Post 37

Escritores que ganharam o Prêmio Nobel de Literatura.

1954: Ernest Hemingway (1899-1961): Foi um escritor norte-americano de enorme sucesso junto ao público leitor. Muitos de seus personagens são extraídos da própria vida que ele conduziu, plena de aventuras e de paixões. Sobreviveu a dois acidentes com pequenos aviões na África, lutou em, pelo menos, duas guerras e ainda passou por quatro casamentos e por um rosário de amantes. Praticante entusiasmado da caça de grandes animais, das corridas de touros e da pesca em alto mar, obcecado viajante, além de beberrão, sedutor e sempre rodeado de amigos, Hemingway tornou-se uma lenda ainda enquanto vivo, vindo a falecer de maneira dramática.

Na sua juventude sempre quis se alistar no exército (era a época da Primeira Grande Guerra), mas um problema de visão atrapalhou seus planos. Decidido a ir à guerra de qualquer maneira (como alguém pode sentir tanta atração pelo combate?), Hemingway trabalhou na França como motorista de ambulância da Cruz Vermelha. Ferido por uma bomba, foi forçado a retornar aos EUA. No entanto, logo depois, em 1921, recém-casado, ele já estava de novo em Paris, agora trabalhando como jornalista. Lá encontrou diversos artistas norte-americanos expatriados, principalmente escritores, a exemplo de Ezra Pound (1885-1972), F. Scott Fitzgerald (1896-1940) e Gertrude Stein (1874-1946), os quais ele designava como sendo a Geração Perdida. Com o dinheiro auferido, ele costumava viajar à África, ali ficando alguns meses caçando os grandes animais selvagens. Viveu de 1931 a 1939 em Key West, na Flórida, onde sua antiga casa se converteu em um museu. Em seguida, viveu quatro anos na Espanha, o país de que mais gostava, inclusive trabalhando como correspondente na Guerra Civil Espanhola (1936-9). Mais do que isso, ele se juntou às forças republicanas para combater os nacionalistas, liderados pelo General Francisco Franco (1892-1975). Vários desses episódios serviram de inspiração para seus livros – conforme veremos a seguir – da mesma forma como ocorreu com suas múltiplas conquistas femininas. É de Scott Fitzgerald o pertinente comentário de que “você vai precisar de uma mulher a cada livro”. Ao final da Segunda Grande Guerra morou vários anos em Cuba, se dedicando aos perigos da pesca do marlim.

Vamos às suas principais obras. O primeiro sucesso editorial de Hemingway foi o romance “O sol também se levanta” (The sun also rises, 1926), ambientado em Paris, com a descrição da atribulada vida dos expatriados, seguido por “Adeus às armas” (A farewell to Arms, 1929), um livro com forte componente autobiográfico, pois relata as venturas e desventuras de um tenente norte-americano que trabalha no exército italiano como condutor de ambulância. Depois de alguns anos escrevendo obras menores, pelo menos na sua repercussão junto ao público, chegou a vez do romance que muitos consideram como sendo sua obra-prima: “Por quem os sinos dobram” (For whom the bell tolls, 1940). Este belo título foi extraído de um poema do inglês John Donne (1572-1631), cuja transcrição resumida é: “A morte de cada homem me diminui, porque sou parte da humanidade. Por isso, não pergunte por quem os sinos dobram, eles dobram por ti.” O livro aborda a história de um norte-americano que, durante a Guerra Civil Espanhola, é recrutado para fazer explodir uma ponte. A obra foi transformada em filme (1943) com direção de Sam Wood (1883-1949) e tendo no elenco principal Gregory Peck (1916-2003) e Ingrid Bergman (1915-82). Em 1952 é publicado “O velho e o mar” (The old man and the sea), escrito em Cuba em oito semanas, no ano de1951. Também foi convertido em filme (1958) com direção de John Sturges (1910-92) e estrelado por Spencer Tracy (1900-67). É a obra citada na justificativa para o Prêmio Nobel que viria em 1954. O próprio autor comenta que “isso é o melhor que posso fazer”. Lançado em 1952, o livro lhe garante o Prêmio Pullitzer de Ficção em 1953 e, no ano seguinte, o Nobel. Hemingway não pôde comparecer à cerimônia em Estocolmo por ainda estar se recuperando dos traumas físicos sofridos nas duas quedas de pequenos aviões na África. Na ocasião ele enviou uma mensagem de agradecimento ao Comitê, na qual destaca que “o escritor é a profissão mais solitária do mundo”. Comenta-se também que ele teria dado uma entrevista dizendo que outros escritores norte-americanos mereceriam o galardão mais do que ele, mas que ele aceitaria de bom grado o prêmio financeiro. O conto “As neves do Kilimanjaro” (The snows of Kilimanjaro), começou a ser escrito em 1936 e só foi terminado em 1952. O filme correspondente é mais conhecido do que o conto original. Foi dirigido por Henry King (1886-1982) e estrelado por Gregory Peck e Ava Gardner (1922-1990). A conhecidíssima frase de que Gardner seria “o animal mais belo do mundo”, que ela dizia detestar e que, nos dias de hoje, ninguém mais teria a coragem de pronunciar, é atribuída a Hemingway. No entanto, uma corrente de pensadores (ou pesquisadores, jornalistas, colunistas) afirma ter sido proferida pelo poeta e cineasta francês Jean Cocteau (1889-1963). Este é o tipo de questão que, muito provavelmente, nunca será dirimido, posto que as eventuais testemunhas oculares não mais existem. Reza a lenda – pois uma figura famosa está sempre cercada de histórias, verídicas ou não – que Hemingway havia se hospedado no Hotel Ritz em Paris em 1928. Ao retornar a esse hotel em 1956 (28 anos depois!) ele é informado de que, no depósito de bagagens há um baú com pertences do escritor. De fato, centenas de folhas manuscritas estavam ali guardadas, as quais serviram de substrato para várias outras publicações.

O estilo de escrita de Hemingway é claramente minimalista, com sentenças simples e curtas, contendo poucos adjetivos e advérbios e quase desprovidas de emoção. Há quem aprecie essa modalidade de redação, a qual, pessoalmente, não me agrada muito. É uma flor bela, mas sem fragrância. Uma última palavra sobre o final da vida de Hemingway. Sofrendo de frequentes episódios de depressão e atacado pela perda de memória, ele comete suicídio com um fuzil de caça. Seu pai também havia morrido da mesma maneira, assim como ocorreu com sua neta, a atriz Margaux Hemingway (1954-1996), a qual, portanto, chegou a conhecer o avô.   

Línguas da Espanha (IX)

Outras línguas da Espanha

Neste Post encerraremos o ciclo de nove capítulos sobre as diversas línguas faladas na Espanha, obviamente além do próprio espanhol. Vimos o catalão, o galego, o basco e o asturiano. Mas ainda restam outros idiomas de menor expressão, ou seja, com um número mais reduzido de falantes.

Língua aragonesa

O aragonês, coloquialmente denominado de fabla, tem origem no século VIII como um dialeto do latim. Ele foi inicialmente desenvolvido nas montanhas dos Pirineus, contando, portanto, com um forte substrato basco. Atualmente o aragonês é falado em algumas partes da Região Autônoma de Aragão (capital: Zaragoza), localizada no Nordeste da Espanha e fronteiriça à Catalunha. É considerado, dentre as línguas românicas (idiomas indo-europeus que se originaram da evolução do latim) como aquela com o maior perigo de extinção. Estima-se que apenas cerca de 10.000 pessoas ainda usem o idioma aragonês, o qual como todas as outras línguas regionais espanholas, foi proibido durante o período do franquismo.

Alguns nomes e expressões em aragonês (a maioria delas dispensa tradução para o português): Buen dia/Buena tarde/Buena nueit; Por favor; Bienveniu; No entendo; Gracias; Zarrau (fechado)/Ubierto; fillo (filho), muller, choben (jovem); Lunes/Martes/Miércoles/Chueves/Viernes/Sabado/Domingo. Para os caros leitores que vêm estudando com afinco este bloco de línguas da Espanha, poderíamos fazer um teste no próximo Post (valendo pontos para passar) em que vocês identificariam a correspondência dos dias da semana com suas respectivas línguas. Missão impossível! É tudo tão parecido que acho que até os próprios falantes se confundiriam.  

Língua aranesa

A região do Valle de Arán localiza-se no extremo noroeste da Catalunha, fazendo fronteira com a França. Naqueles vales montanhosos de relvas verdes e águas cristalinas, polvilhados de pequenas aldeias, é falado o idioma aranês. O número de usuários não chega a ultrapassar 3.000. Trata-se de uma variante do dialeto gascão, vinculado ao grupo das línguas occitanas, o qual será nosso próximo prato no cardápio. Desde 1984 o ensino do aranês é obrigatório no curso fundamental e desde 2006 ele é umas línguas oficiais da Comunidade Autônoma da Catalunha. Que tal apresentarmos os dias da semana? Deluns/Dimars/Dimèrcles/Dijaus/Divendries/Dissabte/Dimenge. Se tiverem a paciência de retornar ao Post 30 verificarão a forte semelhança com o catalão. Alguns nomes e expressões: Bon jorn (bom dia), Bon vrèspe (boa tarde), Bone nueit (boa noite), Ne compreni pas (não entendo), hésta (festa), huec (fogo), castéth (castelo), mèu (mel) e, naturalmente, Mercès (obrigado).    

Figuras de linguagem

Epíteto: Palavra ou expressão que se associa a um nome para qualificá-lo: imbecil é o epíteto que melhor lhe cabe; qual o melhor epíteto para tanta beleza?

Frase para sobremesa: As trufas distribuídas no Post anterior, serão agora apenas duas, ambas vindas do nosso homenageado de hoje: A felicidade em pessoas inteligentes é das coisas mais raras que conheço; A sabedoria dos velhos é um grande engano: eles não se tornam mais sábios, mas sim mais prudentes.

Até a próxima!

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