Escritores que ganharam o Prêmio Nobel de Literatura.
1984: Jaroslav Seifert (1901-86): o poeta Seifert é, até agora, o único representante do idioma tcheco no rol dos ganhadores do Nobel de Literatura. Nascido em Praga, na época parte do Império Austro-Húngaro, veio a falecer na mesma cidade. Na infância, ele ajudava o pai comerciante trabalhando como menino de recados, o que o levou a conhecer bastante bem a região em que vivia. Quando Seifert tinha 16 anos de idade ocorreu a Revolução Russa de 1917. Entusiasmado com os princípios defendidos pelos bolcheviques, ele se filiou ao Partido Social-Democrata Tcheco, que foi o embrião do Partido Comunista. Seifert abandonou os estudos secundários e passou a atuar como jornalista. Na sua primeira coleção de poemas, publicada em 1921, defendia abertamente a revolução proletária. Ele continuou a colaborar com diversos jornais e revistas comunistas, sendo o editor principal de algumas delas. Em 1929 assinou um manifesto contra a influência exercida pelo stalinismo na condução da política da então Tchecoslováquia, o que provocou sua expulsão do partido comunista. Nas décadas de 1930 e 40 continuou a atuar como jornalista e, a partir de 1949, quando foi impedido de exercer a profissão, resolveu se dedicar somente à literatura, criando poemas fortes, mas ao mesmo tempo plenos de lirismo, simplicidade e suavidade. Ele encontrava tempo para se dedicar também à redação de livros infantis, quase sempre encomendados por editoras estrangeiras. Ao final da década de 1960, Seifert presidiu a União Nacional de Escritores por dois anos. Quando foi contemplado com o Nobel – o que mereceu apenas uma curta nota na imprensa tcheca – ele já estava com uma saúde frágil, o que o impediu de comparecer à premiação em Estocolmo, sendo então representado por sua filha. Visto com maus olhos pelo governo do país, seu funeral contou com a intensa presença de agentes secretos (será que algum deles já tinha lido pelo menos um de seus belos poemas?)
A outra língua da Suiça: o romanche
É de amplo conhecimento que a Suiça, o país neutro por excelência na história do mundo, possui quatro idiomas oficiais: alemão (aproximadamente 62% da população), francês (23%), italiano (8%) e o romanche (em torno de 0,5%). Para fechar a conta, existem outras línguas, obviamente não oficiais, que possuem um número de falantes superior ao do romanche, como é o caso do espanhol, português, croata e albanês. O romanche só foi aprovado como a quarta língua oficial da Suiça após um plebiscito realizado em 1938 (a Suiça é o país dos plebiscitos ou referendos ou, simplesmente, consultas) com a maciça votação de 93% dos habitantes como favoráveis à entrada do irmão caçula. Vamos agora apresentar as principais características do idioma romanche, certamente um dos mais curiosos no acervo linguístico do planeta. Trata-se de uma língua românica do ramo ocidental, derivada do latim vulgar falado pelos romanos que ocuparam a região há 2.000 anos. De início, vale destacar que o romanche, na sua essência, não é propriamente um idioma. Mas como assim? Lembrem-se de que comentei que a língua era muito curiosa, correto? O romanche é a designação dada a um agrupamento de dialetos (a maior parte deles não mutuamente inteligíveis) falados no Sudeste da Suiça, no cantão dos Grisões (Graubünden). Este cantão, que só foi incorporado ao país no começo do século XIX, é o único na Suiça estabelecido como trilíngue (alemão, italiano e romanche). Estima-se que o número de falantes de algum dos dialetos do romanche oscile entre 50.000 e 70.000 pessoas.
E quais são esses dialetos? Sursilvano, Sutsilvano, Surmirano, Pùter e Vallader. Estes dois últimos pertencem ao grupo ladino do reto-romano, o qual, muitas vezes, é confundido com o romanche. Na verdade, o reto-romano engloba o ladino (Post 53), o friulano (Post 52) e o próprio romanche. É interessante observar que a superfície do país dedicada ao idioma romanche chega a ser maior do que aquela ocupada pela língua italiana. O fato é que o relevo montanhoso no Sudeste da Suiça fez com que diversas populações ficassem isoladas, levando à formação de zonas de transição em uma verdadeira colcha de retalhos.
Tal miscelânea de dialetos mais ou menos aparentados, mas pouco comunicáveis, levou o governo a adotar o que, provavelmente, consiste no primeiro caso mundial (não sabemos se será o último) da criação, em 1982, de uma forma padronizada da língua, a qual não é o idioma materno de ninguém, sendo assim quase só usada na versão escrita. Este idioma novato recebeu o nome de Romantsch Grishun. A última palavra é o nome do cantão dos Grisões em romanche. Na prática, a vida flui da seguinte forma: qualquer cidadão residente na região pode enviar demandas, protocolos, sugestões às autoridades locais em qualquer um dos cinco dialetos, mas as respostas oficiais são sempre redigidas no idioma padronizado, algo assim como uma língua artificial. De fato, uma maneira muito engenhosa de se lidar com o problema.
Há um episódio, relativo ao uso dos cinco dialetos, que mais parece uma anedota. Em 1956 o Banco Nacional da Suiça, ao lançar uma nova série de notas, sugeriu que a grafia do nome do banco fosse escolhida entre o Sursilvano (dialeto falado por mais de 50% da população do cantão) e o Vallender. As grafias seriam as seguintes, respectivamente: Banca nazionala svizra e Banca naziunala svizzra. Como não houve acordo, optou-se por inserir o nome do banco no idioma italiano. Vinte anos mais tarde, quando se lançou uma série adicional de bilhetes, optou-se, da forma mais salomônica possível, por se “criar” uma grafia que fosse o meio-termo entre os dois dialetos: Banca naziunala svizra. Parece jogo dos 7 erros, confiram se tiverem disposição.
(continua no próximo Post)
Etimologia de alguns elementos químicos (1)
Hidrogênio (gr. hydor, água + genes, gerador, do verbo gignomai, nascer), oxigênio (gr. oksus, agudo, pontudo, ácido), nitrogênio (gr. nítron, natrão, i.e., carbonato de sódio hidratado); em Portugal e na França é adotada a forma alternativa azoto e azote, respectivamente (gr. a, indica negativa ou ausência + zoé, vida); o íon amônio e os nomes dele derivados, provêm do deus egípcio Amon, o chamado deus-sol, já que as primeiras descobertas e preparações destes compostos foram feitas nas proximidades do templo que homenageava esta divindade; boro (do lat. borax, por sua vez do ár. bauraq, que veio do persa bourah; o persa é uma língua indo-européia, o que não é o caso do árabe), carbono (lat. carbo, carvão), flúor (lat. fluere, correr, escoar, fluir), sódio (lat. sodium, por sua vez do ár. suaad, planta de cujas cinzas se extrai o carbonato de sódio), magnésio (gr. mágnes, ímã), alumínio (lat. alúmen, pedra-ume), sílica (lat. silex, seixo, pedra), fósforo (gr. phos, luz + phoros, o que conduz).
(continua no próximo Post)
Frase para sobremesa: Segue um excerto do cativante poema “Vi apenas uma vez” de autoria de Seifert (tradução de Aleksandar Jovanovic): …O inferno, conhecemos, está em toda parte e caminha sobre duas pernas. E o paraíso? Talvez o paraíso nada mais seja além de um sorriso por muito tempo esperado e lábios que murmuram o nosso nome. E aquele frágil instante fabuloso quando depressa podemos esquecer-nos do inferno.
Bom descanso!