Escritores que ganharam o Prêmio Nobel de Literatura.
1968: Yasunari Kawabata (1899-1972): Foi o primeiro escritor japonês a ser contemplado com o Nobel de Literatura. Ele teve sua vida marcada desde cedo por uma sucessão de perdas familiares: órfão de ambos os pais aos quatro anos, morte da avó materna aos sete anos, do único irmão aos onze e do avô materno aos 14, passando então a ser criado pelos avós paternos. Na idade escolar e na juventude ele já escrevia poemas (é interessante observar como a maioria dos escritores laureados começou a vida literária com a redação de poemas, talvez por serem mais curtos?). Aos 18 anos iniciou um curso na Faculdade de Ciências Humanas da Universidade de Tóquio. O começo de sua vida adulta foi pontuado por desilusões amorosas (quem não as tem/teve/terá?), que ajudaram a moldar um caráter bastante introspectivo. Em 1921 Kawabata fundou uma revista literária e criou um jornal de letras. Muitos de seus contos e romances foram publicados em fascículos, cuja divulgação às vezes se estendia por alguns anos. Seu primeiro livro de sucesso foi “O país das neves” (Yukiguni, 1934-37), o qual relata o envolvimento amoroso entre um homem e uma gueixa de uma povoação distante, onde ele encontra refúgio para suas inquietações. O texto é adornado com fortes traços de erotismo, o que é uma característica presente em quase todas as suas obras. Alguns críticos consideraram esta publicação como um dos mais belos romances da literatura japonesa. Outro livro de grande impacto popular foi a refinada obra “A casa das belas adormecidas” (Nemureru bijo, 1961), que relata a vida em um bordel onde as moças se encontram em sono profundo, sob o efeito de narcóticos. Trata-se de obra com altas doses de lirismo e, obviamente, de sensualidade. No entanto, o livro que ele considerava como sendo o preferido (há que se respeitar opinião tão valiosa) era “O Mestre do Go” Meijin, 1951-54), que relata uma disputa real de Go, um jogo de tabuleiro, entre um campeão e um jovem aspirante ao título. Curiosamente, essa era a única obra que Kawabata considerava como terminada, já que a maioria de suas publicações sempre deixavam um espaço aberto para o futuro, o que, por vezes, chegava a irritar alguns leitores. Seu último romance que leva o inspirado título de “Beleza e Tristeza” (Ut sukushisa to Kanashimi to, 1964) conta a história de um escritor que se reúne com uma amante do passado. A obra foi filmada em 1985 (Tristesse e Beauté), tendo a atriz Charlotte Rampling (1946-) no papel principal.
No discurso de recebimento do Nobel, Kawabata evocou as recordações de sua tumultuada vida e condenou veementemente o suicídio, pois havia perdido alguns bons amigos dessa forma. Quatro anos depois ele, tomado por um surto depressivo, também cometeria suicídio pela inalação de gás. No entanto, tal desfecho foi contestado pela esposa e por amigos próximos, que alegavam ter ocorrido um acidente no vazamento do gás tóxico. Essa justificativa é reforçada pelo fato de ele, ao contrário dos amigos que retiraram a própria vida, não ter deixado nenhuma carta de despedida. Que descanse em paz.
Línguas da Itália (II)
A língua emiliano-romanhola
É o idioma utilizado na região do norte da Itália denominada Emilia-Romanha (Emégglia-Romágna), cuja capital é Bolonha, e, também, na República de San Marino. Estima-se que a língua possua cerca de 1,7 milhão de falantes. Ela pertence à família galo-itálica, assim como outras línguas que serão apresentadas nos diversos Posts sobre idiomas italianos (lígure, lombardo, piemontês e vêneto). O emiliano-romanhol está incluído na lista da UNESCO de línguas ameaçadas. É difícil de acreditar, mas é verdade: além do idioma ser dividido em dois grupos (emiliano e romanhol), mutuamente compreensíveis, existem dezenas de subdialetos, 26 para o emiliano (sendo o bolonhês o mais relevante) e 6 para o romanhol. Como era mesmo a história da Torre de Babel?
Acho que cabem aqui curtos comentários sobre a fascinante República de San Marino, território independente encravado nas montanhas italianas. Trata-se de um real enclave, pois está integralmente contido dentro da Itália. O idioma oficial do país é o italiano, contudo a maior parte da pequena população de 30.000 habitantes prefere se comunicar em Emiliano-romanhol. O país, com a minúscula área de 60 km2, foi fundado no ano 301 quando Marino (na época pedreiro, depois virou santo) se refugiou nas montanhas para escapar à perseguição do imperador Diocleciano. Tornou-se independente no século IX, mas só teve a soberania reconhecida pela igreja em 1630. San Marino, que é a mais antiga república europeia (proclamada em 1866), tem um curiosíssimo sistema de governo: os chefes de Estado são sempre dois capitães-regentes eleitos pelo Legislativo, dentre os seus membros, com um mandato de apenas seis meses!
A língua friulana
Trata-se de um idioma da família reto-romana, assim como o ladino-dolomítico (falado na Itália) e o romanche (falado na Suiça). A língua friulana (Furlan) é utilizada por cerca de 600.000 pessoas, principalmente na região de “Friul-Veneza Júlia” (italiano: Friuli-Venezia Giulia), cuja capital é Trieste, além de enclaves linguísticos em diversos países, inclusive no Brasil. O belo nome da região contém os topônimos históricos (Friuli e Venezia), com o Giulia sendo homenagem (mais uma) ao guerreiro Júlio César. Não causa nenhum espanto comentarmos que existem três dialetos: o central (que é o mais difundido, falado na antiga capital Údine, o ocidental e o cármico. Depois de longas discussões entre os linguistas se chegou a um padrão ortográfico, o que significa um grande avanço na disseminação do idioma. Embora não haja jornais diários em friulano, existem alguns programas radiofônicos e televisivos. A língua é ensinada em caráter optativo nas escolas primárias. Para os adultos existe a possibilidade de frequentar cursos universitários para o aprendizado do idioma.
A língua friulana, que apresenta literatura desde o século XVI, recebeu a contribuição de muitas palavras alemãs e eslavas. No friulano não existem consoantes duplas, as quais são uma marcante característica da língua italiana. Uma particularidade do idioma friulano, também encontrada na língua piemontesa, é a inserção de partículas na conjugação de determinados verbos. Por exemplo, vejam a conjugação do verbo “ser”: jo o soi, tu tu sès, lui al è, nô o sin, vô o sès, lôr a son. Algumas palavras e expressões: Graciis (obrigado), bundi (bom dia), ariviodisi (até logo), no capìs (não entendo) e ti vuei ben (eu te amo). Números de 1 a 10: un/une, doi/dâs, trê, cuatri, cinc, sîs, siet, vot, nûf, dîs. Dias da semana: lunis, martais, miercus, joibe, vinars, sàbide, domenie.
O rico vocabulário da língua inglesa
A existência de pares de palavras no idioma inglês, uma de origem anglo-saxônica e outra de origem latina, faz com que essa língua tenha um dos maiores vocabulários do mundo. No entanto, ele é facilmente superado pelo idioma russo, onde todos os verbos apresentam dois aspectos (perfeito e imperfeito), além da existência de um elevado número de prefixos que transformam um único verbo em vários outros, com distintos significados. Veremos isso em um Post futuro. A seguir uma breve amostra da dualidade de algumas palavras no inglês (primeiramente é dada a origem anglo-saxônica e em seguida a latina).
Come back/return, look at/regard, want/desire, get/obtain, choose/select, go away/depart, smell/odor, sweat/perspiration, quiet/peaceful, dangerous/unsafe, show/exhibit, wrong/incorrect, yearly/annualy, way/route, tell/reveal, stop/cease.
Frase para sobremesa: A originalidade consiste no retorno às origens; assim original é aquilo que volta à simplicidade das primeiras soluções (Antoni Gaudí, 1852-1926).
Até a próxima!