Post 35

Escritores que ganharam o Prêmio Nobel de Literatura.

1952: François Mauriac (1885-1970): Este escritor francês é conhecido por sua visão cristã da vida, notadamente em relação aos conflitos existentes entre o amor da religião e as tentações a que todos nós estamos sujeitos. Conforme o crítico Otto Maria Carpeaux (1900-78), autor da emblemática obra “História da Literatura Ocidental”, Mauriac é o maior representante do romance psicológico francês. Muitos o consideram como sendo o segundo maior escritor francês, apenas superado pelo imbatível Marcel Proust (1871-1922). Natural de Bordeaux, Mauriac era filho de um banqueiro, que veio a falecer quando o bebê tinha apenas dezoito meses, deixando assim uma família de cinco filhos somente aos cuidados da mãe. Mauriac, que foi educado em uma escola católica, reconhece ter sido profundamente influenciado pelo filósofo Blaise Pascal (1623-62), principalmente nos aspectos da Lógica e da Razão. Em 1909 ele lançou seu primeiro livro “As mãos unidas” (Les mains jointes), uma sucessão de poemas de grande sensibilidade. Todavia, o sucesso literário só foi atingido bem mais tarde, em 1922, com o romance “O beijo ao leproso” (Le baiser aux lepreux), o qual descreve os eventos de um casamento infeliz, cujo desenvolvimento se torna independente das ações dos personagens. Em 1924, com a carreira de escritor em plena ascensão, Mauriac recebe o Grande Prêmio da Academia Francesa pelo livro “O deserto do amor” (Le désert de l’amour), traduzido para o português pela escritora brasileira Raquel de Queiroz. Nove anos depois é aceito o ingresso de Mauriac na prestigiosa Academia Francesa de Letras. Já sendo um nome bastante reconhecido na França, ele passa a atuar também como colunista dos renomados periódicos Le Figaro e L’Express. Na mesma época Mauriac lidera um manifesto contra a pena de morte na França. Anos mais tarde, após a libertação da França, com o fim da Segunda Guerra Mundial, é estabelecida uma discussão pública com Albert Camus (Nobel em 1957), na qual Mauriac critica a posição vingativa de Camus a respeito dos colaboradores nazistas, sugerindo um abrandamento das possíveis penas a eles atribuídas. Malgrado sua forte formação católica, Mauriac condena enfaticamente a Igreja Católica pelo apoio ao General Francisco Franco (1892-1975) na Guerra Civil Espanhola (1936-9).

A obra mais conhecida de Mauriac é o romance Thérèse Desqueyroux (pronúncia: dequeiru), publicado em 1927. Conforme pesquisa feita pelo jornal Le Figaro, o livro faz parte da lista dos maiores romances franceses do século XX. A tradução para o português ficou a cargo da competente pena do poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade (1902-87). Trata-se de um livro curto em extensão, mas que possui uma vigorosa carga psicológica. A história aborda o julgamento de Thérèse, acusada de ter envenenado o marido com arsênico. Como a vítima não veio a falecer e, inclusive, depôs a favor da esposa, o processo é arquivado. Na solitária volta para casa, Thérèse vai refletindo sobre como seria agora o relacionamento com o esposo e a sua vida em geral. Mauriac relata que, na redação da obra, usou métodos que foi buscar na concepção do cinema mudo, tais como a abertura repentina do romance e o emprego frequente de flashbacks. Verifica-se, portanto, um caminho inverso, com o cinema servido de inspiração para o livro. Mas a grandeza da obra fez com que ela fosse filmada em 1962, recebendo, no Brasil, o título de “Relato íntimo” (não seria mais adequado nomear o filme com o próprio título do romance?). A película, dirigida por Georges Franju (1912-87), conta com um primoroso elenco: Emmanuelle Riva (1927-2017), que todos conhecem do filme “Hiroshima, meu amor”, no papel título, e Philippe Noiret (1930-2006) como o marido. Já que, às vezes, não conseguimos deixar de falar sobre cinema, cabe o registro sobre Anne Wiazemsky (1947-2017). E quem foi essa mulher? Ora, uma das esposas do cineasta Jean-Luc Godard (1930-2022), que apresentou o seguinte escalonamento de cônjuges: Anna Karina, de 1961 a 67, a citada Anne Wiazemsky, de 1967 a 1970 e Anne-Marie Miéville, de 1971 até a morte de Godard, todas, portanto, com o prenome de Ana ou suas variações. Wiazemsky atuou em filmes muito conhecidos, como “A Chinesa” de Godard e “Teorema” de Pasolini. Vocês me perguntam, o que tem ela a ver com a nossa história? Muita coisa, pois era neta de François Mauriac.          

Línguas da Espanha (VII)

A língua asturiana

Como o catalão, o galego e o mirandês, vistos em Posts anteriores, o idioma asturiano também pertence ao ramo das línguas românicas no grupo indo-europeu. Ela guarda fortes semelhanças com a língua mirandesa (v. Post 25), falada no noroeste de Portugal. O asturiano (asturianu ou bable) é o idioma oficial, junto com o castelhano, no Principado de Astúrias (Principáu d’Asturies), uma das 17 regiões autônomas (estados) da Espanha. Localizado no norte do país, sua capital é Oviedo (Uviéu), embora a maior cidade seja Gijón (Xixón). O nome “Principado” tem origem em decreto estabelecido por João de Castela em 1388, conferindo ao herdeiro da Coroa espanhola o título nobiliárquico de Príncipe das Astúrias. Para os interessados em Literatura, como é definitivamente o nosso caso, o Prêmio Príncipe de Astúrias é um dos mais conceituados do mundo. Ele foi instituído em 1980, quando o herdeiro ao trono espanhol era o príncipe Felipe. Com sua ascensão ao trono em 2014 (agora com o nome de Felipe VI), o prêmio foi renomeado para Princesa de Astúrias, em conformidade com o gênero feminino da herdeira Leonor. As premiações ocorrem em diversas áreas do conhecimento: Artes, Comunicação, Cooperação Internacional, Ciências Sociais, Esportes (a seleção brasileira de futebol foi contemplada em 2002), Investigação Científica, Concórdia (contribuição para a paz universal) e Letras, que é o nosso campo de maior interesse. Já receberam o laurel de Letras diversos escritores galardoados com o Prêmio Nobel de Literatura, além de outros célebres autores, muitos já falecidos, outros que não foram contemplados (ainda ou talvez nunca o serão), a exemplo de Ismail Kadaré, Margaret Atwood, Paul Auster, estes três sempre presentes nas listas das casas de aposta para o Nobel de Literatura, Philip Roth, Amos Oz, Paul Auster, Artur Miller, Juan Rulfo, o cubano Leonardo Padura e a brasileira Nélida Piñon (premiada em 2005). Desculpando-me pela voluntária digressão, proponho voltarmos ao idioma asturiano.

Estima-se que cerca de 100.000 nativos se expressem em asturiano como primeira língua, ao passo que 450.000 o façam como segunda língua. Ao contrário, por exemplo, do catalão, as escolas não são obrigadas a oferecer o estudo do idioma, o qual tem um caráter apenas voluntário para os alunos.  Existem três subdialetos do asturiano, a saber, o central, o ocidental e o oriental (já havíamos comentado como é incrível encontrar variações dialetais em línguas faladas em uma restrita área geográfica). Mas será que, além da fala, existem grafias diversas para cada um dos dialetos? Claro que sim. Vejamos, por exemplo a palavra “olho”: güeyu, güechu e güiyu, seguindo-se a mesma ordem apresenta acima. (continuação no próximo Post)

Figuras de linguagem

Tricolon: semelhante ao assíndeto, visto no Post 6, que é a ausência de conjunção coordenativa entre as palavras ou orações. Só que no Tricolon, trata-se exatamente de três palavras: vim, vi, venci; the good, the bad and the ugly.

Parassíntese: processo de formação de palavra por prefixação e sufixação, simultaneamente: anoitecer (a + noite + ecer).

Frase para sobremesa: Vamos servir aqui duas frases de Mauriac: 1) O romancista é, de todos os homens, aquele que mais se parece com Deus: ele é o imitador de Deus. 2) Qualquer um sabe proferir palavras enganadoras; as mentiras do corpo exigem outra ciência.

Até a próxima!

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