Escritores que ganharam o Prêmio Nobel de Literatura.
1974: Harry Martinson (1904-1978): da mesma forma que Eyvind Johson,também teve uma infância conturbada, perdendo o pai aos seis anos de idade (tuberculose) e sendo abandonado pela mãe, que se mudou para os EUA no ano seguinte. Harry foi então criado em um orfanato, do qual fugiu quando tinha 16 anos, para trabalhar como marinheiro em navios que levavam mercadorias para grande parte do mundo. Os principais destinos eram Índia e América do Sul. Consta que ele esteve por mais de uma vez no Brasil. Será que o garçom que, na movimentada área portuária do Rio de Janeiro, serviu algumas cervejas para aquele garoto com cara de viking, falando uma língua muito estranha,poderia imaginar que ali estaria um futuro ganhador do Prêmio Nobel? Muito menos o carcereiro que tomava conta do rapaz de 20 anos preso na Suécia como vagabundo de pequenos furtos. Harry escreveu os primeiros poemas em 1929, carregados de metáforas e de um pungente humanismo. O sucesso de crítica e público veio em 1935 com o romance autobiográfico “Flowering Nettle” (Urtiga florescente, em sueco Nässlorna blomma), o qual relata as dificuldades de vida na zona rural do país. Em 1948 ele volta a encantar os leitores com “The road to Klockrike” (Vägen till Klockrike). Contudo, sua obra mais conhecida é Aniara (1956), longo poema sobre uma nave espacial perdida no espaço. Na minha opinião trata-se de uma leitura difícil, de caráter distópico, plena de neologismos e metáforas. O próprio Martinson não informava qual teria sido a origem do título do livro. Várias propostas surgiram, dentre elas a de que o nome seria uma espécie de anagrama da partícula negativa grega “a”, seguida do símbolo químico do níquel (Ni), representando a terra, e do símbolo do gás argônio (Ar), homenageando o espaço. Não obstante o caráter fantasioso da hipótese, parece que essa era a que Martinson mais apreciava, embora sem nada confirmar. Ao final da vida, passando por sucessivas crises de depressão, certamente originadas das constantes críticas pelo favorecimento indevido no recebimento do Nobel, Martinson comete suicídio dentro de um hospital em Estocolmo rasgando o estômago com uma tesoura, ao triste estilo do harakiri japonês.
Línguas da Alemanha (III)
O idioma suíço-alemão
Aqui não se trata propriamente de um idioma, mas de uma mistura de dialetos alemânicos, ou seja, aqueles falados na Suiça e em regiões adjacentes ao país. Algumas variantes são muito diferentes entre si, não chegando a ser mutuamente inteligíveis. Para efeitos de uma comunicação escrita mais ampla é seguida a padronizaçãoque recebeu o nome de Schweitzerdütsch, isto é, suíço-alemão. No entanto, nas documentações oficiais é utilizado sempre o alemão clássico (Hochdeutsch). A Suiça é um país que possui três línguas oficiais: o alemão, utilizado por mais de 60 % da população, em segundo lugar o francês (cerca de 25% da população) e finalmente o italiano, usado por 10% dos habitantes. O restante é formado por pessoas e famílias que não empregam nenhuma dessas línguas na vida familiar, utilizando idiomas como o inglês, o português e o espanhol. Há ainda um quarto idioma suíço, o romanche ou reto-romano, falado por apenas 37.000 pessoas e que tem o status de língua oficial regional.Dedicaremos brevemente um Post a esse idioma. A pronúncia do Schweizerdütsch é, em vários aspectos, distinta daquela do alemão clássico. Ela é mais gutural, carregada e cantada, se assemelhando um pouco ao dialeto bávaro, do Sul da Alemanha, o qual veremos em um próximo Post. Comparativamente, para o francês e o italiano, as diferenças entre a fala suíça e a dos respectivos países são menos significativas. A Constituição Federal da Suiça determina a igualdade das línguas no país, havendo ainda a liberdade do cidadão para escolher o idioma a ser utilizado. É um belo exemplo de convivência harmônica no âmbito de um país quadrilíngue. Se vocês me perguntarem, por exemplo, em qual idioma é feita a comunicação entre os jogadores da seleção nacional de futebol, a resposta vem prontamente: em alemão.
Apenas como breve contribuição para se entender as diferenças entre o alemão e o alemão-suiço, vamos a alguns exemplos (as palavras são colocadas na ordem citada): nós (wir/mir), alemão (Deutsch/Dütsch), maçã (Apfel/Öpfel), como vai? (Wie geht’s/Wie goots), bom dia (Guten Morgen/Guete Morge), até logo (Aufwiedersehen/Uf Widerluege), não entendo (ich verstehe nicht/ich verstand nit), obrigado (Danke/Dangge), eu te amo (ich liebe Dich/ich liib Dich). É tudo bem parecido, mas diferente, não é mesmo?
O alemão da Áustria
Ao contrário do alemão falado na Suiça, a versão austríaca praticamente não apresenta diferenças gramaticais e ortográficas. O que existe, além das inevitáveis características fonéticas particulares, é o uso de algumas palavras distintas no alemão austríaco. Vejamos alguns exemplos (primeiro vem o nome em alemão e depois a versão austríaca): batata (Kartoffel/Erdapfel, ou seja, maçã da terra, de forma similar ao francês pomme de terre), damasco (Aprikose/Marille), panqueca, prato muito tradicional em ambos os países (Pfannkuchen/Palatschinke), tomate (Tomate/Paradeiser), pãozinho (Brötchen/Semmel), banheiro (Toilette/Klo), hospital (Krankenhaus/Spital), janeiro (Januar/Jänner), escada (Treppe/Stiege), até logo, de forma informal (Tschüss/Pfiatdi). Ocorrem também mudanças de gênero entre algumas palavras na Alemanha e na Áustria. Contudo, nos tempos mais recentes se observa uma gradual aproximação do dialeto austríaco em direção ao idioma alemão, principalmente entre as pessoas mais jovens. As facilidades de comunicação, alavancadas pela Internet, têm proporcionado o predomínio da versão mais forte do idioma em termos populacionais, que é a variante falada na Alemanha. Será que tal tendência permanecerá? Aguardemos.
Só uma letrinha … (II)
- Louça (produto de cerâmica), louçã (elegante, enfeitada);
- Surdir (emergir), surgir (aparecer);
- Fragueiro (infatigável, insensível), fagueiro (carinhoso, agradável);
- Dobar (rodopiar), dobrar (curvar, vergar);
- Concelho (divisão administrativa de um distrito), conselho (opinião, agrupamento):
- Aéreo (próprio do ar), éreo (da cor do bronze);
- Ascender (subir), acender (arder);
- Loro (correia), louro (de cor amarelada);
- Fâmula (criada, empregada), flâmula (bandeirinha);
- Paço (palácio), passo (marcha).
Frase para sobremesa: A ciência se compõe de erros que, por sua vez, são os passos até a verdade (Júlio Verne, 1828-1905).
Até a próxima!