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Escritores que ganharam o Prêmio Nobel de Literatura.

1967: Miguel Angel Asturias Rosales (1899-1974): Como, nos países de linha espanhola, o último sobrenome é aquele que vem da mãe, ele é praticamente ignorado na designação das pessoas. Aqui no Brasil, na Europa, em qualquer outro lugar do mundo, o vencedor do Nobel de 1967 seria chamado de Sr. Rosales, mas não é essa a tradição de nossos irmãos de língua hispânica. Portanto vamos à biografia do Sr. Asturias. Nascido na cidade da Guatemala, filho de um conhecido juiz, ele desde jovem se sensibilizara com a atuação do pai em defesa dos direitos humanos. Sob a ditadura de Manoel Estrada Cabrera, o renomado juiz autorizou a libertação de vários estudantes presos por participarem de manifestações contra o governo. Tal ato de coragem lhe ocasionou a perda do emprego e a necessidade de sair da capital do país. Como gestos de nobreza também fazem parte do DNA das pessoas – sendo por isso transmitidos aos filhos – o garoto Miguel recebeu uma valiosa lição de vida. Ao final da adolescência começou a estudar Medicina, o que ocorreu apenas por um ano, quando se matriculou no curso de Direito na Universidade de Guatemala, graduando-se como o melhor aluno da turma. Em seguida, buscando novos horizontes, ele se mudou para Paris, onde cursou Etnologia na Sorbonne. Lá ele viveu durante dez anos, retornando à Guatemala em 1933. Entrementes já havia publicado, em 1930, seu primeiro livro, intitulado Leyendas de Guatemala. Ainda jovem ele se dedicava a entender o desenvolvimento das culturas indígenas na América Central. Sua avó, que era de origem maia, o entretinha com mitos e lendas sobre o assunto. Junto com amigos ele havia criado a Universidade Popular, que oferecia cursos gratuitos à população mais pobre, com destaque para os principais eventos na história do país. Sua intensa atuação social incomodava as classes dominantes, o que levou o governo a exilá-lo para fora do país. Miguel viveu então oito anos na Argentina e no Chile, partindo em seguida para Gênova, na Itália. Quando, em 1966, um governo democrático assumiu o país, o Sr. Asturias, já amplamente conhecido como escritor, foi nomeado embaixador na França, cargo este exercido até 1970. Faleceu em Madrid, onde passou os últimos anos de sua vida, sendo o corpo posteriormente trasladado para o cemitério Père Lachaise em Paris, conforme era seu desejo.

Asturias foi o segundo escritor latino-americano a receber o Nobel de Literatura, depois da chilena Gabriela Mistral em 1945. Dois antes de ser laureado com o Nobel, ele havia recebido o Prêmio Lenin da Paz, concedido a pessoas (políticos, artistas, escritores, cientistas) que se destacaram no fortalecimento da paz entre os povos. Dois brasileiros já haviam recebido a honraria: Jorge Amado (1912-2001) em 1951 e Oscar Niemeyer (1907-2012) em 1963. Este prêmio se chamava anteriormente Prêmio Stalin da Paz, mas teve seu nome alterado em 1989 (assim caminha a humanidade…) e foi extinto em 1991. Duas obras merecem destaque na vasta produção literária de Asturias: o livro “Homens de milho” (Hombres de maiz, 1949), o qual retrata a dura vida dos camponeses guatemaltecos, e “O Senhor presidente” (El Señor presidente, 1946), a fria descrição dos desmandos praticados por um cruel ditador, sem dúvida um dos romances mais conhecidos na corrente literária do Realismo Mágico. As principais características desse movimento, surgido na primeira metade do século XX, são a presença de elementos fantásticos, de superstições, do tempo cíclico ao invés do linear e da frequente mescla entre fantasia e realidade. A literatura latino-americana conta com notáveis representantes dessa vertente literária, a exemplo do colombiano Gabriel Garcia Márquez (1927-2014, Nobel em 1972), de Isabel Allende (1942-), nascida no Peru, mas de nacionalidade chilena, do mexicano Juan Rulfo (1917-86), dos argentinos Jorge Luis Borges (1899-1986) e Júlio Cortázar (1914-84) e do brasileiro Murilo Rubião (1916-91). Os críticos literários gostam de comparar as produções de Asturias com aquelas de James Joyce (1882-1941) e William Faulkner 1897-1962), dois dos expoentes no uso da técnica de “fluxo de consciência”, na qual ocorre um exame profundo dos processos mentais, uma mistura de realidades do consciente e do inconsciente e o predomínio de uma narrativa não linear. Malgrado a boa qualidade das redações e o uso de um rico vocabulário, não são livros fáceis de serem lidos, ou seja, na minha opinião a fruição da leitura – que talvez seja uma das maiores virtudes de uma obra literária – fica visivelmente prejudicada.           

Línguas da Itália (I)

Após a apresentação das línguas de Portugal, Espanha, França e Reino Unido, iniciaremos aqui breves explanações sobre as línguas da Itália. Conforme já indicado em Posts anteriores, não é nosso objetivo abordar os idiomas mais conhecidos pelos brasileiros, dentre eles o italiano. Inicialmente segue uma pequena introdução sobre a diversidade das línguas faladas na Itália.

A língua oficial da Itália é originária do dialeto florentino local, também conhecido como toscano literário. O principal responsável pela edificação do idioma italiano foi o escritor Dante Alighieri (1265-1321), autor de um dos maiores clássicos da literatura universal, A Divina Comédia. Nesta tarefa ele contoucom a participação de outros literatos, como Petrarca e Boccaccio. Antes da unificação da Itália, ocorrida em 1861, cada região tinha seu dialeto próprio. A disseminação da língua italiana só ocorreu, portanto, de forma sistemática, há cerca de cento e cinquenta anos. Atualmente o percentual de italianos bilingues (ou seja, que falam o italiano mais a língua regional) é superior àquele de falantes exclusivos do italiano, existindo ainda uma pequena minoria que só se comunica pelos idiomas regionais. Sob o aspecto histórico, podem serconsiderados os seguintes substratos linguísticos na Itália: no Norte preponderavam os substratos (i.e., bases) celta, ligúrico e vêneto. Na região Central havia o domínio do substrato etrusco e no Sul preponderavam os substratos itálico e grego. Mas tudo isso mudou. Na maior parte dos casos é incorreta a designação de dialetos italianos, já que muitos deles vieram do chamado latim vulgar (aquele que era falado, em oposição ao latim clássico, usado pela nobreza e na redação de documentos oficiais). Como consequência, quem se comunicava por meio de dialetos era considerado como pessoa de baixo status social.

Em algumas regiões da Itália existe a duplicidade da língua italiana não com dialetos, mas com outros idiomas de relevância no continente europeu. Assim, por exemplo, na região do Trentino – Alto Ádige, localizada ao norte do país, na fronteira com a Áustria, cerca de 70 % da população tem o alemão como língua materna. O território, que antes pertencia à Áustria, foi anexado à Itália após a Primeira Grande Guerra. Ele possui duas províncias autônomas: Trento e Bolzano. Já no Vale de Aosta, outra região autônoma da Itália, fronteiriça com França e Suiça, os dois idiomas oficiais são o italiano e o francês.

Outros idiomas, alguns deles já vistos em Posts anteriores, são encontrados em enclaves linguísticos na Itália:

  • Occitano: no Piemonte (norte da Itália, capital: Turim) e na Ligúria (nordeste da Itália, capital: Gênova)
  • Catalão: na região de Alghero, na Sardenha;
  • Corso: na região de Olbia-Tempio, na Sardenha;
  • Esloveno: na região de Friul-Veneza Júlia, capital: Trieste;
  • Grego: na Apúlia, região do sul da Itália, capital: Bari;
  • Croata: na região de Molise, sul da Itália, capital: Campobasso.

As línguas que serão apresentados nos próximos Posts, em diversos capítulos, são: emiliano-romanhol, friulano, ladino-dolomítico, lígure, lombardo, piemontês, sardo, siciliano e vêneto.

Deve-se ou devem-se

“Devem-se evitar as formas rebuscadas”: aqui formas rebuscadas é o objeto direto da voz ativa (Deve evitar as formas rebuscadas) e sujeito da voz passiva. “Se” é a partícula apassivadora.

“Deve-se assistir a todos os jogos”. Aqui “se” é partícula indeterminadora do sujeito, pois só se pode fazer voz passiva se houver objeto direto na voz ativa (o que não é o caso de assistir, mas é o de evitar)

Frase para sobremesa: Uma lembrança feliz é talvez sobre a terra mais verdadeira que a felicidade (Alfred de Musset, 1810-57)  

Bom descanso!

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