Escritores que ganharam o Prêmio Nobel de Literatura.
1973: Patrick White (1912-90): Trata-se, até agora, do único cidadão australiano a ganhar o Nobel de Literatura. White, embora tenha nascido em Londres, era filho de pais australianos e para lá mudou-se aos seis meses de idade. Passou grande parte da sua infância morando em um apartamento junto com a irmã, situado próximo à residência dos pais. Por motivos nunca suficientemente esclarecidos, ele mantinha uma relação muito distante com os genitores. Com uma saúde frágil, teve uma grave asma aos quatro anos, o que prejudicou o início de sua vida escolar. De forma precoce começou a escrever peças de teatro aos dez anos de idade. Em 1924 retorna à Inglaterra para prosseguir os estudos, tendo constantes dificuldades para se adaptar à vida escolar. De volta à Austrália resolve trabalhar por dois anos como rancheiro. Resolve então regressar para a Inglaterra com o intuito de estudar Literatura Francesa e Alemã, época em que teve seu primeiro relacionamento homossexual. White nunca escondeu sua opção sexual, fato este que não chegou interferir no desenvolvimento da carreira de escritor. Ao entrar na Universidade de Cambridge ele publica sua primeira coleção de poemas. Em 1937, com o falecimento do pai, White herda uma elevada quantia de dinheiro, a qual lhe permite se dedicar tão somente à literatura. Em 1939 publica o romance Happy Valley, muito criticado na Austrália e bem acolhido na Inglaterra. Esta curiosa duplicidade de aceitação e rejeição ocorreria ainda com diversas obras do autor. Ao final da década de 1930 ele resolve se mudar para os EUA, de onde retorna alguns anos depois para participar da Segunda Guerra Mundial como agente de informação (nome mais elegante para um espião) da Royal Air Force inglesa. Nessa função ele passa a residir por curtas temporadas no Oriente Médio, Egito, Palestina e Grécia. Foi nesse último país que White conheceu um oficial do exército grego que seria seu companheiro pelo restante da vida. Alguns anos depois ambos se mudaram para a Austrália, onde White escreveu um de seus romances mais impactantes, a magnífica obra “A árvore do homem” (The tree of man, 1955), que é uma de suas poucas produções literárias traduzidas para o português. O livro retrata os dramas domésticos de uma família residente no remoto interior da Austrália, envolta por temores advindos de mitos e folclores. Esse romance tem presença costumeira nas listas de melhores obras do século. Tais difíceis hierarquizações de qualidade serão aqui comentadas, em um futuro que não deve estar muito longínquo. O sucesso literário, que já estava bem alavancado, foi claramente consolidado com o livro Voss (1957), o qual relata a vida de um explorador alemão (Johann Voss) que desapareceu no interior do país no século XIX. Poucos anos depois (1961) White publica mais um best-seller (Riders in the Chariot). Nessa época ele já estava consagrado como uma das maiores expressões literárias da língua inglesa. De temperamento arredio, absolutamente avesso a entrevistas, White passou a desenvolver uma nova faceta de sua personalidade: a recusa ao recebimento de prêmios literários. Exceção foi feita em 1973, quando lhe foi conferido o Prêmio Nobel de Literatura. Mesmo assim ele preferiu não comparecer a Estocolmo para a cerimônia de premiação, enviando em seu lugar um amigo pintor, sob a alegação – falsa em grande parte – de que passava por crises de saúde. Comenta-se que o livro Eye of the Storm, publicado neste mesmo ano de 1973, tenha se constituído na mola propulsora para a premiação. Esta obra, que relata os momentos finais de uma poderosa matriarca, foi transformada em filme em 2011, sob direção do australiano Fred Schepisi (1939-) e contando com a presença dos premiados atores Geoffrey Rush (1951-) e Charlotte Rampling (1946-), ele australiano, ela inglesa. Em 1979 um dos seus últimos livros (The Twyborn Affair) foi indicado como finalista do prestigiado prêmio Booker Prize. Seguindo a mesma toada, White solicitou a retirada da obra do concurso para que fosse dada oportunidade a escritores mais novos. Tal gesto, sujeito a interpretações variáveis, não deixa de conter fortes tintas de generosidade. Com a saúde já bastante deteriorada, White faleceu em Sydney em 1990.
Línguas da Alemanha (I)
O idioma alemão é um dos mais usados na Europa, estimando-se que seja a língua materna de mais de 100 milhões de pessoas. Ele é o idioma oficial na Alemanha, Áustria e Liechtenstein, tendo o caráter de cooficial (isto é, junto com outras línguas) na Suiça, Bélgica, Luxemburgo e na província do Tirol do Sul, situada no norte da Itália. Além disso existem minorias de fala alemã em diversos países europeus, também nos EUA, na Ásia (em Israel), América do Sul, notadamente no Brasil, Argentina e Chile, e até mesmo na África (Namíbia, que foi colônia alemã de 1890 a 1915 sob o nome de África do Sudoeste). O alemão pertence ao ramo germânico das línguas indo-europeias (grosso modo, aquelas derivadas do sânscrito, faladas por mais de três bilhões de pessoas), assim como também o inglês e o holandês.
O idioma alemão tem a característica de ser policêntrico, termo esse que designa o abrangente grupo de línguas que existem nas suas diversas versões, espalhadas por vários centros linguísticos. A maior parte das línguas do planeta, incluindo o nosso português, pertence a esse grupo. Por outro lado, os idiomas monocêntricos são aqueles que apresentam uma única versão padronizada, como é o caso do russo, japonês e islandês. Tais línguas não possuem dialetos e são faladas e escritas da mesma maneira em todos os territórios onde são encontradas.
Como uma parte da população brasileira já tem um razoável conhecimento da língua alemã, não vamos aqui esmiuçar seus complexos aspectos gramaticais, assim também como não o fizemos para o espanhol, francês, inglês e italiano. No entanto, o bom senso nos insta a fornecermos apenas alguns breves traços da língua alemã, para que o leitor que a desconheça possa se sentir mais à vontade nas apresentações dos próximos Posts. Como ocorre com qualquer idioma, seu desenvolvimento está fortemente vinculado aos aspectos históricos. Em alguma época da vida todos nós estudamos sobre a existência do Sacro Império Romano-Germânico (lembram-se, por exemplo, do imperador Carlos Magno?), de vida longa (do século IX até 1806), formado por um complexo de territórios multiétnicos na Europa Central que se agrupavam em principados condados, ducados e cidades livres. O isolamento físico de diversas regiões, provocado pela presença de rios, florestas e montanhas, facilitou naturalmente a eclosão e a fixação de muitos dialetos. O alemão era um deles. Foi só por ocasião da Reforma Protestante, ocorrida no século XVI, que o idioma alemão adquiriu sua primeira padronização devida à tradução da Bíblia para o alemão feita por Martinho Lutero (1483-1546), dando início à implantação do chamado “alemão clássico” (Hochdeutsch). Algumas décadas antes o também alemão Johannes Gutenberg (1400-68) havia inventado a prensa móvel, a qual facilitou a divulgação de muitos livros já escritos seguindo as orientações do alemão clássico. No entanto, a consolidação das primeiras regras gramaticais se deu apenas em 1860, enquanto a uniformização do sistema ortográfico chegou ainda mais tarde, em 1901, portanto após a unificação do Império Alemão, ocorrida em 1871. No próximo Post apresentaremos as principais peculiaridades gramaticais do idioma alemão.
Etimologias que confundem (1)
Daremos aqui alguns poucos exemplos de etimologias (origens de palavras) cuja explicação é distinta daquela conhecida pela população em geral. Como, em alguns casos, as etimologias ainda podem conter possíveis dúvidas, nos restringimos às fontes bibliográficas mais confiáveis, ou seja, os consagrados dicionários da língua portuguesa.
- Forró: a indicação mais precisa é a de que seja esquecida a tão popular informação de que o vocábulo seria uma adaptação da expressão inglesa for all (festas, abertas ao público, organizadas pelos norte-americanos no Recife durante o período da Segunda Guerra Mundial), proposta atraente, mas sem fundamentação lexicográfica. Uma origem mais plausível vem do nome “forrobodó”, este por sua vez derivado do francês faux-bourdon (falso zangão) por conta dos golpes de bombo na dança. Outra possibilidade de derivação é aquela do quimbundo (língua falada na região de Angola) fwofwo, confusão, folia.
- Enfezado: por mais que sejamos tentados a fazer a associação com uma pessoa nervosa devido ao acúmulo de fezes no intestino, deixemos tal fantasia de lado. A origem vem do adjetivo latino infensus, que significa irritado, furioso. Em português também temos o adjetivo “infenso” exatamente com essa conotação.
- Coitado: não há nenhuma relação com o substantivo “coito” (ato sexual); a palavra vem mesmo é do termo “coita”, que designa dor, aflição, sendo derivado do verbo latino cogere (empurrar, obrigar).
- Azulejo: essas belas plaquetas cerâmicas vidradas colhem sua origem do árabe az-zuleidj, que significa exatamente a definição dada no início da frase, portanto não há nada a ver com a cor azul.
Frase para sobremesa: uma singela homenagem ao idioma latino: Quod licet Jovi, non licet bovi (o que é permitido a Júpiter, não é permitido a um boi). Deixo as interpretações a cargo dos dignos leitores.
Bom descanso!