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Escritores que ganharam o Prêmio Nobel de Literatura.

1963: Giórgos Seféris (1900-71): Foi o primeiro escritor grego a receber o Nobel de Literatura. Deve-se a Seféris a introdução do Simbolismo na moderna literatura grega. Seu nome de batismo era Giórgos Seferiádis (pergunto-me, por que mudá-lo para um pseudônimo tão semelhante?). Nascido em Esmirna (antiga Éfeso), na época pertencente ao Império Otomano (atualmente Turquia), deixou a cidade em 1914 para viver em Atenas, quando então começou a escrever seus primeiros poemas. Mais tarde, em 1918, muda-se para Paris com o objetivo de estudar Direito na Sorbonne, voltando à Grécia em 1925. Na verdade, ele até aquele instante seguia os passos do pai, também poeta, advogado, tradutor e professor universitário. Em 1922 Esmirna é tomada pelos turcos e ele só volta a visitá-la em 1950. Este sentimento melancólico do Exílio é uma forte marca em muitos de seus poemas. Decidiu-se por seguir a carreira diplomática (mais um na lista), exercendo cargos em diversas embaixadas, notadamente no Oriente Próximo. No período de 1957 a 1962 foi embaixador da Grécia no Reino Unido. Paralelamente, continuava a receber distinções acadêmicas em renomadas universidades, como Cambridge, Oxford e Princeton. Na qualidade de diplomata, Seféris participou intensamente das discussões sobre o futuro da Ilha de Chipre, que ele amava como se fosse sua pátria. Apesar dos esforços internacionais pela unificação da ilha, Chipre continua dividida em uma parte grega e uma turca, separadas por uma fronteira fixada pelos dois países. A parte grega é reconhecida internacionalmente, inclusive fazendo parte da União Europeia. Já a parte turca, denominada República Turca do Norte do Chipre, reivindica ser um país independente, no entanto sendo reconhecido apenas pela própria Turquia.

No ano do recebimento do Nobel por Seféris, dentre outros finalistas pode-se destacar Samuel Beckett (contemplado em 1969´) e Pablo Neruda (laureado em 1971).

Entre 1967 e 1974 a Grécia foi submetida a uma ditadura militar de direita, conhecida como “ditadura dos coronéis”, na qual o país foi governado por sucessivas juntas militares. Seféris, que era um convicto ativista político, morreu sem ver a libertação do país. Muitos de seus poemas eram declamados pelos resistentes, se constituindo, portanto, em um símbolo da revolta popular. No seu enterro a multidão que acompanhava o féretro cantava seu poema Negação, musicado pelo conhecido compositor Mikis Theodorakis (1925-2021), autor de consagradas trilhas sonoras de filmes, dentre elas a famosíssima música de “Zorba, o Grego”. Já adianto aos caros leitores de que, na minha opinião, a língua grega é a mais sonora que existe, com as palavras saindo das bocas como se fossem notas musicais. Por isso convido os interessados a buscarem no Youtube a música Denial (Αρνηση), particularmente a gravação feita pela conhecida atriz Irene Papas (1929-2022). Fechem os olhos e imaginem o cortejo fúnebre seguindo pelas ruas de Atenas, uma onda de beleza e emoção.          

Línguas celtas (II)

A língua galesa

O idioma galês (inglês: Welsh, galês: Cymraeg) é a língua mais falada (aproximadamente 700.000) do grupo celta, o que equivale a cerca de 20% da população do País de Gales (inglês: Wales, galês: Cymru, pronúncia: Camri). Ela é também usada em alguns enclaves de imigrantes, como é o caso da região de Chubut, na Patagônia Argentina. Contudo, o número de falantes monolíngues vem caindo bastante, não sendo mais do que 20.000 atualmente. Existem fortes movimentos para se manter viva a língua galesa, tanto que os habitantes de Gales, que é um estado oficialmente bilingue (assim são todas as placas de trânsito), têm aulas obrigatórias até os 16 anos de idade. A UNESCO classifica o galês como idioma vulnerável, ou seja, “é falado pela maioria das crianças, mas seu uso é restrito a certos domínios comunicativos, como o lar por exemplo.” O galês é falado na ilha da Grã-Bretanha há mais tempo do que o inglês. O exemplar mais antigo com o registro do galês escrito é originário do século VI. O nome do País de Gales em inglês (Wales) tem origem germânica, significando “estrangeiro”. Os celtas chegaram à ilha vindos da Gália, sendo que a anexação pela Inglaterra só ocorreu no século XVI. Embora o País de Gales seja uma parte do Reino Unido, nas competições esportivas de futebol (organizadas pela FIFA) ele tem representação própria, o mesmo não acontecendo com as Olimpíadas, onde fica integrado às equipes britânicas.

Existem três dialetos do galês (já estamos aqui acostumados com essa peculiaridade das línguas que possuem relativamente poucos falantes; vejam que o português não tem dialetos, nem tampouco o russo): galês setentrional, galês meridional e galês da Patagônia, as quais guardam sensíveis diferenças entre elas (por exemplo “mesa” no setentrional é bwrdd e no meridional bord; “com” no setentrional é efo e no meridional gyda). Nas línguas celtas é o pronome feminino que faz a referência neutra (no caso do galês é hi). Por exemplo, no francês usa-se para tal o pronome masculino (il pleut, chove), o inglês já possui seu próprio pronome neutro (it rains).

A exemplo de outros idiomas, que abordaremos ao longo dos Posts, existem marcantes diferenças entre o galês literário e o coloquial. Por exemplo a frase “eu não sei” nos livros aparece como Nid wyf ya gwybod, enquanto em casa o filho pode responder à mãe falando Dydw i ddim yn gwybod.

Uma característica do gaulês, que se estende à maioria das línguas celtas é a adoção da ordem VSO (Verbo, Sujeito, Objeto). Por exemplo, a frase Darllenodd hi y llyfrau (parece linguagem secreta, ótima para senhas de banco), seria traduzida literalmente como “leu ela os livros.” Como a fonética do galês é extremamente complexa, não entraremos em detalhes aqui neste Post. Para quem tiver curiosidade ou caso esteja muito entediado em casa durante uma chuva fraca e persistente, recomendo ouvirem algum áudio em galês, facilmente encontrado no Youtube. Ou os neurônios do ouvinte irão despertar imediatamente ou então se acomodarão em um agradável cochilo.

Algumas palavras e expressões: Diolch (obrigado), os gweli di’n dáa (por favor), esgusoda fi (desculpe), hwyl (até logo), dw i’n dy garu di (eu te amo; acho mais fácil em português), dw i ddim yn deall (não entendo), bore da (bom dia). Números de 1 a 10 (são semelhantes ao bretão, visto no Post anterior), preservando a característica da dualidade de gênero do 2 ao 4: um, daw (masculino)/dwy (feminino), tri/tair, pedwar/pedair, pump, chwech, saith, wyth, naw e deg. A palavra “pinguim” é de origem galesa: pen + gwyn (cabeça branca). Embora esses animais não tenham a cabeça branca, o nome em gaulês remete a uma ilha no norte do Canadá, onde proliferam tais aves.Os dias da semana também são parecidos com o bretão, só que no galês temos duas palavras, uma delas (dydd, dia) sempre repetidas. Antes de atirarem a primeira pedra, lembre-se que o nosso português também é assim (com um descanso nas nomenclaturas do sábado e domingo): dydd Llu, dydd Mawrth, dydd Mercher, dydd Lau, dydd Gwener, dydd Sadwrn e dydd Sul.

As curiosas coincidências de datas

23/04/1616: Morrem William Shakespeare (nascido em 1564), considerado como o pai da língua inglesa e Miguel de Cervantes (nascido em 1547), o pai da língua espanhola. Que data triste!

Se entrarmos na área de cinema, que não deixa de ser um tipo de literatura, só que essencialmente móvel:

30/07/2007: Morrem o diretor sueco Ingmar Bergman (nascido em 1918) e o diretor italiano Michelangelo Antonioni (nascido em 1912).

Frase para sobremesa: Vamos ao Seféris: Quando realmente sentimos alguma coisa, sentimos também a dificuldade de exprimi-lo. E é isso, acima de tudo, que forma o estilo de cada escritor.

Até a próxima!

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