Post-50

Escritores que ganharam o Prêmio Nobel de Literatura.

1966: Nelly Leonie Sachs (1891-1970): Conforme indicado no Post anterior, a poetisa alemã Nelly Sachs dividiu o Prêmio Nobel de 1966 com o escritor israelense Shmuel Agnon. Nelly, filha única de um abastado industrial de borracha em Berlim, também era judia. A maior parte de sua poesia lírica tem como pano de fundo a ascensão do nazismo durante a Segunda Guerra Mundial. Devido à sua saúde frágil, ela foi educada em casa por preceptores. Muito tímida, introvertida e protegida em excesso pelos pais, Nelly ficou em estado de choque quando ocorreu a tomada do poder pelos nazistas, ao ponto de perder a capacidade da fala por algum tempo. Em 1939 Nelly pediu à escritora sueca Selma Lagerlöf (1858-1940, Nobel em 1909, v. Post 5), com a qual trocava correspondências, que a ajudasse a encontrar um refúgio na Suécia. Selma intercedeu junto à família real sueca e conseguiu ajuda para Nelly. Em 1940 Nelly e a mãe receberam um salvo conduto e deixaram a Alemanha no último voo de Berlim a Estocolmo, só retomado após o final da guerra. Praticamente ao mesmo tempo chegava ao endereço de Nelly a ordem de deportação para um campo de concentração. Selma já tinha falecido quando as duas alemãs chegaram à Suécia.

Foi só a partir dos 50 anos de idade que Nelly se envolveu em maior escala com a redação de poemas, muitos deles mostrando os horrores da política nazista. No entanto, quando começaram a chegar notícias da morte de pessoas queridas, ela, imbuída de um sentimento de culpa doentio por não ter podido ajudá-las, parou com a produção literária. O falecimento da mãe em Estocolmo a levou a um tal estado de prostração, com episódios de alucinação e paranoia, que teve de ser internada por alguns anos em uma instituição para cuidados mentais. Sozinha no mundo, pois nunca se havia casado, ela cumpriu o restante da vida acompanhada por frequentes crises de depressão. Nelly ganhava algum dinheiro como tradutora de sueco e alemão, o que era suficiente para sua manutenção. Escreveu ainda o roteiro para o filme “The magic dancer” (Den magiska dansaren). Finalmente, em 1952 tornou-se cidadã sueca.

Na cerimônia de entrega do prêmio Nobel, Nelly disse que, enquanto Agnon (o outro contemplado) representava Israel, ela representava a tragédia do povo judeu. Nelly morreu em consequência de um câncer de cólon. Como não possuía herdeiros, seu patrimônio foi doado integralmente à Biblioteca Nacional da Suécia.      

Línguas celtas (VI)

A língua manesa

Idioma próximo ao gaélico escocês, o manês (Gailck; em inglês: Mannx) é falado na Ilha de Mann (em manês: Mannin, em inglês: Isle of Man), a qual conta com aproximadamente 80.000 habitantes, menos da metade sendo nascidos na ilha. O número de falantes do manês é estimado em 1.700, população inferior à de um quarteirão de prédios em uma cidade grande. O último falante monolíngue do idioma morreu em 1974. A Ilha de Man não faz parte formalmente do Reino Unido, muito menos da União Europeia. Trata-se de uma “dependência da Coroa”, a qual, no entanto, possui moeda própria (libra manesa) com paridade com a libra esterlina. Se vocês estão incomodados com a denominação em inglês de Isle of Man e não Island of Man, vamos tranquilizá-los: Isle é a palavra para ilha no inglês antigo, sendo adotada apenas para a nomenclatura de pequenas ilhas. A capital da Ilha de Man é Douglas (Doolish), a qual não homenageia nenhum Douglas, mas sim a união de dois rios, Dhoo e Glass. Os vikings chegaram à ilha no século VII e ali ficaram até o domínio norueguês (1164-1266), quando ela foi cedida à Escócia e, posteriormente, à Coroa britânica. Seu parlamento autônomo (Tynwald), fundado em 979, é o mais antigo do mundo em funcionamento contínuo. Outra curiosidade da ilha é a sua bandeira em que existe o desenho de três pernas no centro, unidas na coxa e dobradas no joelho. Abaixo se lê a inscrição em latim: Quocunque jeceris stabit (para onde quer que atire ela fica). Um banho de criatividade! Quem aprecia o motociclismo certamente conhece a corrida anual da Ilha de Mann, realizada desde 1907 e considerada como a mais perigosa do mundo, dado que as motos passam por pontes estreitas, muito perto de casas, muros, caixas de correio, gerando um elevado número de vítimas nos seus 60 km de percurso. A partir de 1970 essa corrida já não faz parte do Campeonato Mundial de Motociclismo. Vocês me perguntam se tem alguém famoso natural dessa insólita ilha?  Vou lhes fornecer três de uma só vez: são os irmãos Bee Gees, certamente conhecidos pela maioria dos leitores que gostam de rock. Vamos ao idioma.

O primeiro documento literário em manês foi um livro de orações datado de 1610. A língua, que possui dois dialetos (Norte e Sul) – como pode isso? –  é usada nas reuniões formais do Parlamento. No final do século passado o manês foi considerado como “língua extinta” pela UNESCO. No entanto, já a partir de 1948 se podia observar uma lenta ressurreição do idioma, em parte devido à obrigatoriedade do seu ensino nas escolas primárias e secundárias. Contudo, foi só no início do século XXI que se pôs em marcha a efetiva revitalização linguística, fazendo com que a classificação da UNESCO passasse a ser de “criticamente ameaçada.” O alfabeto manês é um dos poucos do mundo (nós também estamos lá) que apresentam a letra cedilha (ç), que é pronunciada como “ch”. Assim: paitçhey (criança). Algumas expressões:  Gura mie ayd (obrigado), My saillt (por favor), Gow my leshtal (desculpe), Moghrey mie (bom dia), Slane lhiat (até logo), Cha nel mee toiggal (não entendo), Ta graih aym ort (eu te amo). Números de 1 a 10: nane, jees/daa, tree, kiare, queig, shey, shiaght, hoght, nuy, jeih. Os leitores que conhecem a língua francesa sabem da charmosa formação de números como 80 (quatre-vingt, quatro vintes) ou 90 (quatre-vingt-dix, quatro vintes e dez). O manês leva tais características muito a sério: assim, por exemplo, 40 é “dois vintes”, 55 é “quinze e quarenta” e 67 é “três vintes e sete.” Cada povo do seu jeito! Terminamos com os dias da semana: Jelhune, Jemayrt, Jecrean, Jerdein, Jeheiney, Jesarn, Jedoonee.  

Hispanismos

Segue uma lista de palavras da língua portuguesa que são importadas diretamente do espanhol: aborrido (aborrecido), acostar (deitar-se), ancho (largo), apodo (apelido), apuro (pressa), arreglar (resolver), borracho (bêbado), botelha (garrafa), cerrar (fechar), charlar (conversar), como (aproximadamente), de espaço (devagar), direção (endereço), embaraço (gravidez), esquisito (refinado), guante (luvas), guapo (bonito, elegante), latir (no sentido de bater, p. ex. “o coração late”), macanudo (bacana), perro (cachorro), praticar (conversar), quedar (ficar), sem embargo (todavia), sonido (som), ventana (janela), volver (voltar).

Frase para sobremesa: Quanto mais domina a razão crítica, tanto mais a vida se empobrece; quanto maior a carga de inconsciente e de mito somos capazes de levar à consciência, tanto mais completa tornamos a nossa vida (Carl Jung, 1875-1961)

Até a próxima!

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