Escritores que ganharam o Prêmio Nobel de Literatura.
1988: Naghib Mahfouz (1911-2006): o egípcio Mahfouz foi o primeiro escritor de língua árabe a ser contemplado com o Nobel de Literatura. O nome Mahfouz é uma homenagem ao médico obstetra que o trouxe ao mundo. Bastante prolífico, escreveu mais de 50 romances, 350 contos e dezenas de peças de teatro e roteiros de filmes. Ele nasceu em uma família de sete filhos, que seguia rigidamente os preceitos da educação islâmica. Na infância foi um assíduo leitor das obras clássicas da literatura, o primeiro sinal de qual seria seu destino na vida. Com apenas sete anos de idade presenciou, da janela de sua casa, os conflitos da Revolução Egípcia de 1919, a qual levou à independência, em 1922, da então colônia britânica. As imagens de pessoas sendo mortas em ambos os lados o acompanharam, como uma sombra, ao longo de toda a existência. Mahfouz estudou Filosofia na Universidade do Cairo, mas, logo após a graduação, resolveu tornar-se escritor profissional. Sábia decisão. Após alguns anos trabalhando como jornalista, ele ingressou no Ministério da Cultura, onde ocupou várias posições burocráticas, até que foi nomeado como o responsável pela indústria cinematográfica egípcia. Cabe destacar que dezenas de suas obras se transformaram em filmes no universo da cinematografia árabe. No mundo ocidental a película mais conhecida, baseada em um livro seu, é o filme mexicano “O beco dos milagres” (El callejón de los milagros), com a atriz Salma Hayek (1966-) no elenco. Mahfouz se casou um pouco tardiamente, aos 43 anos, sob a alegação de que uma vida matrimonial prejudicaria seu futuro como escritor (Será?). Desse enlace resultou o nascimento de duas filhas.
Sua obra mais conhecida é o conjunto de livros intitulado “Trilogia do Cairo”, publicados de 1956 a 1957. Eles podem ser encontrados em tradução para o português (publicações da Editora Record): Parte 1: “Entre dois palácios” (Palace of Walk); Parte 2: “O Palácio do Desejo” (Palace of Desire) e Parte 3: “O Jardim do Passado” (Sugar street). Os livros retratam a difícil vida dos moradores nos subúrbios do Cairo. Os belos títulos das três obras são todos nomes reais de ruas. No entanto, o livro que alavancaria o nome de Mahfouz para o reconhecimento no cenário internacional foi o romance “Filhos do nosso bairro” (Children of Gabelawi, 1959), o qual descreve a vida dos descendentes de uma poderosa família que havia construído um palácio no isolamento do deserto egípcio. As disputas, invejas, alegrias e traições são apresentadas de forma magistral pela pena inspirada de Mahfouz. A seleção dos cem melhores livros de todos os tempos, organizada pelo conceituado periódico inglês The Guardian inclui essa obra-prima de Mahfouz. Curiosamente, o livro foi proibido no Egito e na maioria dos países árabes, sob acusação de conter “retratos alegóricos de Deus”, o que é proibido na fé islâmica. Anos depois um clérigo muçulmano indicou que os livros de Mahfouz eram todos uma “blasfêmia”, o que levou, em 1994, a que um fundamentalista islâmico o esfaqueasse no pescoço. Embora Mahfouz tenha sobrevivido, o golpe afetou fortemente sua capacidade de escrever. O autor do atentado foi condenado à morte.
Em 1988, ao receber o Prêmio Nobel, Mahfouz não pôde ir a Estocolmo devido a graves problemas de saúde. Na verdade, isso deve ter sido um alívio para o contemplado, pois ele afirmava que “sempre detestara viajar”. O presidente do Egito na época, Hosni Mubarak, recusou-se a cumprimentar o primeiro, e até agora único, árabe a ganhar o prêmio magno da literatura.
A língua latina (1)
O latim é um idioma indo-europeu do ramo itálico. Ele foi a base de uma ampla lista de línguas denominadas românicas ou neolatinas, todas elas derivadas do chamado latim vulgar ou coloquial, que era aquele utilizado pela população, em contraste com o latim clássico, empregado na escrita e obrigatório nos documentos oficiais. Até hoje o latim é a língua da Igreja Católica para finalidade de alguns ritos e nos usos burocráticos, sendo o idioma oficial no minúsculo Estado do Vaticano (Santa Sé), localizado dentro da cidade de Roma e ocupando a área de 0,44 km2. Ali existe o único caixa eletrônico do mundo com instruções de uso em latim.
O nome do idioma se refere à sua origem geográfica, ou seja, a região histórica do Lácio (latim: Latium, italiano: Lazio) na Itália Central, onde fica a capital Roma. O latim foi a língua oficial da República Romana (509-27 a.C.) e do Império Romano (27 a.C. a 395). Ele continuou a ser utilizado na Idade Média e até o século XIX como o idioma dos acadêmicos e filósofos, principalmente nas áreas das Ciências e do Direito, além de ter se constituído na língua franca (língua de comunicação) no mundo ocidental por mais de mil anos. O alfabeto latino, derivado do etrusco e do grego, estes por sua vez originários do alfabeto fenício, é o mais utilizado no mundo atual. Acredita-se que o latim tenha sido trazido para a Península Itálica nos séculos IX e VIII a. C, passando então a sofrer uma forte influência do etrusco (idioma extinto, não indo-europeu, falado no norte da Itália). O latim era ainda a língua litúrgica utilizada nos ofícios religiosos da Igreja Católica até a época do concílio Vaticano II (1962-65), quando foi substituído pelos diversos idiomas locais.
Na sequência de Posts do Site literaturaeidiomas.com foram apresentadas as línguas românicas mais relevantes. Contudo, para os idiomas português, espanhol, francês e italiano, não foi feito o detalhamento de suas características léxicas (uso de palavras) e sintáticas (estudo dos elementos de uma frase) por se julgar que o conhecimento desses idiomas já se encontra bastante disseminado, sendo assim de fácil acesso ao leitor interessado. As línguas românicas abordadas no Site foram:
- falada em Portugal: mirandês (Post 26);
- faladas na Espanha: catalão (29 e 30), galego (31 e 32), basco (33 e 34), asturiano (35 e 36), aragonês e aranês (37);
- faladas na França: occitano (38 e39), valão e picardo (40), normando (41), loreno e borgonhês (42), corso (43), alsaciano (44);
- faladas na Itália: introdução (51), emiliano-romanhol e friulano (52), ladino-dolomítico e liguriano (53), lombardo e piemontês (54), sardo e siciliano (55), vêneto (56);
- falada na Suiça: romanche (69 e 70);
- faladas na Romênia e Moldávia: romeno e moldavo (71 e 72).
(continua no próximo Post)
Os variados nomes da fruta laranja
Sendo uma das frutas mais populares em todo o mundo, não custa dar uma olhada nos diversos grupos de nomes com os quais ela é representada. A origem do nome em português e em diversas outras línguas indo-europeias vem do sânscrito naranga, que significa “onze fragrâncias.” Daí evoluiu para narang em persa e para narandja em árabe. Neste grupo tem-se: orange (inglês), orange (francês, com a mesma grafia do inglês, mas pronúncia diferente), naranja (espanhol), arancia (italiano), oranssi (finlandês), narancs (húngaro), naranča (croata, pronúncia “narantcha”), наранча (sérvio, mesma pronúncia do croata).
Um outro agrupamento tem como origem a expressão “maçã da China”, já que este foi um dos países onde primeiramente se conheceu a laranja: Apfelsine (alemão), apelsin (sueco), apelsini (letão), appelsin (dinamarquês e norueguês), апельсин (russo, pronúncia “apelsin”). Outro conjunto é formado com base na raiz pomer-, de maçã: pomarańcza (polonês), pomeranč (tcheco), pomaranč (eslovaco), помаранча (ucraniano, pronúncia “pomarantcha”). Finalmente existem os nomes com a raiz de Portugal, que foi o país que introduziu a laranja na Europa: portocálá (romeno), портокал (búlgaro, pronúncia “portokal”), портокаλι (grego, pronúncia “portokali”), portakal (turco).
Frase para sobremesa: Celebremos Mahfouz: 1) Você consegue saber se um homem é inteligente pelas suas respostas e se um homem é sábio pelas suas perguntas. 2) É uma aflição muito angustiante ter um coração sentimental e uma mente crítica.
Bom descanso!