Post-39

Escritores que ganharam o Prêmio Nobel de Literatura.

1956: Juan Ramón Jiménez (1881-1958): Foi um poeta espanhol que soube amalgamar traços do Modernismo, do Simbolismo francês e do Romantismo alemão. Exerceu forte influência sobre os poetas da vanguarda espanhola, notadamente o celebrado Federico Garcia Lorca (1898-1936). Nascido em Moguer, na província da Andaluzia, Jiménez publicou seus primeiros poemas com apenas 18 anos de idade. Após a perda do pai passou por um profundo episódio de depressão (a qual o acompanharia pelo resto da vida), tendo sido internado por dois anos (1901-3) em um sanatório de Madrid. De 1911 a 1912, Jiménez escreve uma série de poemas eróticos, relatando alegadas aventuras sexuais com as freiras do sanatório em que ficara. Em um país católico como a Espanha, tal ousadia lhe rendeu severas críticas. Pela sua declarada oposição ao regime franquista, Jiménez é exilado em 1936 para os EUA. Ali passa o resto de sua vida, circulando entre Porto Rico, que foi sua morada mais longa, Miami e Washington, cumprindo ainda frequentes visitas a Cuba. Em San Juan, capital de Porto Rico, ele volta a ser internado por depressão pelo período de quase um ano. Recebeu o Nobel de Literatura em 1956, sendo que dois dias após a cerimônia, sua esposa (por sinal, a única, o que chega a ser uma raridade na lista dos laureados com o Nobel) vem a falecer de câncer no ovário. Abalado pelo forte golpe recebido, ele volta a entrar em processo depressivo, morrendo dois anos depois na mesma clínica, em San Juan, onde a esposa falecera. Seus restos mortais estão enterrados no cemitério de sua cidade natal na Andaluzia, onde também existe um museu em homenagem ao famoso poeta.

A obra mais emblemática de Jiménez é o livro de poesia em prosa “Platero e eu” (Platero y yo, 1914). Vejam a primeira frase, que muitos espanhóis sabem de cor: “Platero é pequeno, peludo, suave, tão macio por fora, que se diria todo de algodão.” Em tempo, Platero é um burrinho. Quem lê esse texto introdutório acredita se tratar de um livro infantil, o que absolutamente não é verdade, dadas as amplas críticas sociais encontradas na obra. A propósito, a opinião de Jiménez sobre livros infantis parece ser bem definitiva: “Eu nunca escreveria nada para crianças, porque acho que elas podem ler os mesmos livros que os adultos, com poucas exceções” (sem dúvida, um juízo bastante polêmico). O burrinho Platero é homenageado pelo escritor José Saramago (1922-2010), Nobel em 1998, no seu livro A jangada de pedra, onde também existe esse personagem. A epígrafe do conhecido romance “Fahrenheit 451”, de Ray Bradbury (1920-2012), é extraída de uma das obras de Jiménez: If they give you a ruled paper, write the other way (Se te derem um papel pautado, escreva do outro jeito), apontando para a inconveniência de se seguir cegamente as ordens e preceitos das autoridades.          

Línguas da França (II)

A língua occitana (continuação)

Na fonética do occitano existem, como em português, as vogais abertas (é) e fechadas (ê). A língua perdeu a letra “v”, usando em seu lugar o “b”. Alguns topônimos em occitano se assemelham bastante à sua versão em português: Espanha, Alemanha, França, Polonha. Para cidades francesas: Marselha, Niça, Tolosa, Bordéu, Avinhon. Vamos aos pronomes pessoais: ieu, tu, el/ela, nosautres/nosautras, vosautres/vosautras, eles/elas.

O idioma occitano pertence ao grupo daqueles que diferenciam os verbos “ser” e “estar”: èsser (ser) e èstre (estar). Os números de um a dez são facilmente identificáveis: um, dos, três, quatre, cinc, sièis, sèt, uéch, nòu, détz. Na sequência dos números cardinais merece destaque o 16 (setze), similar ao seize do francês. No português e espanhol é utilizado o paradigma somatório (dezesseis = dez e seis), o que, no occitano só ocorre a partir do número 17 (détz-e-sèt).

A semelhança do occitano com o idioma francês atual é claramente observada em diversas palavras: solelh (sol, em francês soleil), besoah (necessidade, em francês besoin), jorn (dia, em francês jour), totjorn (sempre, em francês toujours), jamai (nunca, em francês jamais), aurós (feliz, em francês heureux), fraire (irmão, em francês frère), sòrre (irmã, em francês soeur), dubèrt (aberto, em francês ouvert), formatge (queijo, em francês fromage), mercè (obrigado, em francês merci).

Os dias da semana em occitano são muito semelhantes aos nomes em catalão (v. Post 30), com diferenças mínimas (entre parênteses a versão em catalão): diluns (dilluns), dimars(dimarts), dimècres (dimecres), dijóus (dijous), divendres (igual no catalão), dissabte (igual no catalão), dimenge (diumenge).

Pequena amostra de palavras que se assemelham ao português: pont (ponte), plaça (praça), lenga (língua), ospitau (hospital). Assim como vimos nas línguas faladas na Espanha (à exceção do basco) e no mirandês de Portugal, a forte semelhança entre muitas palavras e expressões não é de se admirar, já que tais idiomas são filhos do mesmo pai (eu não poderia dizer da mesma mãe, posto que os idiomas são sempre masculinos), o vetusto latim.

Figuras de linguagem

Epêntese: intercalação de fonema não etimológico no interior de um vocábulo: stella (latim) → estrela; cangrejo (espanhol) → caranguejo; feo (espanhol) → feio.

Assimilação: duas consoantes diferentes viram duas iguais: persona pessoa; nostro → nosso; persicu → pêssego.

Consonantização: transformação de uma vogal em consoante: iam → já; Iesus → Jesus; uita → vida.

Nasalização: passagem de um fonema oral a nasal: nec → nem; bonu → bom.

Desnazalização: é o contrário do anterior: luna → lua; ponere → pôr.

Frase para sobremesa: Dois doces de brigadeiro vindos da brilhante pena de Jiménez: O poema deve ser como a estrela que é um mundo e parece um diamante. Só é arte o espontâneo que se submete ao consciente.

Até a próxima!

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