Post-62

Escritores que ganharam o Prêmio Nobel de Literatura.

1977: Vicente Aleixandre (1898-1984): o nome completo do poeta espanhol (sim, existe mesmo um “i” intruso no sobrenome) é Vicente Pio Marcelino Cirilo Aleixandre y Merlo, o que, por si só, lembra um verso. E foi isso que Vicente faz em quase toda a sua vida: escrever poesias. Originário de uma família da burguesia espanhola, nascido em Sevilha, ele mudou-se na infância para a cidade andaluza de Málaga. Em muitos de seus poemas ele se refere a ela como “O Paraíso”, tamanha a qualidade e quantidade das boas lembranças da época infantil. Não deixa de ser uma bela homenagem. Seu pai era Engenheiro Civil, contratado pela Companhia de Estradas de Ferro da Espanha. Na adolescência Aleixandre foi morar em Madrid para cursar Direito. Foi nessa cidade que ele viveu pelo resto da vida. Com 19 anos de idade se inicia sua paixão pela poesia. Poucos anos depois a saúde começa a decair, principalmente devido à tuberculose, a qual evoluiu para uma nefrite e a consequente extração de um rim em 1932. Nesta data ele já havia publicado seus primeiros poemas em uma revista literária. O primeiro livro, “Âmbito” (Ámbito, 1928), também consistia em uma coletânea de poemas. Já destacamos que ele é um dos poucos premiados do Nobel que se dedicou unicamente a um gênero de escrita: a poesia. Nada de contos, novelas, romances, peças de teatro. Toda a sua produção literária era de poesia. Na fase madura ele até arriscou a escrever poesias em prosa, com versos livres e componentes surrealistas (expressão espontânea vinda do inconsciente). Mas, mesmo assim, era poesia. Um dos seus livros mais conhecidos, e o único traduzido para o português, leva o título de “A destruição ou o amor” (La destrucción o el amor, 1932, o mesmo ano do rim). Já comentamos em outros Posts a inconveniência de ser ler poesias traduzidas. Se o tradutor quiser manter a métrica e as rimas, ele tem de ser muito ousado e competente. Se a tradução for livre, perde-se em impacto. Como Aleixandre quase não foi traduzido para a nossa língua (o que é bom e ruim ao mesmo tempo), ele se torna um dos premiados do Nobel menos conhecidos no Brasil.   

Aleixandre mostra em suas obras a clara influência do gongorismo (estilo literário barroco, hermético, com abundância de metáforas e figuras de linguagem, nome derivado do poeta espanhol Luis de Gongora y Argote, 1561-1627). Esta é uma das características da chamada Geração de 27, composta por um grupo de poetas espanhóis de vanguarda (pioneirismo em ideias e conceitos, versos livres), a qual, além de Aleixandre, abrigou poetas de grande fama na Espanha, como Jorge Guillén (1893-1984), Dámaso Alonso (1898-1990), Pedro Salinas (1891-1951) e o aclamado Federico Garcia Lorca (1898-1936), assassinado durante a Guerra Civil Espanhola (1936-9). Durante esse conflito, quase todos os poetas da Geração de 27 partiram para o exílio voluntário. Aleixandre permaneceu na Espanha, tendo de escapar das forças nacionalistas do general Franco. Para tal ele teve o auxílio de Pablo Neruda (Nobel em 1971), que, na época, era cônsul do Chile na Espanha. A casa de Aleixandre foi destruída e suas obras proibidas no regime franquista. Na vida pessoal, um pouco controversa, ele era uma pessoa melancólica, não escondendo suas relações homoafetivas. Existe uma estátua do poeta na majestosa Plaza Mayor de Madrid, muito visitada pelos turistas. “Papai, quem é esse moço? – Não sei meu filho, deve ter sido algum político.”     

Outras línguas da Alemanha (VI)

O idioma frísio

Na verdade, existem diversas versões da família linguística anglo-frísia, as quais guardam muitas semelhanças com o idioma inglês. Tais variantes, que passam por processos de metaplasmos, ou seja, alterações fonéticas das palavras por adição, supressão ou modificação de sons, são faladas nos Países Baixos (majoritariamente) e em partes da Alemanha. Os primeiros registros da língua frísia remontam ao século XIII. Até o século XV o Frísio Antigo era falado e escrito, a partir daí a língua se manteve na forma oral, só voltando a ser utilizada em ambas as versões no século XVIII. Atualmente as variantes linguísticas são divididas em três grupos: o ocidental, concentrado na região da Frísia holandesa (Friesland em holandês, Fryslân em frísio), no norte do país, englobando cerca de 70 % dos falantes (470.000 indivíduos), o oriental falado em partes do estado da Saxônia na Alemanha (apenas 12.000 falantes) e o setentrional, encontrado na costa do estado alemão de Schleswig-Holstein e em ilhas adjacentes, cujo uso é restrito às gerações mais antigas. Não deixa de causar surpresa o fato de que essas variantes do frísio não são mutualmente inteligíveis, o que significa a existência de praticamente três línguas distintas dentro de um só idioma geral. Obviamente todos os falantes do frísio, não importa de qual variante, são sempre bilíngues, seja com o holandês ou com o alemão. Enquanto na Alemanha é dada uma atenção menor à revitalização da língua, nos Países Baixos foram criadas, desde o século XIX, sociedades para preservação do idioma. Em 1937 foi estabelecido o ensino opcional do frísio ocidental (Frisk) nas escolas primárias, em 1943 foi feita a primeira tradução da Bíblia para o frísio ocidental e em 1956 foi aprovado o uso da língua nas sessões dos tribunais. Existem versões do frísio neerlandês no Google Translate, no Facebook e até mesmo no aplicativo de trânsito Waze.  

Alguns exemplos de palavras e expressões no Frísio Ocidental: Goeie moarn (bom dia), Tankenwol (obrigado), Asjebleaft (por favor), Oant letter (até logo), Ik begryp net (não compreendo). Dias da semana: Moandei, Tiisdei, Woansdei, Tongersdei, Freed, Sneon, Snein.  Números de 1 a 10: ien, twa, trije, fjouwer, fiif, seis (uau, idêntico ao nosso, ótima oportunidade para pegadinhas no almoço de domingo), sân, acht, njoggen, tsien.

O idioma sórbico (ou sórbio)

Esta língua (em alemão: Sorbish) é a única de origem eslava falada na Europa Ocidental. O pequeno domínio geográfico do sórbico envolve parte do estado da Saxônia, na região histórica da Lusácia (Lausitz), sendo também utilizado em parte da Polônia, na região fronteiriça com a Alemanha. Embora falado por uma pequena população de 80.000 habitantes, o idioma comporta dois dialetos, razoavelmente distintos entre si: o chamado “alto sórbico” falado na região da Alta Lusácia(Oberlausitz), bastante próximo da língua polonesa, e o “baixo sórbico” falado na Baixa Lusácia (Niederlausitz), que se assemelha ao idioma tcheco

A região geográfica da Alta Lusácia está quase que totalmente inserida no estado alemão da Saxônia. Sua maior cidade é Görlitz, com cerca de 100.000 habitantes. Já a Baixa Lusátia tem grande parte do território inserida no estado de Brandemburgo, com destaque para a cidade de Cottbus (também 100.000 habitantes). Antes da reunificação da Alemanha, ocorrida em 1990, o governo da antiga Alemanha Oriental incentivava fortemente o ensino do sórbico nas escolas primárias. Atualmente, em nível superior, o sórbico pode ser estudado nas universidades de Leipzig e de Praga, existindo ainda um jornal diário, além de ocasionais programas de televisão em língua sórbica

A seguir listamos alguns exemplos de palavras em sórbico. Sem nenhum critério mais exato, a não ser a imponência do nome (também poderia ser a ordem alfabética), optamos por utilizar o vocabulário do Alto Sórbico: Bom dia (Dobre ranje), até logo (Bozemje), não entendo (ajerozumju), por favor (prošu), obrigado (dzakuju so). Números de 1 a 10: jedyn, dwaj, tro, štyrja, pjeco, šesco, sedmjo, wosmjo, dzewjeco, dzesaco.

As línguas eslavas serão apresentadas em uma série de Posts, que estão aguardando pacientemente na fila o nobre momento de entraram em cena. Poderíamos ter deixado o registro do sórbico para essa ocasião, no entanto julguei como sendo mais apropriado fecharmos aqui o conjunto das línguas faladas na Alemanha com a descrição desse peculiar idioma (como aliás, todos o são).     

São parecidos, mas podem confundir:

  • Embaixo (advérbio de lugar, p. ex. embaixo da mesa); em baixo (adjetivo, p.ex. em baixo tom de voz);
  • Enfim (advérbio de tempo, sinônimo de finalmente, p.ex. ela enfim chegou); em fim (no término, p.ex. em fim de festa…, aí completem como quiserem);
  • Baixar: é desta maneira que é escrito quando ele for verbo intransitivo, p.ex. a febre baixou, ou no sentido de “expedir” (baixar um decreto). Em todos os outros significados ele é sinônimo de abaixar (inclusive para designar o famigerado anglicismo “fazer download”).

Frase para sobremesa: Duas conhecidas frases de Louis Pasteur (1822-95), certamente um dos maiores gênios na história da humanidade: 1) Um pouco de ciência nos afasta de Deus, muito nos aproxima. 2) O acaso só favorece as mentes bem preparadas.

Até a próxima!

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