Post-43

Escritores que ganharam o Prêmio Nobel de Literatura.

1960: Saint-John Perse (1887-1975): É o pseudônimo do escritor francês Alexis Léger, nascido na ilha caribenha de Guadalupe (Departamento Ultramarino da França), onde a família possuía plantações de café e de cana-de-açúcar. Ali ele viveu até os 12 anos de idade. Ao se indagar sobre a origem do seu pseudônimo, ele respondia que não sabia exatamente o motivo, talvez fosse só uma questão de sonoridade (justificativa pouco clara, mas absolutamente irrefutável). Perse escreveu apenas poesia. Se vocês estiverem seguindo com alguma atenção a lista dos laureados com o Nobel de Literatura, poderão constatar que temos agora uma sucessão de três poetas: Boris Pasternak (1958), Salvatore Quasimodo (1959) e Saint-John Perse (1960). Quando lhe perguntavam por que ele escrevia poesias, a resposta já vinha pronta: ”Ora, para viver melhor.” Perse seguiu uma ativa carreira diplomática, tendo atuado como secretário da Embaixada Francesa em Pequim (1916-21) e em Washington (1940-57).  Por sua campanha antinazista durante a Segunda Guerra Mundial, o governo francês de Vichy, liderado pelo marechal Pétain, retirou sua nacionalidade francesa.

Seu primeiro livro (Éloges) foi publicado em 1911. Quando morava na China escreveu uma de suas obras mais conhecidas (Anabase), publicada em 1924 e traduzida para o inglês por T.S.Eliot, Nobel de Literatura em 1948. Após esse lançamento, Perse ficou sem publicar por duas décadas, alegando que não se sentia à vontade para escrever enquanto atuava como diplomata. Nos EUA foi contratado como funcionário na renomada Library of Congress (a maior biblioteca do mundo) em Washington. Na mesma época recusou um posto de Professor na Universidade de Harvard. Casou-se tardiamente, em 1958, com uma norte-americana. Ainda em vida ele criou a Fundação Saint-John Perse, localizada na cidade francesa de Giens, onde veio a falecer. O livro Amers (1957) foi citado na lista do jornal Le Monde dos 100 melhores livros do século.

Cabe aqui um comentário sobre a dificuldade para tradução dos poemas de Perse. O texto original em francês às vezes apresenta aliterações (repetição dos mesmos fonemas no início de frases), as quais podem se perder na forma traduzida. O próprio autor solicitava a atenção dos tradutores em relação ao “respeito à ordem das palavras na frase” e o “respeito aos sons e à sua relação com o sentido.” Muito difícil. A opinião do filósofo alemão Arthur Schopenhauer (1788-1860) sobre o assunto é incisiva: “Poemas não podem ser traduzidos, mas apenas recriados poeticamente e o resultado é sempre duvidoso. Uma biblioteca de traduções é como uma galeria de arte que só expõe cópias.” Será que as poesias não seriam então mais traduzidas? Não cheguemos a tanto, mas aceitemos que elas possam ser recriadas. Um exemplo contundente é a obra clássica A Divina Comédia, escrita por Dante Alighieri (1265-1321). Os versos são compostos por tercetos (estrofes em três linhas) com as rimas da última palavra seguindo a sequência A-B-A no primeiro terceto, B-C-B no segundo, C-D-C no terceiro e assim por diante. Fico pensando como teria sido a tradução da Divina Comédia para o idioma japonês. Finalizo com George Bernard Shaw (Nobel em 1925, Post 14): “Mulheres são como traduções: as bonitas não são fiéis e as fiéis não são bonitas.”  

Línguas da França (VI)

A língua corsa

É a língua falada na Córsega (francês: Corse; corso: Corsica), a quarta maior ilha no Mar Mediterrâneo (depois da Sicília, Sardenha e Chipre)., berço do guerreiro Napoleão Bonaparte (1769-1821). É uma Região Administrativa da França. Inicialmente pertencia à República de Gênova, mas em 1768 a França invade a ilha e o Tratado de Versalhes (um deles) determina a cessão ao governo francês. No entanto, o italiano continuou a ser a língua da educação, da literatura e da religião. Só em 1859 o francês passou a ser o idioma oficial da Córsega. Geneticamente a população corsa está relacionada à etnia genovesa. Curiosamente a Córsega foi uma monarquia independente por um curto período após a Revolução Francesa (1789-96). Sob o aspecto da Fonética, a língua corsa soa como o italiano, guardando ainda similaridades com o português e, pasmemo-nos, com os dialetos da Toscana na época em que Dante Alighieri (1265-1321) começava a criar a base da língua italiana moderna. Com um certo exagero, podemos dizer que Dante, caso resolvesse nos revisitar, viajaria sem dificuldades linguísticas pelas vilas e aldeias da Córsega.

Historicamente o corso sempre foi considerado como um dialeto do italiano, o que hoje em dia, não reflete exatamente a identidade do idioma. Avalia-se que a população falante da língua corsa oscile em torno de 100.000 pessoas. Como acontece com muitas línguas românicas europeias o corso, catalogado pelo UNESCO como um idioma em claro perigo de extinção, também possui seus próprios dialetos, a saber, o do Norte, o do Sul e o da Área de Transição. Contudo o corso não é uma das línguas regionais reconhecidas pela França, as quais contemplam apenas o bretão (veremos em Post futuro), o basco, o catalão e o occitano.

Vamos a algumas palavras e expressões na língua corsa: Vi ringraziu (obrigado), dinunda (de nada), bonghjornu (bom dia, usa-se na manhã e na tarde), bona sera (boa noite ao chegar), bona notte (boa noite ao partir), bon viaghju (boa viagem), avredeci (até logo); cumu vi chjamate? (como te chamas?), mi chjamu … (me chamo…); ti tengu caru/cara (eu te amo; o corso é uma das pouquíssimas línguas em que existem essas formas para o masculino e o feminino), per piacè (por favor), scusatemi (desculpe-me), un capiscu micca (não entendo).

Números de 1 a 10: unu, dui, trè, quattru, cinque, séi, sétte, ótto, nove, déce. Os dias da semana: luni, marti, marcuri, ghjovi, venneri, sabbatu, dumenica.    

Não confundam:

Éthos: conjunto dos costumes no âmbito do comportamento e da cultura; traços que definem a identidade de uma cultura; estudo dos costumes sociais.

Êthos: caráter pessoal; temperamento predominante de uma personalidade. 

Frase para sobremesa: Vamos saborear duas iguarias de Perse: 1) O tempo é a única riqueza que é distribuída igualmente por todos os homens: a cada um são dadas precisamente 24 horas em cada dia que passa. 2) Os nossos caminhos são inumeráveis, mas incertas são as nossas estadias.

Bom descanso!

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