Post 38

Escritores que ganharam o Prêmio Nobel de Literatura.

1955: Halldór Laxness (Halldór Gudjónsson) (1902-98): Até agora o único escritor islandês a ter recebido um Nobel de Literatura. Nascido na capital do país (Rejkiavik), mudou-se, aos três anos de idade, para uma fazenda na região de Laxness, que é o topônimo utilizado para compor seu nome literário. Com 14 anos Halldór escreve seu primeiro artigo em um jornal local. Aí se inicia seu vasto acervo de 51 romances, além de diversos contos, poesias e peças de teatro. Em 1922, portanto com 20 anos de idade, viaja pela Europa e chega a Luxemburgo, onde se converte ao catolicismo, sendo batizado em um mosteiro e ali permanecendo durante um ano. Todavia, cinco anos depois ele renuncia à religião católica e passa a ser socialista (como são difíceis as escolhas na juventude). Nesse período, quando vivia nos EUA (1927-29), onde dava aulas e tentava escrever roteiros para Hollywood, Laxness declarou; “tornei-me comunista não pelos livros, mas ao observar os desempregados passando fome nos parques.” Antes de retornar à Islândia, ele ficou preso um curto tempo nos EUA por ter escrito artigos criticando o país (será que o carcereiro – que devia lhe levar comida todos os dias – poderia imaginar que estava controlando a vida de um futuro ganhador do Nobel?).

Em 1938, Laxness visita a União Soviética e escreve a favor do sistema e da cultura do país. Bastante inovador, ele resolve alterar a arcaica ortografia do islandês em seus livros, atualizando a grafia de algumas letras para melhor se ajustarem à sonoridade das frases. Obviamente, grupos mais conservadores rechaçaram com veemência tal iniciativa. Em 1941 traduziu para o islandês o livro de Hemingway A farewell to Arms (v. Post 37), com a curiosa coincidência de que Laxness seria galardoado com o Nobel em 1955, portanto no ano seguinte ao do prêmio de Hemingway. Em 1948, por ter protestado contra a implantação de uma base norte-americana na Islândia, todos os seus livros foram proibidos nos EUA. Cabe destacar que, à época, ele já era um escritor de reconhecimento internacional. Como existe um aforismo de que as coisas ruins vêm todas de uma vez, tal opinião também pode ser válida para as coisas boas: em 1952 Laxness recebe o Lenin Peace Prize, em 1953 o prêmio do World Peace Council, em 1955 o Nobel de Literatura e em 1957 dá a volta ao mundo com a esposa, o que também não deixa de ser um prêmio. Na década de 1960 ele se envolve ativamente com o teatro, como produtor e escritor de peças. Na sua velhice foi acometido pela doença de Alzheimer, vindo a falecer pouco antes de completar 96 anos. Ele é o ganhador do Nobel de Literatura que por mais tempo usufruiu do prêmio (43 anos). O nigeriano Wole Soyinka, nascido em 1934 e ganhador do Nobel em 1986 segue firme na tentativa de quebrar essa marca. Aguardemos.

Deixo o parágrafo final para destacar a obra-prima de Laxness, “Gente independente” (Sjálfstaett fólk, 1935). Trata-se do maior épico da literatura islandesa, retratando a saga de um camponês que consegue ajuntar dinheiro para comprar seu próprio terreno. A trama é povoada de superstições, lendas e fantasmas, de que Laxness tanto gostava (no seu discurso de recebimento do Nobel ele agradece à avó por tê-lo iniciado no fascinante mundo do folclore e do sobrenatural). O livro, que conta com uma acurada caracterização das personagens, é sempre citado como um dos maiores romances do século XX, com o autor, muito justamente, sendo comparado a Tolstoi. É uma obra magnifica, superlativa, que merece seu lugar na estante de quem aprecia ótimas leituras, ou seja, de todos nós.         

Línguas da França (I)

Da mesma forma como explicado no Post 29, não é objetivo desse Site conduzir estudos para aprendizado das línguas mais conhecidas. Neste aspecto o idioma francês, que já teve sua época áurea no âmbito das relações diplomáticas e comerciais, continua sendo atualmente bastante divulgado, não apenas por conta de sua esplêndida literatura, como também pelos filmes e canções, tudo isso aliado à agradável musicalidade da língua.

Comecemos pela apresentação do idioma occitano (ou ocitano), também conhecido como Langue d’Oc em francês ou Lenga d’Oc na sua versão original. Este grupo linguístico, que ocorre fundamentalmente no Sul da França, se contrapõe ao grupo da Langue d’Oïl, cujos idiomas específicos são encontrados na parte Norte do país. Estes curiosos nomes Oc e Oïl correspondem à grafia da palavra “sim” nas respectivas regiões.

A antiga região histórica da Occitânia abrangia aproximadamente o terço inferior da superfície do país. Sob o domínio romano (após 355) a maioria da Occitânia era conhecida como Aquitânia, a qual se inseria na Provincia Romana (de onde veio o nome de Provence para designar parte do território). A língua occitana é considerada a língua regional mais falada da França. Na época antiga ela se sobrepunha ao latim. As primeiras divergências entre os dois idiomas começaram a surgir no século VIII. No século XII já se observava uma prolífica literatura em occitano, principalmente em relação aos trovadores, aqueles que compunham e cantavam obras poéticas. A partir do século XIII o idioma occitano se constituía na língua científica da região meridional da Europa Ocidental, servindo também como língua franca (também conhecida como língua de contato, ou seja, aquela utilizada por grupos multilíngues para fins de comunicação). Foi só no século XVIII que o occitano começou a ser gradativamente substituído pelo francês. Embora não haja consenso, atualmente o occitano pode ser considerado como sinônimo aproximado do provençal. Vimos no Post 2 que o escritor Frédéric Mistral, que escrevia em provençal, foi contemplado com o Nobel de Literatura de 1904. Há linguistas que consideram o dialeto gascão (região histórica da Gascogne, território situado ao sul de Bordeaux) como um idioma à parte dentro do grupo occitano. Mas existem ainda outros dialetos de menor importância como o auvernês (falado na região histórica da Auvergne, cuja maior cidade é Clermont-Ferrand) o vivaro-alpino (falado em parte da Provence e em enclaves linguísticos nas regiões italianas de Piemonte e Liguria), o languedociano (falado na região histórica do Languedoc, onde ficam Toulouse e Montpellier) e o limusino (falado na região histórica do Limousin, cuja maior cidade é Limoges). Para um certo incômodo dos catalães, o seu idioma (Posts 29 e 30), em um apanhado histórico, seria também um dialeto do occitano. Para quem passeia pelas atraentes cidades da Provence e de outras partes do Sul da França, muitas vezes não pode imaginar a diversidade linguística daquela região.

Considera-se, em linhas gerais, que a língua occitana, com todas as suas variantes, é falada no Sul da França, em Mônaco, no Vale de Arán (Espanha, v. Post 37), na Guarda Piemontesa (em occitano La Gàrdia, cidade italiana na Calábria, quase na ponta da bota geográfica, portanto bem distante da França; trata-se um curioso enclave linguístico, mas já vimos outros, como o catalão falado na cidade de Alghero na Sardenha).

Estima-se, em números médios, a existência de aproximadamente um milhão e meio de falantes passivos do occitano (capazes de entender) e cerca de 300.000 falantes ativos (capazes de entender e falar). Tais cifras podem, no entanto, sofrer grandes variações conforme as referências da literatura (continua no próximo Post).

Figuras de linguagem

Paráfrase: maneira diferentede dizer algo; interpretação de um texto.

Braquilogia: obscuridade do texto por excessiva concisão; brevidade na expressão verbal; a locução é representada por apenas um de seus elementos, que adquire o significado da locução completa: comprar dólar no paralelo (por mercado paralelo); o carro vem com direção (por direção hidráulica); o dentista arrancou-lhe um canino (por um dente canino).

Frase para sobremesa: Em um mundo, que em tudo se tornou duvidoso, filosofando procuramos manter a direção, sem conhecer o destino (Karl Jaspers, 1883-1969)

Bom descanso!

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