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Escritores que ganharam o Prêmio Nobel de Literatura.

1962: John Steinbeck (1902-68): O conhecido escritor norte-americano, neto de alemães, nascido em Salinas, na Califórnia, já se mostrara um ávido leitor desde a infância, influenciado principalmente pelo exemplo da mãe. Ele iniciou os estudos universitários em Literatura Inglesa na renomada Universidade de Stanford, não tendo, contudo, terminado o curso de graduação. O temperamento aventureiro, aliado à necessidade de dinheiro, fizeram com que Steinbeck tivesse empregos muito variados. Já com 23 anos de idade ele buscava editores para os livros que ia escrevendo, naturalmente sem sucesso. O reconhecimento por parte da crítica e do público leitor veio com a obra “Boêmios errantes” (Tortilla Flat), publicada em 1935 e receptora do prêmio de melhor livro californiano naquela data.

Os temas abordados por Steinbeck nos seus livros estão associados às dificuldades da vida proletária e à exploração dos trabalhadores. Aquela que é considerada como sendo sua obra-prima “As vinhas da Ira” (The grapes of wrath), publicada em 1939, ganhou no ano seguinte o Prêmio Pullitzer de Ficção e, mais ainda, foi imediatamente adaptada para as telas pelas mãos do competente diretor John Ford (1894-1973), possivelmente o maior nome do cinema norte-americano na época, com uma emblemática atuação de Henry Fonda (1905-82) no papel principal. A obra descreve a dura luta de uma família pobre do Centro-Oeste dos EUA, que é forçada a abandonar suas terras e buscar trabalho na Califórnia durante o período da Grande Depressão. A história foi duramente criticada pelo público mais conservador, que alegava o caráter obsceno da trama e um exagero na exposição dos problemas que afetavam o país. Mesmo assim, o livro já vendeu até hoje mais de 15 milhões de cópias.

Outra obra de grande sucesso na carreira literária de Steinbeck foi “A leste do Eden” (East of Eden, 1952), que conta a história de uma conturbada família e o doloroso conflito entre dois irmãos. Segundo sua esposa (a terceira), esse era o livro favorito de John. O correspondente filme, com o nome em português de “Vidas Amargas”, foi dirigido por Elia Kazan (1909-2003) e estrelado por James Dean (1931-55). No total, Steinbeck teve 17 obras suas adaptadas para o cinema, um impressionante número dentre os ganhadores do Nobel (superado apenas por Pirandello, Nobel em 1934, que teve 30 obras filmadas, v. Post 22). Ele próprio foi o responsável pela adaptação de um conhecido filme de Alfred Hitchcock (1899-1980) “Um barco e nove destinos” (Lifeboat), indicado ao Oscar de melhor roteiro em 1944.

Em 1943 Steinbeck foi correspondente de guerra na Europa, chegando a ser ferido por estilhaços de granada. Visitou a Rússia em 1947, tendo sido um dos primeiros norte-americanos a fazê-lo após o término da Segunda Guerra. Em 1967, já padecendo de problemas cardíacos ele viaja ao Vietnã para reportar sobre a guerra. No ano seguinte morre de infarto, sendo seu corpo cremado e a urna enterrada na sua cidade natal. A concessão do Nobel de Literatura a Steinbeck foi, provavelmente a mais polêmica na longa história do prêmio. Muitos críticos literários consideraram um grande erro a nomeação do norte-americano. Após o vencimento do período de 50 anos de sigilo sobre as indicações aceitas (muitos nomes podem ser indicados, mas poucos chegam à rodada final da seleção), foi comentado que, como naquele ano (1962) não havia candidatos de peso, a escolha de Steinbeck teria sido a melhor opção encontrada. O próprio laureado, em um rasgo de modéstia (ou de absoluta sinceridade), declarou que não merecia aquela honra.      

Línguas celtas (I)

Iniciaremos agora a apresentação dos principais idiomas de origem celta. A designação de celtas se aplica a um conjunto de povos surgidos a partir da evolução cultural de populações que habitaram a Europa Central. A origem da palavra vem do grego kéltos, que era o nome usado na Antiguidade para nomear os povos gauleses, além de etnias da Península Ibérica e da Itália. As línguas celtas formam um grupo da família indo-europeia que se espalhou pelo Oeste da Europa vários séculos antes de Cristo. Os celtas foram os introdutores da metalurgia do ferro, iniciando o período conhecido como Idade do Ferro. A maior parte da população da Europa Ocidental pertencia às etnias celtas até a conquista dos territórios pelo Império Romano. A existência de variados grupos celtas levou ao surgimento de diversos idiomas, todos eles derivados do protocelta ou celta comum (cerca de 1.500 a. C). Não abordaremos neste Blog, por razões óbvias, as línguas celtas antigas e já extintas.  Dentre as diversas classificações linguísticas existentes sobre os idiomas celtas, seguiremos aquela que julgamos ser a mais simples e compreensível.

Línguas celtas insulares:

  • Línguas bretônicas: bretão, galês e córnico;
  • Línguas gaélicas: gaélico irlandês, gaélico escocês e manês (ou manquês).

As línguas célticas designadas como não insulares ou continentais, a exemplo do celtibérico (falado na Península Ibérica), do gaulês (que tinha forte proximidade com o latim), do nórico (falado na Áustria) e do gálata (falado na Turquia) estão todas extintas.

A língua bretã

O bretão é falado principalmente na região francesa da Bretanha (francês: Bretagne; bretão: Breizh; capital: Rennes), a qual era anteriormente conhecida por “Pequena Bretanha” pelo fato de a maioria de seus habitantes ser oriunda da Grã-Bretanha (migrações a partir de 500 d.C.). O Ducado da Bretanha esteve independente da França até 1532. O bretão (brezhoneg) é a segunda língua céltica mais falada (200.000 pessoas) depois do galês (700.000), sendo utilizada majoritariamente por pessoas acima de 60 anos de idade. O constante declínio no número de falantes levou a UNESCO a incluir o bretão no Livro Vermelho das Línguas Ameaçadas. Além disso é a única língua celta atual sem estatuto oficialmente reconhecido. O idioma bretão está estreitamente relacionado com outras línguas bretônicas, como o galês e o córnico, e um pouco mais afastado do gaélico irlandês e do gaélico escocês.

A partir de 1880 o ensino do bretão foi banido das escolas, com as crianças sendo punidas caso se comunicassem nesse idioma (assim é a dura história das línguas regionais). Atualmente existem estações de rádio e de televisão que veiculam programas em bretão, além de revistas e placas de trânsito. O primeiro registro escrito conhecido da língua bretã é um Tratado de Botânica datado de 790. Este idioma é o que mais preserva as características do protocelta. O principal legado já deixado pela língua bretã se refere aos topônimos de cidades e rios.  

Vamos a algumas características da língua bretã. Ela não possui as letras “Q” e “X” e a letra “C” nunca aparece sozinha, apenas nas combinações “Ch” e “C’h”. Existem vários diacríticos (sinais gráficos que são acrescentados às letras) para representar as variantes fonéticas da língua. O primeiro sistema fonético moderno para o bretão foi criado apenas na década de 1830. A partir daí diversos outros sistemas foram criados para representarem adequadamente os quatro dialetos da língua bretã. Em 1941 chegou-se finalmente a uma unificação dos sistemas já criados.

Palavras e expressões: Trugarez (obrigado), Mar plij (por favor), Digarezit ac’hanon (desculpe), Kenavo (até logo), Ya/Nann (sim/não), Demat (bom dia e boa tarde), Nozveh vat (boa noite, ao chegar), Noz vat (boa noite, ao sair), Ne gomprenan ket (não entendo), Me az kar (eu te amo). Números de um a dez: unan, daou (masculino)/diu (feminino), tri (masculino)/teir (feminino), pevar (masculino)/peder (feminino), pemp, c’hwec’h, seizh, eizh, nau, dek. Algumas curiosidades sobre os números: de 2 a 4 eles têm formas masculina e feminina (no português, p. ex., só temos isso com os números 1 e 2, no espanhol só com o 1). A outra observação poderia até valer como uma pegadinha, um pouco sem graça, mas curiosa: o número 7 é pronunciado “seis”. Vamos aos dias da semana: dilun, dimeurz, dimerher, diriaou, digwener, disadorn, disul. Sim, tudo parece muito estranho.   

Alguns nomes indevidos

  • Teorema de Pitágoras: nomeado em homenagem ao matemático grego Pitágoras (570 a.C.- 495 a. C.), só que os matemáticos babilônios já o conheciam;
  • Amor platônico: amor contemplativo, sem interesse sexual, o que difere da concepção do amor ideal de Platão (428 a. C – 348 a. C.);
  • Curva de Gauss: conhecida como a curva da distribuição normal, foi inicialmente desenvolvida pelo francês Pierre Simon de Laplace (1749-1827), corrigida pelo alemão Carl Friedrich Gauss (1777-1855) e elaborada na sua versão final em 1821 por Laplace. Na cidade natal deste gênio da matemática, astronomia e física – a vila normanda de Beaumont-en-Auge – existe uma estátua do filho ilustre, onde embaixo se lê a inscrição: “Laplace veio ao mundo para solucionar todos os problemas que não conseguimos resolver.” (Haveria melhor homenagem?);
  • Grande Prêmio de Fórmula 1 de San Marino: é realizado na cidade italiana de Ímola, situada a 100 km do minúsculo país de San Marino (até o momento da redação deste Post, a seleção de futebol de San Marino, que participa regularmente das eliminatórias da Eurocopa e da Copa do Mundo, nunca havia ganhado uma partida oficial de futebol, das centenas já realizadas);
  • Gripe espanhola: leva esse nome porque foi a imprensa espanhola a primeira a noticiar a epidemia, já que os países envolvidos na Primeira Grande Guerra censuravam as informações, o que não acontecia na neutra Espanha. Durou de 1918 a 1920 e deve ter matado de 20 a 50 milhões de pessoas.  

Frase para sobremesa: Duas curtas expressões de Steinbeck: 1) Qualquer coisa que custa apenas dinheiro é barata. 2) Conseguimos encontrar tantas dores quando a chuva cai…

Bom descanso!

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