aspecto fonético o norueguês se assemelha mais ao sueco. Nesse período de consolidação dos novos idiomas, o alfabeto latim substituiu a escrita rúnica, conforme já comentado no Post 75, quando se apresentou a língua sueca.
O norueguês, assim como o sueco e o dinamarquês, possui três letras adicionais: å (nos três idiomas escandinavos, pronúncia aproximada de “ô”), æ (no norueguês e dinamarquês, no sueco é ä, pronúncia aproximada de “â”) e ø (no norueguês e dinamarquês, no sueco é ö, pronúncia aproximada de “ê”). Confuso, não? Para os escandinavos é tão fácil como respirar.
Para se entender melhor a trajetória do idioma norueguês é preciso lançar um breve olhar sobre a história do país. Foi Haroldo I, também conhecido por Haroldo Cabelos Belos (assim mesmo!), quem conseguiu reunir os pequenos reinos espalhados pelo território e fundar o país, que foi governado por ele de 872 a 930. De 1028 a 1035 a Noruega esteve sob domínio dinamarquês. A seguir, do século XII ao XIV, a Noruega, sob a soberania de Haquino IV, o Velho, tinha o domínio das ilhas Islândia, Feroé e Groenlândia, estas duas últimas sendo atualmente territórios pertencentes à Dinamarca. Em 1397, os três reinos escandinavos se fundiram sob o protocolo da União de Kalmar Com a saída da Suécia, em 1523, a Noruega continuou vinculada à Dinamarca até 1814, quando, com o fim das guerras napoleônicas houve uma reordenação dos países, formando-se então o Reino Unido da Suécia e Noruega, que existiu até 1905, ano em que a Noruega, finalmente, obteve sua independência. Essa curta história, que parece ainda mais confusa do que a fonética das línguas escandinavas, evidencia como o idioma norueguês sofreu marcantes influências das outras línguas vizinhas, sobretudo do dinamarquês. Ainda na época do domínio da Dinamarca foi definido que a língua norueguesa escrita seria equivalente ao idioma dinamarquês. Todavia, era inevitável que a inserção de palavras locais fosse pouco a pouco transformando essa forma escrita em um novo idioma, que foi designado como dano-norueguês ou bokmål (língua do livro). Por outro lado, a língua falada pela população era composta por dezenas de dialetos, ainda mais se considerando o isolamento geográfico a que muitas regiões estavam expostas. Enquanto nas áreas urbanas a classe mais culta utilizava o dano-norueguês, nas zonas rurais a dispersão dos dialetos era considerável. Foi quando surgiu um movimento, liderado por linguistas, para que fosse iniciada a construção de uma nova língua escrita, isenta de danicismos (influência de vocábulos dinamarqueses). Esse novo idioma, que recebeu a denominação de lansmål (língua do campo), posteriormente passou a se chamar nynorsk (novo norueguês), embora essa variante tenha uma base linguística mais antiga, inclusive se assemelhando aos idiomas islandês e feroês. No quadro atual, a maior parte da população da Noruega (cerca de 85%) utiliza o idioma bokmål, enquanto os 15% restantes escrevem e falam em nynorsk. No aspecto geográfico o bokmål predomina no leste do país e o nynorsk na sua região oeste. E como fica a questão do ensino escolar? Já que os dois idiomas são reconhecidos pelo governo, é o município que escolhe qual língua será ensinada na escola primária, com a obrigação de, no ensino secundário, a opção não escolhida ser lecionada. Portanto, no final das contas, todo norueguês conhece os dois idiomas e fala e escreve como ele quiser. Sem dúvida é um caso único no mundo. E a fonética? Ora, como o país é livre, cada um pronuncia da maneira que melhor lhe aprouver, sabendo que o interlocutor vai entender de qualquer maneira. Concordo que parece muito estranho, mas é assim que funciona. Evidentemente, ocorreram diversas tentativas de unificação das duas variantes do norueguês, formando-se o Samnorsk (Noruega unida), mas, dadas as dificuldades para esse empreendimento, os planos foram abandonados em 2002. Comenta-se, todavia, que a ideia da unificação linguística ainda não estaria morta, apenas hibernando.
(continua no próximo Post)
As expressões de saúde
Não há dúvidas de que o conhecimento da palavra “saúde”, ao se brindar com copos e taças, pode ser vantajoso na expansão das relações sociais. Em inglês temos o famosíssimo Cheers (derivado do latim “cara”, rosto, face ou, obviamente, cara). Já no francês é Santé (do latim “salus”, salvação), no espanhol Salud, no italiano Salute, todos com a mesmaorigem. O alemão também utiliza uma expressão vinda do latim: Prosit (do verbo “prodesse”, ser útil, portanto, “Prosit” é algo assim como “que possa ser útil”). No neerlandês a palavra é semelhante: Proost. São todas mensagens de natureza muito positiva, pois ninguém brindaria lançando uma maldição. A propósito, para finalizar as considerações sobre o brinde alemão, se vocês estiverem em um alegre grupo de jovens, talvez seja conveniente usarem a expressão Zum Wohl (“para o seu bem”) ou então a forma mais curta de Prost. Também no russo brinda-se à saúde: За Здоровый (Za zdorovie). Nas línguas escandinavas (sueco, norueguês e dinamarquês) a palavra é a mesma: skål, que significa “tigela” no nórdico antigo. Também em islandês é skál. Os japoneses, que adoram fazer brindes, usam o conhecido termo Kanpai, literalmente “seque o copo”. Outro país conhecido pela facilidade em se beber muitos litros de cerveja é a Irlanda, com a também famosa expressão Sláinte (pronúncia “Slaintse”).
Mas existe um outro momento de uso do termo “Saúde”, que é quando alguém perto da gente espirra. Parece que, em épocas passadas, acreditava-se que o demônio estaria saindo da pessoa (haja imaginação), daí a conveniência de se invocar os anjos, ou, pelo menos desejar uma ótima saúde a quem espirrasse. No espanhol o termo mais usado é Salud, mas também pode ser Jesus. Em Portugal a palavra apropriada é Santinho. Na Itália continua o Salute. Os franceses dizem A vos souhait (ao seu desejo), os alemães falam o conhecido Prosit ou então Gesundheit (sáude), em inglês é Bless you (seja abençoado), nos países escandinavos Prosit e no russo ВудЬте ЗдоровЫ (fique saudável). Em muitos países, como por exemplo no Sudeste Asiático, Japão e China ninguém reage a um espirro alheio, apenas se afastam imediatamente.
Frase para sobremesa: Dialeto é uma língua sem um exército (Noah Chomsky (1928-)
Até a próxima!