Post-63

Escritores que ganharam o Prêmio Nobel de Literatura.

1978: Isaac Bashevis Singer (1902-1991): nascido na Polônia, filho e neto de rabinos hassídicos (corrente mística do judaísmo, em reação ao judaísmo legalista e intelectualizado), com o registro de Icek Hersz Zynger. Ele resolveu adotar um nome literário, no qual introduziu uma homenagem à mãe Bathsheba, ou seja, Baschevis (filho de Bathsheba). Destaca-se ser uma raridade entre escritores a deferência ao nome materno, em comparação com o lado paterno. Na adolescência frequentou um seminário para rabinos, desistiu e, inspirado pela presença de um irmão e irmã escritores, resolveu seguir a carreira literária. Seu primeiro conto, escrito em 1925, foi premiado por um jornal judaico-polonês. As obras de Singer, em sua maioria contos, se destacam pela escrita simples e pela abordagem transcendental do significado da vida, do mundo, da sociedade e do ser humano, ou seja, um assunto inesgotável. Em 1935 Singer emigrou para os EUA, para trabalhar como jornalista, lá tendo vivido pelo resto de seus dias. E como são curiosas as histórias de família: enquanto ele emigrava para a América, a Terra Prometida, a esposa e a filha preferiram se abrigar em Moscou e depois seguirem para outra terra prometida, que era a Palestina. Singer só voltou a reencontrar a família em 1955, isto é, vinte anos depois. O que o teria levado a permanecer tanto tempo afastado de mulher e filha?

Singer sempre escreveu em iídiche (a língua das comunidades judaicas da Europa Central e Oriental), sua única e exclusiva língua literária. Esse idioma será apresentado em um Post futuro. Obviamente, para divulgação dos livros eles teriam de ser traduzidos, pelo menos, para o inglês, o que era feito pelo próprio Singer. Alguns críticos apontam para a existência de algumas sensíveis diferenças entre as versões em iídiche e inglês, o que parecia não afetar muito a tranquilidade de Singer, cidadão pacato, vegetariano e, também, autor de diversos livros infantis. Antes de receber o Nobel em 1978, ele já havia sido laureado com o National Book Award, um prestigiado prêmio norte-americano. Por outro lado, ele foi o único estadunidense galardoado com o Nobel de Literatura a não ter recebido o Prêmio Pullitzer.

Sua produção literária foi vasta, tendo sido sempre recebida com muito sucesso por parte do público e da crítica. Como contista, Singer reconhece ter sido bastante influenciado por dois gigantes: o russo Anton Chekhov (1860-1904) e o francês Guy de Maupassant (1850-93). De forma curiosa, ambos morreram aproximadamente com a mesma idade, o primeiro de tuberculose e o segundo de sífilis. Deve ser dado merecido destaque ao romance Shosha (1978), a belíssima história de amor entre um personagem e a frágil amiga de infância. Logo no início de sua carreira de escritor, Singer publicou “A família Moskat” (The Family Moskat,1950), reconhecidamente influenciado pela obra Buddenbrooks de Thomas Mann (Nobel em 1929, v.  Post 18). Desse autor, Singer havia traduzido para o iídiche as mais de mil páginas da obra-prima “A montanha mágica” (Der Zauberberg). Outra produção bastante popular de Singer é o livro Yentl (1975), o qual relata a história de uma mulher que finge ser homem, com o intuito de estudar em uma escola rabínica. A trama foi transformada em 1983 no filme homônimo, dirigido e estrelado pela cantora Barbra Streisand (1942-) e que levou o Oscar de melhor trilha sonora. Outra película baseada em livro de Singer é “O mágico de Lublin” (The magician of Lublin, 1960), levado à tela em 1979 pelo diretor Menahem Golan (1929-2014), tendo o ator Alan Arkin (1934-) no papel-título. Singer faleceu no condado de Miami, aos 87 anos de idade, após ter sofrido uma série de ataques cardíacos.  

A língua luxemburguesa

O idioma luxemburguês (lëtzebuergesch) pertence ao ramo germânico das línguas indo-europeias. Ele é uma das três línguas oficiais do país, juntamente com o alemão e o francês. Quase a totalidade dos habitantes de Luxemburgo já nascem, portanto, como indivíduos trilíngues. Cabe destacar que cerca de 40% da população é de origem estrangeira, com o predomínio de portugueses (20%). A movimentada história do país justifica esta curiosa situação de domínios linguísticos. A área hoje ocupada pelo pequeno país era habitada na Antiguidade por povos celtas. Em 963 o conde Siegfried construiu um castelo sobre um penhasco. Aliás, essa é a etimologia do nome Luxemburgo: Lucilinburugh (pequena fortaleza, no idioma local da época). No ano de 1354 Carlos IV, imperador romano-germânico, confere a denominação de Ducado ao país, ainda em formação. Em 1684 Luxemburgo é conquistado pela França, entregue à Espanha apenas 13 anos depois e em 1713 passa a ser domínio da dinastia dos Habsburgos (alemães). Na sequência Napoleão, no seu movimento de conquista de uma parte da Europa, incorpora Luxemburgo ao território francês. Em 1815, após a derrota militar de Napoleão, o Congresso de Viena confirma a anexação pela França, mas, em compensação, elevando-o à condição de Grão-Ducado, a qual permanece até os dias presentes. Do território do país, com área bem superior à atual, a maior parte é então integrada à Bélgica em 1839 e a parcela menor passa a compor o Grão-Ducado de Luxemburgo, possuindo dinastia própria desde 1890.   

A língua luxemburguesa sempre fora considerada como um dialeto do alemão, acrescido de um amplo vocabulário de palavras francesas. No entanto, quando em 1984 o luxemburguês se tornou uma das línguas oficiais de Luxemburgo, a situação mudou de figura, ou seja, um dialeto que é falado em todo o território do país, por toda a população, com gramática e ortografia consolidadas, não podia ser apenas um dialeto, sendo agora considerado como um idioma. Contudo, a miscelânea de línguas continua a formar um quadro bastante peculiar: nas escolas, enquanto a garotada usa o luxemburguês na comunicação verbal, prefere-se ainda o alemão na comunicação escrita. Quando se atinge o nível superior é o francês que toma a dianteira. A UNESCO considera o idioma luxemburguês como uma das línguas europeias em perigo de extinção. Na verdade, tal classificação não traz surpresas, pois trata-se de um simples exercício matemático: se a população de luxemburgueses praticamente não cresce, enquanto a de estrangeiros (liderados pelos portugueses) aumenta em nível exponencial, a clara tendência é a de que o idioma luxemburguês vá paulatinamente diminuindo em número de falantes, até se chegar ao seu triste desaparecimento. Na prática, medidas adequadas vêm sendo tomadas para impedir tal situação. Mesmo assim, existem políticos luxemburgueses (que podem ser vistos na Internet) defendendo a opinião de que o idioma local será brevemente substituído pelo francês. Aguardemos.

A gramática do luxemburguês guarda muitas semelhanças com a do alemão. No entanto o luxemburguês só possui três casos (nominativo, acusativo, dativo), sendo que o genitivo (relações de posse), presente no alemão, é substituído pelo dativo com a inserção de adjetivos possessivos. Ao contrário das outras línguas germânicas, como o inglês e o alemão, o comparativo dos adjetivos não sofre mudança por sufixos (p.ex. small → smaller), sendo usada uma partícula, como no português (belo → mais belo). A ordem das palavras na frase, à semelhança do alemão, é do tipo SOV (Sujeito + Objeto + Verbo). Portanto, o nosso tão familiar “João bebe leite” transforma-se em “João leite bebe.” Nada de assustador, pode até parecer poesia. Uma outra peculiaridade, essa só do luxemburguês, é a inserção de uma partícula ao se enunciar o nome da pessoa: “eu me chamo Juliana” passa a ser Ech sinn d’Juliana, no masculino Ech sinn de Felipe. Há algum charme na construção, concordam?     

Os pronomes pessoais são: ech, du, hien/hatt/si: masculino, feminino, neutro, mir, dir, si. Os números de 1 a 10 são muito fáceis: eent, zwee, dräi, véier, fënnef, sechs, siwen, aacht, néng, zéng, assim como os dias da semana: Méindeg, Dënschdeg, Mëttwoch, Donnerschdeg, Freideg, Samschdeg, Sonndeg. Algumas expressões: obrigado (Merci, grafia igual à do francês, mas a primeira sílaba é que é a tônica), bom dia (Gudde Moien), até logo (Äddi, mais simples impossível), não entendo (Ech verstinn nët), desculpe (Et deet mer wierklech leed, mais complicado impossível), por favor (Wann ech gelift), eu te amo (Ech hunn dech gär).  

Concordância do verbo ser (1)

Nem sempre é tão fácil como parece. Vejamos:

  • Quando não há sujeito, ele concorda com a palavra seguinte: Deve ser meio-dia e meia. Eram dez para as três.
  • Quando o sujeito está no singular e o predicativo no plural, a concordância é feita preferencialmente no plural: Tudo são hipóteses. O problema eram as chuvas. O resultado da pesquisa foram números assustadores.

Frase para sobremesa: Dois petiscos de Singer: 1) Se você vive dizendo que as coisas vão ficar ruins, tem boa chance de se tornar um profeta. 2) Não invento personagens porque o Todo-Poderoso já inventou milhões…Exatamente como aqueles especialistas em impressões digitais não criam as impressões, mas aprendem a lê-las.

Bom descanso!

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