Escritores que ganharam o Prêmio Nobel de Literatura.
1983: William Golding (1911-93): a escolha do escritor inglês Sir William Gerald Golding para o Prêmio Nobel de Literatura foi uma das mais inesperadas e controversas da história da premiação. Não que ele fosse desconhecido no meio literário, mas os analistas entendiam que havia nomes mais relevantes a serem laureados. Golding nasceu em uma pequena cidade na região da Cornualha (Cornwall), sendo, portanto, falante do idioma córnico (v. Post 47), além naturalmente do inglês. Também aqui, a exemplo de Garcia Márquez (v. Post anterior), houve a influência familiar (no caso, a mãe) no relato de histórias sombrias sobre fantasmas e superstições, cujo efeito sobre a criança, muito mais do que provocar medo, era excitar a fértil imaginação de um futuro escritor. Golding nasceu na casa da avó materna, que, seguindo-se o costume regional de se dar nome às moradias, era conhecida como Karenza, que significa “amor” em córnico. Bom presságio. Ele era filho de um professor de Ciências, o que, possivelmente, o inspirou a estudar Ciências Naturais na Universidade de Oxford. Na Segunda Guerra Mundial se engajou na Marinha britânica, tendo inclusive participado do desembarque das forças na Normandia, no que foi conhecido como o dia D (6/6/1944). Golding foi também músico, ator e professor de inglês. Até que resolveu escrever um livro. No rol dos ganhadores do Nobel, nunca houve uma explosão de sucesso tão intensa em uma primeira obra publicada. O livro “O Senhor das Moscas” (Lord of the Flies, 1954) se transformou em um campeão de vendas, além de receber duas filmagens britânicas: em 1963, dirigido por Peter Brook (1925-2022) e em 1990 com a direção de Harry Hook (1960-), ambos contando com a participação de Golding como roteirista. O romance aborda as aventuras (e desventuras) de um grupo de garotos presos em uma ilha após um naufrágio. Cardápio perfeito para a exploração das relações sociais, dos jogos do poder, medos, traições, disputas e tudo o mais que possa fazer parte do gênero humano. Uma curiosidade, muito marcante para quem gosta de publicar livros, é que na sua sétima tentativa em busca de editoras, o leitor-beta (pessoa contratada pela editora para fazer a primeira leitura da obra; considera-se que o leitor-alfa seja o próprio autor) emitiu o juízo (que, pelo menos, deve ter sido sincero), de que o livro era “absolutamente idiota, um monte de lixo”. O editor, por motivos nunca claramente compreendidos, resolveu publicar o primeiro livro de um autor desconhecido. E foi essa a obra que pavimentou o caminho de Golding para o Prêmio Nobel.
Três anos antes de sua premiação no Nobel, Golding foi contemplado com o Prêmio Man Booker pelo livro “Ritos de passagem” (Rites of Passage), o qual explora a tensão surgida entre passageiros e tripulantes em uma viagem de navio à Austrália. As parábolas sobre a fragilidade da condição humana são um tema recorrente em suas obras. Em 1988 ele recebeu a comenda de Cavalheiro Britânico (Knight Bachelor), passando a utilizar o respeitado título de Sir. No aspecto pessoal, Golding teve dois filhos e uma discreta vida familiar, conturbada, no entanto, por frequentes episódios de alcoolismo, que o levaram a ficar 12 anos sem escrever (1967-79). Impressionado pelos estudos do psiquiatra suiço Carl Jung (1875-1961) ele manteve, desde 1971, um registro diário sobre os seus sonhos. Golding tinha como companheiro de caminhadas o cientista britânico James Lovelock (1919-2022), criador da Hipótese de Gaia, a qual sugere que a Terra funcione ao modo de um sistema autorregulado. Como se sabe, Gaia, na mitologia grega, é a personificação do planeta Terra. Conforme relato de ambos os amigos, foi Golding quem propôs a adoção do nome de Gaia. Esses são os frutos de andanças descontraídas e em boa companhia.
As línguas judaicas
Apresentaremos aqui as características das duas principais línguas judaicas, o iídiche e o ladino. O idioma hebraico será abordado em um Post futuro.
A língua iídiche
Na língua portuguesa existem as grafias de iídiche (a mais recomendada) ou de ídiche. Nesse idioma a língua é conhecida como yidish. Trata-se de uma língua germânica inicialmente escrita com caracteres hebraicos. Na atualidade é usada também a versão no alfabeto latino. A base do idioma, utilizado por aproximadamente três milhões de pessoas, é o vocabulário alemão, notadamente aquele do século XIV, com inserções do hebraico, do aramaico e de línguas eslavas. Ele é o idioma utilizado pelos judeus Ashkenazi (ou asquenaze – a palavra significa Alemanha em hebraico) vale dizer, aqueles originários da Europa central e oriental. O iídiche é extensamente usado nos EUA (50% do número total de falantes), em Israel, Rússia, Ucrânia e diversos outros países. No entanto, tem-se observado uma queda na população de usuários do idioma, principalmente após a Segunda Guerra Mundial. A existência de uma língua iídiche normatizada não impede a ocorrência de muitos dialetos regionais. Nos EUA, por exemplo, os judeus asquenaze utilizam o iídiche como língua de grupo, ao passo que o hebraico é destinado às atividades religiosas e o inglês para a comunicação com os não-judeus. A forma escrita com o alfabeto latino teve de contar com a introdução de vogais, dado que o hebraico, assim como outros idiomas semíticos (a exemplo do árabe) é um idioma consonantal, ou seja, as vogais não são registradas.
A seguir são apresentadas algumas expressões. Para aqueles que dominam a língua alemã existe uma grande facilidade de compreensão: Gutn morgn (bom dia), Zay gezunt (até logo), Vi geyt es? (Como vai?), Vi heystu (como você se chama?), Zayt moykhl (desculpe), A dank (obrigado), Bite (por favor), Ikh farshtey nisht (não entendo), Ikh hob dikh lib (eu te amo). Números de 1 a 10: eins, tsvey, dray, fir, finf, zeks, zibn, akht, nayn, tsen. Dias da semana: Montik, Dinstik, Mitvokh, Donershtik, Fraytik, Shabes, Zuntik.
A língua ladina
Também conhecido como judeu-espanhol (Djudeo-Espanyol), o ladino judeu deve ser diferenciado do ladino-dolomita (língua falada no nordeste da Itália) e do ladino suíço, que é uma variação da língua romanche. No Post 53 já foi feita uma abordagem sobre o tema. Os judeus expulsos da Península Ibérica (em 1492 da Espanha e em 1496 de Portugal) migraram, em sua maior parte, para a região europeia dos Bálcãs, notadamente Bulgária, Romênia, as repúblicas da antiga Iugoslávia, Turquia e Grécia. Uma parcela menor se acomodou no litoral de Marrocos, onde o dialeto é conhecido como Haquetia (do árabe haka – contar). Estes judeus, conhecidos como sefarditas (de Sefarad– nome da Espanha em hebraico) levaram consigo o idioma espanhol medieval, o qual foi sendo acrescido de empréstimos do búlgaro, servo-croata, turco, hebraico, grego e italiano. Ao ouvir o idioma, os falantes de línguas latinas têm a clara impressão de estar escutando espanhol, mesclado com algumas palavras e expressões desconhecidas. Atualmente estima-se em aproximadamente 120.000 o número de falantes do ladino. A língua, que era inicialmente escrita apenas com o alfabeto hebraico, passou posteriormente a ser redigida também no alfabeto latino. Na verdade, o ladino apresenta uma proximidade maior com o galego e o catalão do que com o espanhol. Devido ao natural envelhecimento e morte das gerações mais velhas e à assimilação apenas parcial do idioma pelos jovens, observa-se uma gradual diminuição no número de falantes, a qual, em médio prazo, poderia até levar à extinção do idioma. Contudo, esforços têm sido feitos, principalmente nos EUA e em Israel para a revitalização da língua ladina. É interessante observar que a palavra espanhola Diós (deus) transforma-se em Dio em ladino, retirando-se assim a letra “s” de um falso plural para reforçar o caráter monoteísta da religião judaica.
Os pronomes pessoais são: yo, tu, él/ella, mosotros, vosotros, ellos/ellas. Não existe no ladino o pronome de tratamento Usted. Pode-se notar a transformação da consoante espanhola “N” no “M” do ladino. Assim, nuevo (espanhol) é muevo (ladino). A lista de expressões a seguir dispensa tradução: De vez en kwando, Buenos diyas, Buenas tardes, Buenas noches, Komo estash?, Komo te yamas?, Donde sos?, Si/No, No entyendo, Ekskuza, Adyo, Por favor, Grasyas, Te amo. Números de 1 a 10: uno, dos, trez, kuatro, sinko, sesh, syete, ocho, mueve, dyez. Dias da semana: Lunes, Martes, Miercoles, Djueves, Viernes, Shabat, Alhad (este de origem árabe).
Moscas, pássaros e coelhos
- Matar dois coelhos de uma só cajadada;
- Inglês: Kill two birds with one stone (matar dois pássaros com uma só pedra);
- Francês: Faire d’une pierre deux coups (dois golpes com uma só pedra);
- Alemão: Zwei Fliegen mit einer Klappe schlagen (matar duas moscas com um só golpe);
- Espanhol: Matar dos pájaros de un tiro;
- Italiano: Prendere due piccioni con una fava (pegar dois pombos com uma pedra);
- Russo: ОДНИМ УДАРОМ ДВУХ ЗАЙЦЕВ УБИТЬ(adnim udárom dvukh zaitsiev ubiti) (matar dois coelhos de um só golpe);
- Polonês: Upiec dwie pieczenie na jednym ogniu (assar dois pedaços de carne em um só fogo). Esta é a versão menos sangrenta da famosa expressão.
Frase para sobremesa: Não procure o prazer em todas as partes, mas esteja sempre pronto a encontrá-lo (John Ruskin, 1819-1900).
Até a próxima!