Post-75

Escritores que ganharam o Prêmio Nobel de Literatura.

1990: Octavio Paz Losano (1914-98): pela primeira vez (e, até agora, única) um idioma que não o inglês tem escritores laureados em dois anos seguidos (Camilo Cela e Octavio Paz). Paz foi um poeta, ensaísta e diplomata mexicano, consistindo em um dos intelectuais mais respeitados no mundo intelectual. Passou a infância nos EUA, acompanhando os pais, pessoas de prestígio e com ideias liberais. Já na adolescência, ele publicou seus primeiros poemas, com apenas 17 anos. O primeiro livro, também uma coleção de poemas (Luna Silvestre), foi lançado dois anos depois, em 1933.  Começou a estudar Direito na maior universidade da América Latina, a UNAM (Universidad Nacional Autonoma de Mexico). Essa instituição possui atualmente (2023) cerca de 270.000 alunos. Ela sucedeu à “Universidade Real e Pontifícia do México”, criada em 1551 e refundada em 1910, com o nome de UNAM. Seu campus, na cidade do México, é um patrimônio cultural da UNESCO pela quantidade de obras de arte ali existentes. Paz abandonou os estudos e passou a se dedicar ao jornalismo e a escrever poemas em uma literatura de vanguarda. Em 1945 tornou-se diplomata, ocupando cargos relevantes na Espanha, França, Suiça e a embaixada do México na Índia. 

Ao morar em Paris, Paz recebe uma forte influência do escritor André Breton (1896-1966), de quem se torna amigo. Ambos seguem o caminho do surrealismo e do dadaísmo, que propõe a rejeição à lógica, razão e esteticismo da sociedade capitalista moderna. A origem do nome dadaísmo, embora ainda controversa, teria surgido de uma súbita inspiração do poeta romeno Tristan Tzara (1896-1963), o qual, em uma taberna em Zurique, abriu ao acaso um dicionário Larousse e chegou à palavra dada, que significa “cavalo de brinquedo” em francês. Esta é uma das etimologias mais estranhas registradas aqui nas nossas postagens, mas é referendada por diversos dicionários.

Embora a maior parte da produção literária de Paz seja composta por poemas, merece destaque um ensaio antropológico do Mexico denominado El laberinto de la Soledad, publicado em Paris em 1945 e cultuado como sendo uma das obras-primas de Paz. Durante parte de sua vida ele fundou diversos jornais e revistas literárias e atuou como professor visitante em universidades de grande renome internacional, como Oxford e Cambridge. Casou-se aos 51 anos com uma francesa. Dentre os vários prêmios literários recebidos, destacam-se, além naturalmente do Nobel (1990), o Prêmio Jerusalém (1977), o qual laureia contribuições significativas para a liberdade humana, e o renomado Prêmio Cervantes, um dos mais respeitados da literatura espanhola. Já ao final da vida, Paz gostava de reunir o público para ouvir declamações de seus poemas. Nessas ocasiões ele fazia questão de ter na plateia a presença de Beatriz Sheridan (1934-2006), a mais famosa atriz e diretora de telenovelas mexicanas. Algum amuleto, paixão oculta ou, simplesmente, a vontade de recitar mirando o rosto da amiga?    

A língua sueca (1)

A partir deste Post continuaremos a apresentação das principais línguas germânicas. Conforme explicado em postagens anteriores, não são abordadas no site literaruraeidiomas.com línguas já bastante conhecidas e com recursos didáticos amplamente disponíveis, como é o caso dos idiomas germânicos inglês e alemão. Deste conjunto já foram comentados:

Alsaciano (Post 44), ânglico-escocês ou scots (Post 49), suiço-alemão e austríaco (Post 59), bávaro (Post 60), suábio e hunsriqueano (Post 61), frísio e sórbio (Post 62), luxemburguês (Post 63), holandês (Post 64), flamengo (Post 65 e 66), africâner e sranan (Post 67) e iídiche (Post 68).

As línguas germânicas a serem ainda apresentadas são o sueco, as duas variantes do norueguês (bokmål e nynorsk), o dinamarquês e o grupo dos idiomas germânicos mais arcaicos, que são o islandês e o feroês.

A língua sueca (svenska) é falada por cerca de 10 milhões de pessoas na Suécia e aproximadamente 300.000 na Finlândia. Por questões históricas, já que a Finlândia foi dominada pelos suecos do século XII até 1809, seus idiomas oficiais são o finlandês e o sueco. Além disso, nas Ilhas Aland, que é um arquipélago  pertencente à Finlândia, situado no Mar Báltico, o único idioma oficial é o sueco. E vamos lembrar que o finlandês (a ser visto em um Post futuro) é uma das poucas línguas da Europa que não pertence à família indo-europeia.

Os idiomas germânicos na região da Escandinávia (sueco, norueguês e dinamarquês) são mutuamente inteligíveis, notadamente na sua forma escrita. Antes da Era Viquingue (800 a 1050) não havia distinção entre o sueco e as outras línguas da Escandinávia, ocorrendo o predomínio do chamado nórdico-primitivo, o qual evoluiu entre 1050 e 1300 para o nórdico antigo oriental. Só a partir do século XIV foi consolidada a separação entre o sueco e o dinamarquês. Como, entre 1380 e 1814, a Noruega estava anexada à coroa da Dinamarca, o norueguês surgiu como língua independente apenas no século XIX.  

O sueco antigo era escrito em um alfabeto latino modificado, denominado de runa (do nórdico antigo run, “mistério, segredo”). As inscrições rúnicas, algumas muito bem preservadas, são ainda encontradas em diversas partes do país. Nessa época a língua sueca começou a ser enriquecida com empréstimos do grego, latim e alemão. O primeiro livro escrito no sueco moderno data de 1495, período esse em que se notava a intensa incorporação de vocábulos de origem francesa. Mas foi só a partir de 1850 que se iniciou a real consolidação do idioma sueco contemporâneo, principalmente pela atuação de August Strindberg (1849-1912), o mais celebrado escritor sueco e considerado como sendo o pai do idioma (à semelhança de Dante para o italiano, de Goethe para o alemão, de Shakespeare para o inglês, de Cervantes para o espanhol e de Camões para o português). A última reforma ortográfica do vocabulário sueco ocorreu em 1906.

Já vimos que a maioria das línguas do planeta é pluricêntrica, ou seja, apresenta diversas versões do idioma oficial. O sueco não foge a essa regra. Seus principais dialetos são o meridional (falado no sul do país), o setentrional (no norte), o gota (na região central) e o dialeto finlandês, no qual existem muitos empréstimos da língua russa. O sueco usa um alfabeto latino modificado, com 29 letras, dentre as quais å (pronúncia aproximada: ô), ä (pronúncia aproximada: â) e ö (pronúncia aproximada: ê). Enquanto a letra å existe nas três principais línguas escandinavas (sueco, norueguês e dinamarquês), o ä sueco é representado pelo dígrafo æ no norueguês e dinamarquês e o ö sueco equivale ao Ø no norueguês ou dinamarquês. Assim, naquela mesma viagem de trem pela Europa, a que já aludimos algumas vezes, se encontrarem à sua frente um passageiro lendo um jornal escandinavo, existe alguma pequena chance de conseguirem identificar o idioma, contudo uma probabilidade muito maior de saberem qual não é aquela língua.

(continua no próximo Post)

Quebrar a perna: o desejo de boa sorte

Certamente muitos dos leitores conhecem a expressão em inglês break your leg, usada para desejar boa sorte a uma pessoa ou a um grupo, principalmente antes de uma estreia teatral ou de algum outro acontecimento artístico. Por que isso? O que se comenta é que um puro desejo de boa sorte costuma ter o efeito contrário. Será? Acho que a melhor palavra para designar esse estranho comportamento seria “superstição”, se não estiver muito enganado. O curioso é que expressões similares existem em diversos idiomas:

  • Alemão: Hals – und Beinbruch (quebre o pescoço e a perna); realmente bastante enfático;
  • Italiano: In bocca al lupo (na boca do lobo);  
  • Russo: Сломай кость (slomai koct) (quebre um osso);
  • Francês: Merde (dispensa tradução);
  • Espanhol: Mierda;
  • Português: Merda.

Essas três últimas devem ser pronunciadas com bastante ênfase.

Frase para sobremesa: A arte de viver consiste em sabermos nos servir de pessoas que nos atormentam como sendo degraus que nos permitam ter acesso à sua forma divina e, assim, de povoar alegremente de deuses a nossa vida (Marcel Proust, 1871-1922).

Até a próxima!

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