Escritores que ganharam o Prêmio Nobel de Literatura.
1985: Claude Simon (1913-2005): O escritor, filho de pais franceses, nasceu na cidade de Antananarivo, capital da ilha africana de Madagascar, na época ainda uma colônia francesa. O pai morreu em 1914, logo no início da Primeira Guerra Mundial e a mãe faleceu de câncer dez anos depois, quando a família vivia na cidade de Perpignan, localizada no sul da França. Em 1931 Simon começa a estudar pintura e fotografia, distrações que o acompanhariam pelo restante da vida. Com 23 anos de idade parte para Barcelona no objetivo de lutar ao lado dos republicanos na Guerra Civil Espanhola. Esta experiência é descrita em uma de suas obras mais conhecidas, Le palace, 1962. Dois anos depois, já de volta à França, começa a escrever seu primeiro livro “O trapaceiro” (Le tricheur), que só seria publicado em 1945. Convocado pelo exército francês, ele luta na Segunda Guerra Mundial, torna-se prisioneiro dos alemães e consegue escapar de um campo de concentração na região da Saxônia (Alemanha), juntando-se em seguida à Resistência Francesa. Após a guerra, já possuidor de uma satisfatória condição financeira, Simon passa a se dedicar à vinicultura no sul do país. Seus três próximos livros (La corde raide, 1947, Gulliver, 1952 e Le Sacre du Printemps, 1954) ele considerava como preparatórios, tendo rejeitado os convites para reedições posteriores. Simon só encontra o estilo que lhe agradava (sem ser o definitivo) em 1957 com o livro Le vent. Cabe destacar que essa busca pela melhor forma de redação fazia parte do movimento Nouveau Roman, ao qual ele aderiu intensamente. Trata-se de um estilo experimental – longe dos modelos clássicos de escrita – no qual não existe nem a caracterização precisa dos personagens e tampouco a esperada sequência de começo, meio e fim. Foi cultivado por escritores como Franz Kafka (1883-1924), James Joyce (1882-1941) e Albert Camus (1913-60), todos eles consagrados pela crítica, mas nenhum deles tendo ganhado o Prêmio Nobel de Literatura. Simon reconhecia a marcante influência recebida também de William Faulkner (1897-1962), principalmente com relação às descontinuidades cronológicas das narrativas. O leitor acostumado a romances mais ortodoxos deve se preparar para poder extrair a fruição dessas obras menos convencionais. O maior expoente do movimento Nouveau Roman foi o escritor e cineasta francês Alain Robe-Grillet, responsável pelo roteiro do aclamado filme “O ano passado em Marienbad” (L’année derniére a Marienbad), dirigido por Alain Resnais (1922-2014) e agraciado com o Leão de Ouro no Festival de Veneza em 1961.
A concessão do Prêmio Nobel a Claude Simon foi recebida com bastante surpresa pela crítica especializada, já que ele era um escritor relativamente pouco conhecido na Europa e mesmo na França. A maioria de suas obras tem um claro componente autobiográfico, notadamente o último livro, “O bonde” (Le tramway, 2001) em que o leitor recebe um lírico afluxo de memórias da infância do autor, quando ele tomava diariamente o bonde que, em curto trajeto de 15 minutos, ligava a cidade de Perpignam à praia. Merece registro, no âmbito da conhecida dificuldade de publicação por parte de novos autores, a brincadeira – ou ensaio, se quiserem uma maior formalidade – feita por um amigo de Simon. Ele produziu cópias das 50 primeiras páginas do livro “Le Palace” e as enviou para 19 editoras francesas, obviamente sob pseudônimo, e sem revelar que se tratava de um livro já publicado em 1962. Na ocasião deste experimento, Simon já havia sido laureado com o Nobel. Do conjunto de editoras, 12 recusaram a obra, alegando uma redação confusa, com frases muito longas, e as outras sete sequer responderam.
A outra língua da Suiça: o romanche (continuação)
A diferença de termos entre os cinco dialetos do romanche ponde ser constatada na grafia da palavra “casa”: casa (Sursilvano), tgea (Sutsilvano), tgesa (Suvmirano), chesa (Pùter), chasa (Vallader) e chasa (Grischun, a linguagem unificada). O romanche é a única língua românica em que o discurso indireto é formado no modo subjuntivo (“ele diz que esteja doente”), embora tal construção seja frequente em alguns idiomas germânicos (alemão, por exemplo). Uma outra característica, encontrada apenas no dialeto Sursilvano, é o emprego da mesma partícula se para todos os pronomes reflexivos. Em português soaria como: “eu se lavo, tu se lavas, ele se lava, nós se lavamos, vós se lavais, eles se lavam.” De longe, pode lembrar alguns traços da gíria brasileira. Todos os dialetos romanches usam e abusam de enálages (transposição da função gramatical, como, por exemplo, o uso do adjetivo no lugar do advérbio, como em fuja rápido, ao invés de rapidamente). Trata-se de uma figura de linguagem comum no português, francês e italiano, mas rara nos outros idiomas românicos.
Os dialetos da língua romanche, todos eles em risco de extinção, são ensinados nas escolas primárias do cantão dos Grisões. Além disso, existem jornais que trazem, diariamente, artigos em cada um dos cinco dialetos. No ano de 2018 foi lançado o primeiro filme comercial falado em romanche (sursilvano), intitulado Amur senza fin, selecionado para apresentação nos festivais de cinema de Locarno (Suiça) e Toronto (Canadá).
Em todos os dialetos do romanche existem dois gêneros (masculino e feminino) e dois números (singular e plural). A pluralização dos vocábulos é feita mediante a adição de “S” ao fim da palavra. Como seria muito cansativo, para mim e para o leitor, apresentarmos palavras e expressões em cada um dos dialetos do romanche, incluindo a língua unificada, vamos nos ater à variante mais falada, que é o Sursilvano.
Artigos definidos: il/la, ila/las. Pronomes pessoais: jau, ti, el/ella, nus, vus, els/ellas. Vejam algumas palavras muito semelhantes ao português (na fonética os dialetos do romanche lembram mais a língua italiana): maun (mão), paun (pão), rouda (roda), fil (fio), hoz (hoje), lev (leve), miel (mel), casa (casa), canzun (canção). A palavra mais conhecida, festiva e alegre é exatamente Allegra, que significa “Olá.” Outros exemplos: Bien di (Bom dia), Grazia (obrigado), Per plaschair (por favor), Perdunai (desculpe), A revair ou A pli tard (até logo), Jau na chapesch betg (não entendo), Jeu carezel tei (eu te amo). Números de 1 a 10: in/ina, dus/duas, trais, quatter, tschintg, sis, set, otg, nov, diesch.
Etimologia de alguns elementos químicos (2)
Enxofre (lat. sulfur), cloro (gr. chloros, verde), arsênio (gr. arsenikós, viril, forte, em alusão ao poder tóxico deste elemento; ou do persa arsen, ouro, devido à cor dourada dos compostos de arsênio), cromo (gr. khroma, cor), manganês (it. maganese, magnésia negra), ferro (lat. ferrum), cobalto (alemão Kobold, duende das minas que roubava a prata, deixando em seu lugar o cobalto, que é menos valioso), origem semelhante para o níquel (alemão Kupfernickel, gênio enganador, mais exatamente um palavrão proferido pelos mineiros, ao descobrirem que confundiam níquel com cobre, este último mais valioso), cobre (lat. cuprum, proveniente de Kypros, nome grego da ilha de Chipre, onde foram descobertas as primeiras jazidas deste metal), zinco (alemão zink ou lat. zincum), selênio (gr. selene, lua), bromo (gr. brômos, odor infecto), chumbo (lat. plumbum).
Frase para sobremesa: O destino guia quem o aceita, arrasta quem o recusa (Cleantos de Assos, séc. III a. C.)
Até a próxima!