Post-61

Escritores que ganharam o Prêmio Nobel de Literatura.

1976: Saul Bellow (1915-2005): Nascido no Canadá, na província de Montreal, Solomon Bellows era de etnia judaica, filho de pais russos. Esta condição minoritária sempre o acompanhou, tanto na sua longa vida pessoal quanto na caracterização dos personagens de seus aclamados livros. É considerado como a expressão máxima do romance judeu-americano no pós-guerra, retratando habilmente a angústia dos imigrantes judeus nos EUA. Mudou-se na infância para Chicago, onde teve de interromper os estudos aos oito anos de idade, em decorrência de uma grave infecção respiratória. O tempo em que ficou acamado foi dedicado à leitura. Após ter finalizado o romance “A cabana do Pai Tomás” (Uncle Tom’s cabin), de Harriet Beecher Stowe (1811-96), ele informou à família sua decisão de ser escritor. E a promessa foi, de fato, cumprida. Na Universidade de Chicago estudou Antropologia e Sociologia, engajando-se posteriormente na Marinha Mercante dos EUA. Aos 26 anos de idade foi naturalizado cidadão estadunidense, regularizando assim sua situação legal no país, já que, na infância, se mudara de forma clandestina do Canadá. De tendência esquerdista, Saul resolveu visitar o político russo Leon Trotsky (1879-1940), que se encontrava exilado no México. Quando, finalmente, conseguiu chegar ao distrito de Coyacán, foi surpreendido pela notícia de que o líder soviético havia sido assassinado no dia anterior. Com uma bolsa de estudos da Fundação Guggenheim, Saul viveu dois anos em Paris. Foi nesse período em que ele escreveu seu primeiro grande sucesso literário: “As aventuras de Augie March (The adventures of Augie March, 1953). O livro, que recebeu o prêmio National Book Award de ficção em 1954, narra a vida do protagonista, nascido em um lar humilde de Chicago, da sua infância à maturidade. A obra compõe a lista da revista Time dos cem melhores livros em língua inglesa. Em 1964 foi publicado o aclamado romance Herzog, o qual, para muitos, seria sua obra-prima. Esta obra tece o retrato de um intelectual que discute o destino do ser humano por meio de cartas fictícias enviadas aos grandes filósofos da humanidade, tanto vivos quanto mortos. Outra produção sua de enorme impacto foi o romance “O legado de Humboldt” (Humboldt’s gift, 1975). No caso, Humboldt é o nome de um poeta imaginário norte-americano. O personagem principal é Charles Citrine, também escritor, que conduz uma vida medíocre e covarde, mas acaba sendo contemplado com o festejado Prêmio Pullitzer de Ficção. Como a vida costuma imitar a arte (talvez só em alguns momentos), o autor recebe o mesmo prêmio em 1976. Sem dúvida um ano glorioso, ao final do qual Bellow é laureado com o Nobel de Literatura, escolha essa possivelmente influenciada pela qualidade do citado romance. O denso livro (com mais de 500 páginas) foi traduzido para o português por Rubens Figueiredo (1956-), conhecido tradutor de obras do inglês e do russo. Com o nome consagrado no cenário literário mundial, Bellow passa a proferir palestras e a atuar como professor visitante de universidades nos EUA e na Europa. Sua via pessoal também foi movimentada, pois casou-se cinco vezes, gerando uma última filha quando tinha 84 anos de idade. 

Outras línguas da Alemanha (V)

O idioma suábio

A língua suábia (em alemão Schwäbisch) era falada na região histórica da Suábia (Schwaben), atualmente dividida entre os estados alemães da Baviera e de Baden-Württemberg (capital:Stuttgart). Poderíamos também designar essa última cidade como Estugarda, capital de Bade-Vurtenberga, conforme o fazem nossos patrícios portugueses. Outros exemplos são: Francoforte (para Frankfurt), Dresda (Dresden), Lípsia (Leipzig), Mogúncia (Mainz), Dusseldórfia (Düsseldorf), Monastério (Münster). Fora da Alemanha temos Irão, Moscovo, Gronelândia, Listenstaine, Amsterdão e tantas outras designações muito curiosas. Confesso que não me agradam tais propostas de se traduzir nomes geográficos, sinto que as palavras perdem um pouco da sua imponência e originalidade. Mas, vamos lá, cada povo com suas razões.

Não é nosso objetivo introduzir nos Posts como é a fonética de cada idioma (claro que poderíamos tentar anexar alguns links correspondentes, mas isso trairia a proposta de nossos breves capítulos). Espero que concordem comigo. Pois bem, os suábios (cerca de 800.000 falantes) possuem uma expressão verbal tão marcante, absolutamente distinta da prosódia do alemão, que, por isso mesmo, o idioma tornou-se motivo de piadas e zombarias por parte da população alemã, algo assim como nosso conceito depreciativo de “caipira”. Como eles também têm a fama de serem pão-duros (afirmação essa, obviamente, sem qualquer base lógica, nada mais que pura traquinagem), se diz que economizam até na articulação dos vocábulos. Assim a palavra Ich (eu) transforma-se em I, der (artigo masculino) vira dr e das (artigo neutro) passa a ser ds. A consoante “s”, antes de “p” e “t”, é pronunciada como sch, à semelhança do nosso sotaque carioca ou mesmo do português. Portanto, Fest (festival, banquete) soa como Fescht. São frequentes os episódios de metafonia (modificação do timbre de uma vogal): Schön (belo) vira schenn. Outra peculiaridade do suábio é alterar o “t” do alemão para “d”. Assim Tasche (bolsa) se transmuta em Dasch e Tag (dia) logicamente passa a ser Dag. O povo suábio (ou seja, o alemão de língua suábia) utiliza muitos apelidos e diminutivos, estes quase sempre terminados em “le”. Haus (casa) é Haisle, Mädchen (garota) só pode ser Mädle e Baum (árvore) se modifica para Baimle. O diacronismo (evolução histórica de uma língua) fez com que a conjugação da primeira pessoa do plural (nós) carregue consigo a desinência (sufixo flexionado) “ad”. Desta forma wir gehen (nós vamos) é mir gangad. Sim, como seria de se esperar existem três dialetos (alguns diriam subdialetos do suábio): Sudeste, Ocidental e Central. Algumas outras palavrinhas: Adeele (até logo), Guade Morga (bom dia). Uma saudação muito comum na Baviera e na Áustria é a expressão Grüss Gott (que Deus te saúde), no suábio Griass Godd. Destaca-se que não há uma uniformidade geral na ortografia do idioma suábio. Terminamos com algumas particularidades que desafiam as mentes dos linguistas: Erdbeere (morango, em alemão), na Suábia é Breschtling, enquanto Kartoffel (batata) é Krumbiere. É mesmo um idioma pleno de pequenas surpresas.    

A língua hunsriqueana

Pouco conhecido, mesmo dentro da Alemanha, o idioma hunsriqueano (Hunsrückish) tem seu nome derivado da região do Hunsrück, situada no sudeste da Alemanha, pertencente ao estado da Renânia-Palatinado (Rheinland-Pfalz). Seu interesse para o nosso país é bastante destacado, haja vista ser este o idioma da primeira grande leva de imigrantes que aqui aportaram a partir de 1824, se instalando nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. Com o passar do tempo o idioma foi incorporando numerosas palavras vindas do português, do espanhol e, até mesmo, do guarani (língua indígena falada no Paraguai). Algumas tentativas foram feitas para se padronizar a ortografia, facilitando assim a comunicação escrita entre os mais de três milhões de falantes. A verbalização do idioma é incompreensível tanto para o brasileiro não iniciado na sua prática, quanto para o alemão que se proponha a visitar as belas terras do sul do Brasil. Para este o primeiro sentimento será o da surpresa, seguido da indignação e, finalmente, da resignação. Assim funciona a Babel do nosso planeta.

Etimologias que confundem (2)

  • Aluno: na minha longa carreira docente escutei algumas vezes que o nome seria pejorativo, pois designaria alguém “sem luz” (“a”,partícula grega negativa e o termo latino lumen). Fiquem tranquilos caros alunos, isso é uma enorme (e falsa) fantasia. Aqui temos o verbo latino alere, que tem o sentido de “fazer aumentar, crescer, desenvolver”, de onde vem também a palavra “adolescente”.
  • Safado: o termo, no sentido de “libertino, devasso, furioso” provém do verbo safar (gastar pelo uso), particípio safado. Não existe, portanto, vinculação com a poetisa grega Safo (século VI a.C.), que vivia na ilha de Lesbos, conhecida como “local de amores depravados”, de onde se originou a palavra lésbica.  
  • Aguapé: por mais tentadora que seja a associação do nome desta planta aquática com o ambiente em que ela vive, temos de rechaçá-la. Também conhecida como gigoga, baronesa e jacinto d’água, essa macrófita se constitui em verdadeira praga ao cobrir o espelho d’água de rios e lagos. A origem da denominação é exclusiva do tupi-guarani: awa (redondo) e pewa (chato), devido ao fato de as folhas se assemelharem a um prato.

Frase para sobremesa: Duas pequenas porções de Saul Bellow: 1) Um homem é tão bom quanto o que ele ama. 2) Quando pedimos um conselho, estamos geralmente procurando um cúmplice.

Bom descanso!

Leave a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *