Post-47

Escritores que ganharam o Prêmio Nobel de Literatura.

1964: Jean-Paul Sartre (1905-80): Um dos filósofos e críticos mais conhecidos do século XX, o francês Sartre foi o expoente da corrente filosófica do Existencialismo, na qual se entende que a existência precede a essência do homem, pois ele primeiro existe e depois se define, ou seja, nenhum de nós começa a vida com uma função pré-definida. Sartre, nascido e falecido em Paris, era filho de um oficial da marinha que morreu quando o filho tinha apenas 15 meses. Na sua obra autobiográfica “As palavras” (Les mots, 1964), por sinal o último livro que publicou, Sartre comenta que, na infância, dividia o quarto com a mãe, a qual ele considerava apenas como sendo uma irmã mais velha. O garoto, educado em casa até os dez anos, começou a ler os clássicos da literatura universal com apenas seis anos de idade. Em 1917 a família se muda para a cidade portuária de La Rochelle, onde Sartre passa a ter contato com imigrantes árabes, chineses e negros. Foi nessa época que ele começou a desenvolver a postura do anticolonialismo e do abandono de valores burgueses. Durante toda a vida ele sempre apoiou as causas de políticos de esquerda. O avô, que morava com a família, tentou dissuadir o jovem Sartre de se tornar um escritor: “Ele me atirou na literatura pelo cuidado que desprendeu em desviar-me dela.”

O primeiro sucesso literário de Sartre veio com a obra “A náusea” (La Nausée, 1938). Na Segunda Guerra Mundial ele foi preso pelos alemães (1940-1). Voltando à França alia-se à Resistência, onde desenvolve uma forte amizade com o escritor Albert Camus, Nobel de Literatura em 1957. Conforme comentamos no Post 40, em 1952 ocorre o rompimento dos dois amigos por causa de críticas de Camus ao regime comunista, abertamente defendido por Sartre. Em 1943 é lançado seu mais famoso livro filosófico: “O Ser e o Nada”” (L’Être et le Néant, 1943). Após a experiência de longos anos na redação de peças de teatro, Sartre resolve se aventurar pelo cinema. Como consequência de seu bom relacionamento com o diretor norte-americano John Huston (1906-87), ele escreve o roteiro do filme “Freud, além da alma” (Freud, 1962). No entanto, devido a conflitos posteriores com o diretor, seu nome não aparece nos créditos. Ele continua sua intensa produção bibliográfica até 1964, ano em que foi contemplado com o Prêmio Nobel. Em uma reação já esperada por muitos intelectuais ele recusa o recebimento do galardão sob o argumento de que “um escritor não deve permitir que seja transformado em uma instituição.” Embora ainda exista muita controvérsia em relação à sequência temporal dos fatos, Sartre alega que, já informado da indicação de seu nome como concorrente, ele escreveu uma carta à Academia Sueca comunicando que, caso fosse escolhido, não aceitaria o laurel. Parece que a correspondência só teria chegado a Estocolmo alguns dias depois da nomeação. Durante as conhecidas manifestações nas ruas francesas em maio de 1968, Sartre chegou a ser preso, sendo liberado logo depois. É atribuída ao então presidente General Charles de Gaulle a famosa frase: “Você não prende Voltaire.” Em decorrência do excesso de bebida e das noites mal dormidas, a saúde de Sartre foi piorando, até ele ser vitimado por um edema pulmonar.

Sartre manteve um relacionamento aberto de 51 anos com a escritora e filósofa Simone de Beauvoir (1908-86). Nunca se casaram e sempre fizeram questão de manter as respectivas sequências de amantes (haja filosofia para tanto!). Como a vida tem, aparentemente, seus princípios de lógica, ambos estão enterrados no mesmo túmulo no cemitério de Montparnasse.

Línguas celtas (III)

A língua córnica

O idioma córnico (Kernewek) é falado no Ducado da Cornualha (inglês: Cornwall; córnico: Kernow), região histórica situada no sudoeste de uma península da Inglaterra. Curiosamente, a Bretanha francesa, no noroeste do país, também tem uma região denominada Cornualha (francês: Cornouaille). Na Antiguidade a língua era mesma nos dois lados do Canal da Mancha. Com o passar do tempo esse idioma comum evoluiu para duas línguas distintas: o córnico na ilha e o bretão (v. Post 45) no continente. Em francês, a Cornualha britânica é denominada “Les Cornouailles” para se fazer a distinção.

A Cornualha britânica, pátria da criação do idioma córnico, foi habitada por povos do Neolítico (última divisão da Idade da Pedra, 7.000 a.C. a 2.500 a.C) e, na Idade do Ferro (1.200 a.C. a 1.000 d.C.) pelos celtas e, posteriormente, às vezes simultaneamente, pelos romanos. A Cornualha separou-se do País de Gales em 577, sendo que a atual fronteira com a Inglaterra (rio Tamar) foi fixada em 936. A exploração minerária, que era a principal atividade do Ducado, entrou em declínio, cedendo lugar ao turismo, em crescente expansão por conta das famosas belezas naturais da região, notadamente no litoral. O escritor William Golding, 1911-93, (Nobel de Literatura em 1983) é natural da Cornualha.

A língua córnica, cujos primeiros escritos provêm do século IX, foi intensamente falada na região até o fim do século XVIII, quando a forte influência do inglês levou à virtual extinção do córnico. Um admirável esforço de linguistas e da comunidade levou ao ressurgimento da língua córnica, falada atualmente por cerca de 2.000 pessoas, mas muito usada em frases curtas e na abertura de eventos. A UNESCO, que antes classificava o córnico como idioma extinto, mudou-o para a categoria de “criticamente ameaçado.”  

A língua córnica não tem verbos como ter, gostar, odiar, preferir, que são substituídos por construções perifrásicas. Também não possui o artigo indefinido. A ordem das palavras na frase segue o modelo VSO. De forma inusitada, as preposições são declinadas por pessoa e número, o que não ocorre em nenhuma outra língua ocidental. Por exemplo: gans (com), genev (comigo), ganso (com ele), genowgh (com vocês). Ao contrário do inglês, no córnico os nomes precedem os adjetivos. Assim: Benyn vas (mulher boa). Algumas palavras e expressões: Meur ras (obrigado), Myttin da (bom dia), Mar pleg (por favor), Gav dhymm (desculpe), Duw genes (até logo), Ya/Na (Sim/Não), Ny gonvedhau (não entendo), My a’th kar (eu te amo). Números de 1 a 10: onan (antes de nomes: unn), dew/div, tri/teyr, peswar/peder, pymp, hwegh, seyth, eth, naw, deg. Dias da semana: Dy’ Lun, Dy’ Meurth, Dy’ Mergher, Dy’ Yow, Dy’ Gwener, Dy’ Sadorn, Dy’ Sul.   

Como o artigo muda a concordância

  • É necessário determinação no trabalho;
  • É necessária a determinação no trabalho;
  • É proibido aparelhos eletrônicos;
  • São proibidos os aparelhos eletrônicos.

Frase para sobremesa: Seria difícil de resistir à citação de algumas das famosas frases de Sartre: 1. O homem não é a soma do que tem, mas a totalidade do que ainda não tem, do que poderia ter. 2. A vida é o pânico em um teatro sem chamas. 3. A mais emblemática frase do filósofo: Estamos condenados a ser livres.

Bom descanso!

Leave a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *