Escritores que ganharam o Prêmio Nobel de Literatura.
1982: Gabriel Garcia Márquez (1927-2014): O escritor colombiano Garcia Márquez foi um dos expoentes do chamado Realismo Mágico na literatura latino-americana. Sua maestria se reflete tanto na construção de elaborados romances quanto na redação de contos de grande apelo popular. Nascido na cidade de Aracataca (região norte do país), em uma família de 11 filhos, tendo um pai farmacêutico, Márquez foi criado pelos avós maternos, dado que seus pais haviam se mudado para Barranquilla. Na infância ele costumava ouvir da avó relatos fantásticos, plenos de mistérios e superstições, que foram moldando sua cabeça na direção das histórias mágicas (obrigado, avós). Na adolescência, após ler o livro “A Metamorfose” de Franz Kafka (1883-1924), no qual é descrita a transformação de um homem em um inseto, Márquez passou a entender que era permitida na literatura a “criação de situações impossíveis”. A semente começara a germinar.
Aos 20 anos de idade ele se muda para Bogotá para iniciar o curso superior de Direito, que é abandonado pouco tempo depois. Sua verdadeira vocação era o Jornalismo. Ele se transfere então para Cartagena de las Indias e começa a trabalhar como periodista em diversos jornais. Em 1955 Márquez publica seu primeiro livro: “A revoada” (La Hojarasca), que teve apenas um contido sucesso. Ele continuou a escrever e publicar regularmente, agora já atuando como correspondente internacional na Europa (a partir de 1958) e em Nova Iorque (a partir de 1961). Devido ao seu forte posicionamento político de esquerda, Márquez é convidado a se retirar dos EUA, quando então escolhe o México como sua segunda pátria, aquela em que ficará até o resto da vida. Suas obras cada vez mais abordavam – às vezes de forma direta, em outros momentos com o recurso da fantasia – as questões políticas e sociais na América Latina, aí se inserindo também um de seus temas favoritos, que é a solidão. E foi no ano da graça de 1967 que Márquez atingiu um estrondoso sucesso internacional com o livro que seria sua obra-prima, na opinião de muitos analistas: “Cem anos de solidão” (Cien Años de Soledad), a vigorosa história de uma família por sete gerações. Motivado pela resposta favorável do público e da crítica, Márquez continua escrevendo e publicando, no total foram mais de 30 obras. Seu último grande livro foi “O amor nos tempos do cólera” (El amor en los tiempos del cólera, 1985), que alguns consideram como sendo sua obra magna. Ele aborda um triângulo amoroso que perdurou por mais de 50 anos. Em 2002 Márquez publica uma autobiografia “Viver para contar” (Vivir para contarla), o glorioso fechamento de uma majestosa carreira literária.
Márquez era um artista apaixonado pela sétima arte, tanto que foi estudante de cinema em Roma em 1950. Mais tarde, em 1986, fundou em Cuba uma escola de Cinema e Televisão. Oito de seus livros foram transformados em filme, mas não “Os cem anos de solidão”, talvez pela dificuldade no roteiro de uma obra tão complexa. Seu filho mais velho, Rodrigo Garcia (1959-) é um cineasta que vive nos EUA. Nos seus últimos anos de vida Gabriel Garcia Márquez – o Gabo para os amigos – iniciou um angustiante processo de demência e perda de memória, vindo a falecer em 2014 de pneumonia.
A língua neerlandesa (4)
A língua africâner
Vamos agora dar um gigantesco salto até o continente africano, mais precisamente na sua região Sul (África do Sul, Namíbia, Botsuana). Lá encontramos o idioma africâner (afrikaans), falado por aproximadamente 16 milhões de pessoas. Ele é derivado do neerlandês antigo, devido à presença de muitos colonos oriundos dos atuais Países Baixos e Bélgica. Como as línguas são mesmo seres vivos – disso não temos qualquer dúvida – o africâner foi se modificando devido ao isolamento físico dos seus falantes e à inevitável influência de línguas e dialetos africanos, além de alguns idiomas asiáticos, como o malaio. Até o início do século XX o africâner era considerado como um dialeto do neerlandês. Mas a criança foi crescendo, criou barba e bigode e assumiu uma aparência distinta daquela dos seus pais. Em torno de 40 % da população da África do Sul entende o idioma, cuja distribuição étnica é aproximadamente homogênea entre brancos e negros. O africâner é mutuamente inteligível com o neerlandês na forma escrita, já na comunicação verbal a situação não é tão simples. Considera-se que a rota de compreensão seja mais fácil no sentido de que o falante de neerlandês pode entender melhor o africâner do que no caminho inverso (algo semelhante ocorre entre brasileiros e falantes do espanhol).
A gramática do africâner, que atualmente é umas 11 línguas oficiais da África do Sul (veremos todas elas em um Post futuro) pode ser considerada como a mais simples dentre todas as línguas indo-europeias. Ela possui apenas um artigo definido (die), que não é flexionado (como no inglês the). Os adjetivos também não são flexionados em gênero e número. Os substantivos não apresentam gênero, havendo tão somente distinção de número. Os verbos não se conjugam em pessoa, número e modo, com os tempos verbais, não flexionados, sendo indicados por construções perifrásticas (frases explicativas). Além disso, as consoantes mudas não são escritas. A letra “z”, tão comum no neerlandês, não existe no africâner, sendo substituída pelo “s”. Assim o nome da África do Sul, que em neerlandês é Zuid-Afrika, transforma-se em Suid-Afrika no africâner. A influência do idioma malaio pode ser comprovada na palavra “banana”: pisang em malaio e piesang em africâner.
Algumas expressões: Goiemôre (bom dia), Dankie (obrigado), Asseblief (por favor), Ekskuus (desculpe), Ek verstaan nie (não entendo), Ek het jou lief (eu te amo). Números de 1 a 10: een, twee, drie, vier, vyf, ses, sewe, ag, nege, tien (muito semelhantes ao neerlandês, alguns são até idênticos). Dias da semana: Maandag, Dinsdag, Woensdag, Donderdag (até aqui todos idênticos ao neerlandês), Vrijdag, Saterdag, Sondag.
A língua sranan (ou sranan tongo)
Trata-se do idioma falado como língua franca (língua de comunicação) no Suriname (antiga Guiana Holandesa), cujo único idioma oficial é o neerlandês. O sranan é também conhecido como Taki-taki (origem depreciativa vinda do inglês Talk-talk). A base para formação da língua sranan, por motivos históricos veio do inglês, contando, em seguida, com a influência do neerlandês e até mesmo do português (p. ex. “saber” é sabi e “pequeno” é pikin). O idioma tem forma escrita desde o século XVIII, contudo a ortografia oficial só foi definida em 1986. Estima-se que 550.000 habitantes do Suriname falem o idioma, a maior parte como língua nativa e a outra como segundo língua. O segundo verso do Hino Nacional do Suriname é em língua sranan, o restante em neerlandês. Se alguém tiver a curiosidade de saber em qual idioma são cantados os hinos nacionais em países multilíngues, a resposta é simples: em todos eles. Assim, por exemplo, o hino belga, começa em francês, vai para o alemão e depois o flamengo. O hino suíço possui quatro versões oficiais: alemão, francês, italiano e romanche.
Algumas expressões em sranan: Grantangi (obrigado), Fa waka (como vai?), números: wan, tu, dri, fo, feifi, siksi, seibi, aiti, neigi, tin. No mínimo curioso, não é mesmo?
E a tal da concordância verbal? (3)
- Uso de ou: no singular, se houver exclusão: O Flamengo ou o Vasco ganhará o jogo. No plural, se não houver exclusão: O aluno ou o professor podem fazer a inscrição.
- Uso de porcentagem: com o especificador no singular: 50% do eleitorado votou…; com o especificador no plural: O tribunal anunciou que 1% dos eleitores votaram em branco.
- Uso de que: Não fui eu que sujei a parede. Não fomos nós que sujaram a parede.
- Uso de quem: Não foram eles quem sujou a parede.
Frase para sobremesa: Vamos a duas frases do Gabo. Embora a primeira delas seja muito conhecida, vale a pena relembrá-la: 1) A vida não é a que a gente viveu e sim a que a gente recorda e como recorda para contá-la. 2) O segredo de uma velhice agradável consiste apenas na assinatura de um honroso pacto com a solidão.
Bom descanso!