Post-58

Escritores que ganharam o Prêmio Nobel de Literatura.

1974: Eyvind Johnson (1900-76) e Harry Martinson (1904-78): neste ano ocorreu uma premiação dupla, a última até o presente momento (2023). Os critérios para laurear dois escritores em um mesmo ano nunca foram satisfatoriamente explicados. A conclusão mais lógica seria a de se atender fortes demandas dos membros da Academia Sueca, justificativa essa que ainda julgamos como sendo muito fraca e inoportuna. Todavia, particularmente em 1974, havia outras indicações de grande peso, como o britânico Graham Greene (1904-91), o norte-americano Saul Bellow (1915-2005), que foi contemplado dois anos depois, e o favoritíssimo escritor russo Vladimir Nabokov (1899-1977), amplamente considerado como um dos maiores romancistas do século XX e que nunca chegou a ser galardoado com o cobiçado prêmio. No entanto, a maior controvérsia nesse movimentado ano de 1974 foi relativa ao fato de que ambos os laureados eram membros da Academia Sueca, ou seja, pertenciam à instituição responsável pela escolha do premiado com o Nobel de Literatura. A comunidade literária internacional reagiu com enorme perplexidade perante tal insólito fato. Pelo menos nos resta o consolo de que ambos os escritores premiados eram donos de um vasto currículo literário, sendo os principais representantes dos chamados “escritores proletários.”

Eyvind Johnson: originário de uma família de poucos recursos, Eyvind foi compelido a deixar a escola aos 13 anos de idade para se dedicar ao trabalho em diversas profissões, tais como serralheiro, projecionista de filmes e, mais tarde, motorista de caminhão. Em 1919 mudou-se para Estocolmo, passando a escrever artigos literários em jornais anarquistas. Seu primeiro sucesso de crítica foi o livro “Comment on a falling star” (Kommentar till ett stjärnfall), publicado em 1929.Na década de 1930 morou alguns anos na Alemanha e na França. É desse período a redação de quatro livros autobiográficos (1934-7), conhecidos sob o título de Romanen om Olof (O livro sobre Olof), muito populares entre os leitores suecos. Uma parte da série foi adaptada para o cinema no filme “Here is your life” (Här hard u ditt liv), lançado em 1966 sob a direção de Jan Troell (1931-). A propósito, Eyvind também foi responsável pelos roteiros de alguns poucos filmes. Alguns críticos consideram a trilogia de novelas Krillon (1941-3), as quais descrevem os acontecimentos na Suécia durante a guerra, como sendo sua melhor produção literária. Outro romance muito popular foi “Return to Ithaca” (Strändernas svall, 1946), o qual originou uma conhecida peça de teatro. Todas as obras de Eyvind refletem seu firme posicionamento contra as ditaduras, notadamente o nazismo e o fascismo. De 1947 a 49 ele viveu com a família na Suiça, morando em seguida na Inglaterra por um ano. Nesse período ele se dedicou à redação de novelas históricas.

Línguas da Alemanha (II)

Em continuidade à breve apresentação sobre os principais traços da língua alemã, gostaria de destacar uma das maiores dificuldades no aprendizado do idioma: a existência de três gêneros gramaticais, identificados pelos artigos masculino (der), feminino (die) e neutro (das). Até aí o susto é pequeno, basta aprendê-los, já cientes da ausência de uma lógica figurativa. Assim, por exemplo, “a menina” é do gênero neutro (das Mädchen), a romântica lua é masculina (der Mond) e o fulgurante sol é feminino (die Sonne). Como vocês observaram, os substantivos em alemão são todos escritos com inicial maiúscula. Mas onde estaria a dificuldade à qual me referi linhas atrás? Como em quase todas as línguas do mundo, também no alemão existem os chamados “casos”, que indicam a função das palavras, isto é, seu papel desempenhado dentro da frase. Uma brevíssima revisão dos principais casos foi apresentada no Post 34, quando abordamos a língua basca. Enquanto em português, francês, espanhol, inglês, italiano e tantos outros idiomas, os casos são construídos com a ajuda de simpáticas preposições, ou seja, não há modificação ortográfica nas palavras, em alemão, oh céus, os artigos e pronomes são declinados. Assim: caso nominativo “eu sou o homem” (Ich bin der Mann), acusativo “eu vejo o homem” (Ich sehe den Mann), dativo “eu dou o livro ao homem (Ich gebe das Buch dem Mann), genitivo “a casa do homem” (das Haus des Mannes), isso para ficarmos só nos artigos masculinos, já que o feminino e o neutro também possuem suas próprias declinações. Vale dizer, portanto, que, ao aprendermos uma palavra em alemão, devemos obrigatoriamente guardar também seu gênero, caso contrário nossa elocução será uma algaravia de sons mesclados sem um adequado nexo gramatical. Sabe-se que os interlocutores costumam sair correndo quando alguém lhes fala em um alemão eivado de erros.

Outra peculiaridade do idioma alemão é o fato de que, nas orações subordinadas, o verbo vai para a última posição. Uma provocação já tradicional é a de que, nas assembleias da ONU ou de outras organizações internacionais, providas de tradução simultânea, a delegação alemã é sempre a última a rir sobre alguma frase jocosa, isso depois que todo o auditório já emite longas gargalhadas de satisfação. Nas línguas germânicas os tempos verbais se resumem a exprimir o passado e o presente. E como fica o futuro? É uma construção que lança mão de verbos auxiliares (por exemplo no inglês I will sing, no alemão Ich werde singen), já que eles não possuem a graciosidade de “eu cantarei”, como é na nossa língua pátria. Uma tendência mundial, de consolidação cada vez mais forte, é o emprego do tempo presente como expressão do futuro (amanhã vou ao cinema no lugar de amanhã irei ao cinema). Por último, o alemão apresenta a curiosa faculdade de reunir palavras, o que torna a língua mais sintética e, por vezes, mais objetiva, haja vista o bom número de destacados filósofos oriundos de solo alemão. Os livros de ensino avançado do idioma costumam trazer o exemplo da tradução de “Capitão da sociedade da companhia de barcos a vapor do Danúbio”. Enquanto nosso idioma emprega 11 termos para a designação do conceito, o alemão consegue fazê-lo em um só termo: Donau/dampf/schiff/fahrts/gesellschafts/kapitän. Coloquei as barras apenas para indicar a separação dos vocábulos, obviamente o nome é escrito sem interrupções. Qualquer criança sabe pronunciá-lo. Tal malabarismo ocorre também com os números. Por exemplo 6.291 escrito por extenso é sechstausendzweihunderteinundneunzig. Em deferência aos leitores não vou registrar aqui números bem maiores e, consequentemente, muito mais extensos. No próximo Post comentaremos as principais características do alemão suíço e do alemão austríaco.    

Só uma letrinha … (I)

  • Indefesso (incansável), indefeso (desprotegido);
  • Impudente (sem pudor), imprudente (sem prudência);
  • Consócio (colega, companheiro), consórcio (associação, união);
  • Arredar (recuar, desviar), arrendar (conceder para uso provisório);
  • Lasso (fatigado, esgotado), laxo (frouxo, bambo), laço (nó corredio);
  • Assertar (afirmar), acertar (atingir o alvo);
  • Cadente (que cai), candente (ardendo em brasa);
  • Lavor (ocupação manual, ornato), labor (trabalho);
  • Facundo (eloquente), fecundo (produtivo);
  • Valido (protegido), válido (correto, valioso).

Frase para sobremesa: As fórmulas matemáticas não representam a natureza, mas sim o conhecimento que temos dela, Werner Heisenberg (1901-76)

Bom descanso!

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