Escritores que ganharam o Prêmio Nobel de Literatura.
1965: Mikhail Shólokhov (1905-84): premiado escritor russo, autor de uma das mais monumentais obras da literatura de guerra, o romance “O Don silencioso” (And quiet flows the Don) (ТИХИЙ ДОН), escrito de 1928 a 1940 e publicado em quatro volumes. Pelos menos três filmes russos e duas minisséries, uma russa e outra inglesa, foram produzidos baseados na obra. Shólokhov escreveu o roteiro de dois desses filmes. Diversas acusações de plágio foram avaliadas ao longo dos anos. Em 1928, ano da publicação do primeiro volume, uma comissão decidiu que a obra era original. No entanto, em 1960 um outro escritor russo, Aleksandr Solzhenitsyn (Nobel em 1970), trouxe novas evidências das acusações de plágio. Em 1984 (ano da morte do autor) um estudo estatístico feito por uma comissão norueguesa concluiu, baseada, entre outros parâmetros, na extensão média das frases do livro, que Shólokhov era o provável autor. Novas investigações conduzidas pela Academia de Ciências da Rússia em 1999 referendaram a possível ausência de plágio. Agora, tantos anos após a publicação, um consistente número de intelectuais russos defende a hipótese do plágio. O que ocorrerá no futuro? A tradução dos quatro volumes para o português foi feita por Lígia Junqueira, responsável por muitas traduções de clássicos ingleses. Como seu currículo não aponta o domínio do idioma russo, acreditamos que essa tradução deva ter sido feita a partir de uma versão inglesa.
Shólokhov, filho de camponeses e fazendeiros, era originário de um território de etnia cossaca, atualmente localizado na Ucrânia. Demorou um longo tempo para ser alfabetizado. Em 1918 (portanto, com 13 nos de idade!) entrou para o lado dos bolcheviques na Guerra Civil Russa. Este conflito, iniciado em 1918, colocou em oposição os bolcheviques (no poder desde a Revolução de Outubro/1917) e as pessoas favoráveis à Monarquia (antigos militares, grupos ligados à Igreja e correntes socialistas minoritárias, os chamados mencheviques), em suma, de um lado o Exército Vermelho (que saiu vitorioso) e do outro o Exército Branco. Como consequência primária dessa guerra ocorreu a formação da União Soviética. É exatamente sobre esse conflito que trata a obra “O Don silencioso”, explorando o drama das famílias que viviam nas proximidades do rio Don.
Antes de se tornar escritor, Shólokhov trabalhou como estivador, pedreiro e contador. A partir de 1924 dedicou-se unicamente à escrita. Seu primeiro livro, publicado em 1926, foi “Contos do Don” (Tales from the Don) (ДОНСКИЕ РАССАЗЫ). Recebeu o Prêmio Stalin em 1941, o Prêmio Lenin em 1960 e o Nobel em 1965. Após visitar Stalin em 1930, tornou-se uma pessoa muito próxima ao governante, relatando o que ocorria pelo país. Shólokhov denunciou a Stalin as horríveis condições de vida das pessoas nos campos de concentração, o que levou a uma pequena melhoria no desumano tratamento dado aos insurgentes. Em 1937 ele foi eleito para a Câmara dos Deputados. Já como um político conhecido, acompanhou Nikita Khrushchov, líder do Partido Comunista, em uma viagem pela Europa e EUA em 1959. Morreu em consequência de um câncer na laringe, tendo sido, como um verdadeiro cossaco, enterrado no quintal de sua casa na Ucrânia, a qual, posteriormente, foi transformada em um museu.
Línguas celtas (IV)
A língua irlandesa
O idioma gaélico irlandês (Gaeilge), chamado simplificadamente de irlandês, passou a ser, junto com o inglês, um dos idiomas oficiais da República da Irlanda (em irlandês: Éire, pronúncia: Ejé) após sua independência em 1922. Ademais, ele é uma das 24 línguas oficiais da União Europeia. Estima-se que cerca de 75.000 pessoas usem diariamente o irlandês como primeira língua e em torno de 1,7 milhão como segunda língua. O último falante monolíngue do irlandês morreu em 1998. Como o ensino da língua irlandesa é obrigatório nas escolas públicas, o uso do idioma tem se disseminado de forma intensa, inclusive em jornais, revistas, rádio e televisão. O irlandês é também uma língua minoritária na Irlanda do Norte, uma nação que faz parte do Reino Unido. Como não podia deixar de ser, o irlandês possui atualmente três dialetos (antes eram quatro), designados conforme os nomes das respectivas províncias. O exemplo abaixo mostra as distintas formas, bem diferentes umas das outras, para uma das frases mais simples no cotidiano do homem civilizado: “Como vai?” (Não sei se no paleolítico eles usavam tais gentilezas):
- Dialeto de Úlster: Goidé mar atá tú? (Uma curta observação: o nome Úlster, usado normalmente para designar a Irlanda do Norte, era, originalmente, uma província histórica da Irlanda)
- Dialeto de Connacht: Cén chaoi a bhfuil tú?
- Dialeto de Munster: Cad is ainm duit?
Na gramática o irlandês, a exemplo do galês, também segue a ordem VSO (Verbo-Sujeito-Objeto). Se vocês ainda não acreditam na afirmativa de que as línguas celtas possuem uma fonética pavorosamente difícil, vejam como se escreve o nome da capital Dublin no idioma irlandês: Baile Átha Cliath. E como se fala? Simplesmente Laclié. Sim, vocês têm toda a razão, muitas vogais desparecem na expressão oral da palavra. Uma simpática cidade litorânea bem próxima a Dublin é Dun Laoghaire. Pronúncia? Dun Liri. E “obrigado” palavra pequena na sua composição, mas bem grande no significado? Go raibh maith agat (pronúncia: Goromahát). Como se diz “pai”? Athair (pronúncia: Ér). “Casa” é teach (pronúncia: tér) Para quem gosta de filmes sobre a máfia, na qual os irlandeses também têm sua contribuição, certamente já ouviu o brinde para bebidas: Sláinte (curiosamente aqui a pronúncia é estendida, ou seja, maior do que a palavra: Slaintse). Falando em drinks, todos vocês já sabem que a palavra “uísque” é originária do irlandês uisce beatha (pronúncia: ishke varha, água da vida). O sobrenome com a partícula Mac (filho de) é irlandês, Mc é escocês e Mab é galês, simples assim. Um bom site para se ouvir a pronúncia de palavras em dezenas de idiomas é www.forvo.com.
Vamos a outras palavras e expressões: Maidin mhaith (bom dia), Le do thoil (por favor), Gabh mo leithscéal (desculpe), Slán (até logo), Ni thuigim (não entendo). Números de 1 a 10: aon, dé, tri, ceathair, coig, sé, seacht, ocht, naoi, deich. Aqui não temos mais o duplo gênero para números de 2 a 4, como no bretão e no galês. Dias da semana: Dé Luan, Dé Mairt, Dé Céadaoin, Déardaoin, Dé h-Aoine, Dé Sathairn, Dé Domlinaigh. Os nomes de quarta, quinta e sexta, se originam de termos referentes ao jejum (antes, durante e depois).
As infindáveis provocações entre falantes das línguas inglesa e francesa
A já folclórica rivalidade entre ingleses e franceses às vezes atinge capítulos muito curiosos. Todos nós não apenas conhecemos, mas também já praticamos, pelo menos alguma vez na vida, a chamada “saída à francesa”, ou seja, evadir-se de um recinto sem se despedir das pessoas. Em inglês esta expressão é “to take French leave”. Só que os franceses denominam esse comportamento como “filer a l’anglaise”, ou seja, sair à inglesa. Outro exemplo: a doença venérea “sífilis”, infelizmente ainda existente em várias partes do planeta, também entrou nesse jogo. Vocês me perguntam como é o nome popular em inglês? Claro que é “French disease.” Em francês? Evidentemente “mal anglais.” Um último exemplo: nas trevas da Idade Média, a população que vivia amontoada em prédios insalubres nas grandes cidades, recolhia fezes e urina em penicos e, sem muita cerimônia, atiravam o conteúdo pela janela. Para que os passantes não fossem surpreendidos de forma tão desagradável, os governantes franceses determinavam que o lançador de dejetos deveria, antes de fazê-lo, gritar por duas vezes, em boa altura: Gardez l’eau (cuidado com a água). Pois bem, a história nos deixa o relato de que os ingleses, para não ficarem atrás em relação às normas higiênicas, introduziram a expressão Gardy loo, uma abusada corruptela da versão francesa. Até hoje, em países de língua inglesa, a palavra loo tem o significado de toalete.
Frase para sobremesa: A filosofia é uma prática discursiva que tem a vida por objeto, a razão por meio e a felicidade por fim (Luc Ferry, 1952-)
Até a próxima!