Escritores que ganharam o Prêmio Nobel de Literatura.
1979: Odysséas Elýtis (1911-96): Depois do Nobel recebido pelo poeta Giorgos Seferis em 1963, chegara o momento de outra poeta grego, Odysseas Elýtis, ser galardoado com o prêmio máximo da literatura. Odysseas nasceu na capital da ilha de Creta – a cidade de Heraklion – que também foi berço do escritor Nikos Kazantzakis, o qual muitos críticos consideram como sendo uma das maiores injustiças na história dos vencedores do Nobel de Literatura. Vamos talvez designar como tropeço, pois a palavra “injustiça” seria muito forte nesse contexto. Nikos é o escritor grego contemporâneo mais conhecido e traduzido, tendo alcançado fama internacional com o livro Zorba, o Grego (1946). Em algumas traduções o título da obra é um pouco mais longo: Vida e Proezas de Aléxis Zorbás. Trata-se da marcante história de amizade entre um empresário e um operário, que tem a vida carregada de mistérios. A obra foi filmada por Michael Cacoyanis (1922-2011) em 1964, tendo no elenco a memorável trinca formada por Anthony Quinn (1915-2001), Alan Bates (1934-2003) e a estrela grega Irene Papas (1926-2022), contando ainda com a famosíssima trilha sonora de Mikis Theodorákis (1925-2021). Voltemos ao Odysséas.
Seu nome de batismo era Odysséas Alepoudhélis. Existem naturalmente diversas razões para que um escritor adote pseudônimo, o que, como já vimos, é comum no rol dos laureados com o Nobel. No presente caso, o motivo para o pseudônimo com mudança do sobrenome, foi peculiar: o esforço para se desvincular o nome do poeta de uma famosa marca de sabonetes fabricados por seu pai. Quando ainda pequeno, sua família mudou-se para Atenas, onde ele cursou as escolas primária e secundária, logrando posteriormente passar no rigoroso teste para ingresso na Universidade de Atenas, com o objetivo de estudar Direito. Contudo, ele ficou apenas um ano no curso superior, já que as sedutoras mãos das musas da poesia o conduziram, aos 18 anos, para se dedicar exclusivamente a escrever poemas. Um pouco antes, aos 16 anos de idade, durante um processo de recuperação da tuberculose, ele havia avidamente lido grande parte da poesia grega. As oportunidades existem, mas há que saber aproveitá-las. Em 1935 ele publica seu primeiro poema em uma revista, contando com o apoio do laureado Giorgos Seferis. Em 1937, quando prestava o serviço militar obrigatório, ficou gravemente enfermo de tifo. Após a recuperação ocupou diversos cargos administrativos em emissoras de rádio e em teatros estatais. No período de 1948-52 passou a viver em Paris, entrando em contato com a pulsante vida intelectual de artistas franceses e estrangeiros. Um pouco antes ele já havia iniciado a redação de Axion Esti (Louvado seja), um longo poema que aborda três mil anos da história grega. A obra, a produção magna de Odysséas, foi escrita durante 14 anos, tendo sido publicada em 1959. O já mencionado compositor Mikis Theodorákis, musicou o poema sinfônico, bastante conhecido pela população grega e apresentado frequentemente em casas de espetáculo. Após o golpe militar na Grécia, Odysséas exilou-se na sua velha Paris de 1969 a 1972. Mesmo antes do recebimento do Nobel ele já era um renomado intelectual, com frequentes viagens ao exterior para apresentação de palestras. Elýtis faleceu aos 85 anos de idade em Atenas, vítima de um ataque cardíaco.
A língua neerlandesa (1)
De início, vamos esclarecer uma certa confusão existente entre os nomes de Holanda e de Países Baixos. Qual o correto? Obviamente a segunda opção, isso devido a um mero enfoque de geometria espacial: a Holanda faz parte dos Países Baixos, ou seja, está nele contida. Historicamente, talvez por simplicidade de nomenclatura, o mundo se acostumou com o uso do gentílico holandês, pois muitos dos navios que singravam os mares do planeta eram originários da província “Holanda.”Atualmente os Países Baixos (nome apropriado, pois cerca de um quarto de sua superfície situa-se abaixo do nível do mar) possuem doze províncias, sendo que duas delas, Holanda do Norte e Holanda do Sul, concentram as cidades mais importantes do país. Contudo, para complicar um pouco mais, em épocas passadas os Países Baixos eram formados pelas terras planas nas regiões onde hoje se encontram os atuais Países Baixos, a Bélgica e o Luxemburgo. Nos tempos de hoje o “reino dos Países Baixos” é formado ainda pela presença do Suriname (antiga Guiana Holandesa) e das dependências caribenhas de Aruba, Curaçao (sim, vem do português coração) e a curiosa ilha de Sint- Maarten, a qual divide sua superfície insular com a dependência francesa de Saint-Martin. Apenas por dever de ofício – longe de mim querer colocar lenha na portentosa fogueira – existem ainda os chamados “Países Baixos do Caribe”, formados por três “municípios” que se tornaram parcialmente independentes após a dissolução das Antilhas Neerlandesas em 2010: Bonaire, Saba e Santo Eustáquio. Para desatar o nó e finalizar esta introdução, que já começa a ficar um pouco longa, vamos resolver o imbróglio: a Holanda só existe como uma parte (muito importante, é verdade) dos Países Baixos (Nederland). O próprio governo e as entidades de turismo se esforçam nos últimos anos para impor a nomenclatura correta, inclusive nas abreviaturas das seleções nacionais em torneios esportivos. Por via de consequência, o nome oficial do idioma, o qual será usado neste Post, é neerlandês (Nederlands). Ufa, agora podemos continuar.
A língua neerlandesa, obviamente do grupo indo-europeu, pertence ao ramo ocidental da família germânica, como o inglês e o alemão. Aliás, existe popularmente o conceito de que o neerlandês, falado por mais de 25 milhões de pessoas, tem uma estrutura e vocabulário que o posicionam entre o alemão e o inglês. Essa comparação é muito pobre para designar as características do idioma. De maneira mais formal, considera-se que existam cinco dialetos do neerlandês, ao lado de dezenas de subdialetos, com sutis diferenças de pronúncia. A língua neerlandesa, cuja forma escrita remonta ao século IX, apresenta uma estrutura gramatical (não a fonética) semelhante à do alemão (v. Post 57). Algumas peculiaridades do neerlandês são: existência de apenas dois gêneros (o alemão possui três), que são o chamado gênero comum (engloba o masculino e o feminino) e o gênero neutro. O artigo definido do gênero comum é de, tanto para o singular quanto para o plural. No gênero neutro tem-se: het (singular) e de (plural). A ordem das palavras, da mesma forma que no alemão é SVO nas frases regulares e SOV nas orações subordinadas.Uma grande facilidade no estudo do neerlandês, e que não ocorre para o alemão, é a ausência de declinação nos nomes e adjetivos. Declináveis são apenas os pronomes. Isto facilita enormemente a vida do esforçado aluno. Ademais, no neerlandês não existe o caso genitivo (relações de posse), o qual é formado pela inserção de preposições. Por exemplo, “a casa do meu amigo” em neerlandês é Het huis van mijn vriend, ao passo que, no alemão, entra-se com o caso genitivo: Das Haus meines Freundes. O neerlandês, assim como o alemão, possui o artifício dos nomes compostos, podendo conferir uma enorme quilometragem a determinadas uniões de substantivos.
Algumas noções de fonética: o dígrafo oe é pronunciado como “u”; ou soa como “au”, por exemplo Gouda, a cidade do famoso queijo, é falada como “khauda”, já que a letra “g” tem pronúncia gutural (“kh”). A letra u tem o som do “u” francês ou do “ü” alemão.
(continua no próximo Post)
Concordância do verbo ser (2)
- Com o predicativo sendo nome de pessoa ou pronome pessoal, o verbo ser concorda com o predicativo: As esperanças do time era o Beto.
- Na presença de “muito, pouco, bastante, demais…” o verbo ser fica no singular: Mil reais é muito por este trabalho. Duas lutas será pouco para ele ganhar experiência.
Frase para sobremesa: Sugiro homenagearmos Odysséas Elýtis, trazendo dois pensamentos seus sobre a morte: 1) Escrevo para que a morte não tenha a última palavra. 2) Toda grande música é, no fundo, um menosprezo pela morte.
Até a próxima!