Escritores que ganharam o Prêmio Nobel de Literatura.
1961: Ivo Andrić (pronúncia: Andritch) (1892-1975): Primeiro e, até agora, único escritor sérvio a receber o Prêmio Nobel de Literatura. Nasceu de uma família católica em uma pequena cidade da Bósnia, na época pertencente ao Império Austro-Húngaro. Andrić começou a escrever em croata, depois passou a fazê-lo em sérvio (70% de sua obra), sendo que ele aprovava a ideia da criação de uma língua servo-croata, o que efetivamente ocorreu. O entendimento da distribuição dos idiomas nas repúblicas da antiga Iugoslávia não é uma brincadeira para crianças. Um Post futuro será dedicado a esse tema. Para resumir, por enquanto: sérvio e croata são praticamente o mesmo idioma (com algumas diferenças fonéticas e ortográficas). Só que o sérvio é escrito no alfabeto cirílico, ao passo que o croata utiliza o alfabeto latino. Da mesma forma os bósnios (idioma também muito parecido) usam o alfabeto latino enquanto seus vizinhos montenegrinos preferem o cirílico. Paremos por aqui.
A maior parte das obras de Andrić engloba romances históricos sobre a Bósnia e o domínio do Império Otomano. Como ele perdeu o pai de tuberculose aos dois anos de idade, mudou-se com a família da mãe para uma cidade às margens do Rio Drina. Na sua infância ele se encantava ouvindo histórias sobre as batalhas e sobre a ponte otomana que cruzava o rio. Foi daí que saiu sua obra-prima, o magnífico livro “Ponte sobre o Drina” (Na Drini čuprija), traduzido para o português diretamente do croata por Aleksander Jovanovic, Professor da USP na área. de idiomas da Europa Centro-Oriental. A obra aborda com maestria as questões da intolerância e as consequências do choque entre religiões (no caso o Cristianismo e o Islamismo). Se estiverem em dúvida sobre qual livro levar nas próximas férias, fica aqui a enfática sugestão.
Em 1911 Andrić publica seus primeiros poemas. Poucos anos depois, em 1914, ocorre em Sarajevo, atualmente capital da Bósnia-Herzegóvina, o assassinato do arquiduque Francisco Fernando, provável herdeiro do Império Austro-Húngaro. Como nós todos estudamos nos livros de História, esse evento foi o estopim para a eclosão da Primeira Guerra Mundial, devido à declaração de guerra entre a Sérvia e o Império Austro-Húngaro. A partir daí velhas alianças foram retomadas, o que levou a múltiplas declarações de guerra em grande parte da Europa. Pronto, estava montado o cenário de abomináveis ataques e destruições. E onde entra Andrić nesta questão? Ele era amigo íntimo do assassino, ao ponto de trocarem poemas para serem lidos. Embora não tendo tomado parte na conspiração, ele foi condenado a um ano de prisão, no qual se dedicou integralmente a leituras e estudo de línguas. Depois do desmembramento do Império Austro-Húngaro foi criado o Reino dos Sérvios, Croatas e Eslovenos, o qual se transformou posteriormente no Reino da Iugoslávia.
Andrić estudou História e Literatura em Zagreb (Croácia), Viena, Cracóvia (Polônia) e Graz (Áustria), onde fez o doutoramento. A partir daí ele iniciou uma movimentada carreira diplomática, tendo ocupado postos em Madri, Viena, Bucareste, Paris e Genebra. É interessante observar que vários laureados com o Nobel de Literatura eram diplomatas que gostavam de escrever. São pessoas, em geral, de grande cultura, motivadas com a Literatura e que encontram oportunidades para registrar no papel as impressões, ideias e ficções. No início da Segunda Guerra Mundial, Andrić era embaixador da Iugoslávia na Alemanha. Foi determinado que ele ficasse em prisão domiciliar em Belgrado, a capital do país. E o que faz um intelectual, já bastante conhecido como poeta e romancista, retido em casa, tendo o conforto de uma biblioteca, mesa e confortáveis cadeiras? Claro, ele escreve. Foi desse período que surgiram suas melhores obras, dentre elas a “Ponte sobre o Drina.” Em 1968, portanto com 66 anos de idade, ele se casa com uma mulher 20 anos mais jovem. Seu antecessor no Nobel (Saint-John Perse) havia se casado com 71 anos. O que acontece com esse pessoal, será a intensa dedicação à arte de escrever?
Línguas da França (VII)
Língua alsaciana
Também conhecida como Alsácio (em francês: Alsacien, em alemão: Elsässisch), a língua alsaciana é a primeira nesse Blog a não pertencer ao conjunto dos idiomas derivados do Latim. O alsácio está vinculado ao grupo germânico das línguas indo-europeias. Como o nome indica, esse idioma é falado de forma preponderante na região francesa da Alsácia (capital: Estrasburgo), que faz fronteira com a Alemanha e a Suiça. No entanto, redutos de falantes de Alsácio, oriundos da presença de imigrantes, também são encontrados nos EUA, notadamente no seio da comunidade Amish (grupo religioso protestante) e na cidade de Castroville, Texas, que recebeu um afluxo de imigrantes alsacianos em meados do século XIX. Na verdade, a língua alsaciana é composta por um conjunto de dialetos similares, mas que guardam suas particularidades fonéticas e ortográficas. Estima-se em cerca de 800.000 o número de falantes do alsácio, o que o torna a segunda língua regional mais falada da França (depois do occitano). Enquanto no início do século XX, aproximadamente 95% dos alsacianos falavam o idioma, este percentual hoje se reduz a 40%, formado principalmente por pessoas mais velhas. Existe também uma forte similaridade entre o alsácio e o alemão suíço.
A história da Alsácia é uma das mais curiosas no âmbito da geopolítica europeia, dado o grande número de vezes em que a região teve a soberania trocada entre a França e a Alemanha. Nas épocas antigas, os habitantes falavam línguas célticas (que serão o tema do próximo Post), até a chegada do Império Romano (60 a.C.), quando o latim começou a se popularizar. Em torno do ano 400 tribos germânicas invadiram a Alsácia, trazendo consigo o idioma próprio, um alemão antigo que, a partir do século IX, foi evoluindo para a língua alsaciana. A Alsácia, como parte do Sacro Império Romano-Germânico, foi cedida à França após a Guerra dos Trinta Anos, em 1648. Ela volta para a Alemanha em 1870, como consequência da Guerra Franco-Prussiana, assim permanecendo até o final da Primeira Guerra Mundial, quando retornou para o domínio francês por determinação do Tratado de Versalhes. Nessa época ficou proibido se comunicar em alemão dentro do território da Alsácia. Mas como o mundo dá suas voltas (obrigado, Galileu), a Alsácia foi novamente anexada pela Alemanha no curso da Segunda Guerra Mundial. Para encerrar essa história, ela volta em definitivo (?!) para a França em 1945. Não é difícil imaginar as fortes dificuldades fonéticas, ortográficas e gramaticais encontradas por alemães e franceses para aprenderem o outro idioma, que não o materno, dado se tratar de origens distintas e de pouquíssima interação linguística.
Algumas palavras e expressões em alsácio (para os leitores que falam ou estudaram alemão a semelhança é evidente): Gute Morje (assim como no alemão, também no alsácio os substantivos começam com letra maiúscula); Wässer (água), Hüs (casa), Mànn/Fràui (homem/mulher). “Obrigado” é Mersi, “por favor” é wënn’s beliebt, “desculpe” é ‘s düet mir Leid. Temos ainda: biss boll (até logo), Ich verstehe nitt (não compreendo), Ich häbb dir lïab (eu te amo). Dias da semana: Mandi, Zischdi, Mittwuch, Dunnerschdi, Fridi, Samschdi, Sunndi. Os pronomes pessoais: ich/dü/er, se, es (respectivamente ele, ela e o gênero neutro), mer, ehr, se. Números de um a dez: eins, zwei, drèi, viar, femf, sex, sewwa, ååcht, nîn, zeh.
Na língua alsaciana, em geral a sílaba tônica (a que é acentuada na pronúncia) é a primeira da palavra. Também de forma distinta ao alemão, o alsácio não possui o caso genitivo (aquele que indica posse), sendo para isso usada uma construção com o dativo.
Se existem alsacianos famosos? Claro que sim. Alguns exemplos: William Wyler (1902-81), aclamado diretor de cinema (Ben-Hur, Os melhores anos de nossas vidas, Da terra nascem os homens, Funny Girl), nascido em Mulhouse, então Alemanha, hoje França; Alfred Dreyfus (1859-1935), também originário de Mulhouse, militar francês acusado injustamente de um famoso caso de espionagem, Gustave Doré (1832-83), nascido em Estrasburgo, pintor e ilustrador de livros (muitos de nós já viram seus magníficos desenhos em Dom Quixote ou As fábulas de La Fontaine), Albert Schweitzer (1875-1965), médico e filósofo (Prêmio Nobel da Paz em 1952), nascido em Kaysersberg.
Língua bretã: será apresentada no próximo Post, quando iniciaremos a divulgação das línguas celtas.
Qual é a forma correta: Fui eu que fiz, fui eu quem fiz, fui eu quem fez? Resposta: as três são corretas (que bom se tudo na vida fosse assim!).
- Fui eu que fiz: o sujeito é que, um pronome relativo; o verbo é remetido ao antecedente do pronome relativo: foi ele que te lembrou; fui eu que ajudei você a estudar; somos nós que temos de pedir perdão.
- Fui em quem fiz: o sujeito é eu: quem fez isso? Eu; somos nós quem convidamos você; sou eu quem estou com fome; fui eu quem li este livro.
- Fui eu quem fez: o sujeito é quem, um pronome da terceira pessoa; somos nós quem convidou você; sou eu quem está com fome; fui eu quem leu este livro.
Frase para sobremesa: Dose dupla de Andrić: 1) O que não fere não é a vida, o que não passa não é a felicidade; 2) Não tenho medo dos seres humanos, mas do que de inumano está dentro deles.
Até a próxima!