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Escritores que ganharam o Prêmio Nobel de Literatura.

1951: Pär Lagerkvist (1891-1974): Foi um escritor sueco de grande versatilidade, produzindo poemas, novelas, peças de teatro, dramas e contos. Suas obras geralmente abordam o tema – relevante e eterno – dos conflitos entre o bem e o mal. Apesar de ter recebido uma educação religiosa tradicional, Lagerkvist rompeu com o Cristianismo na adolescência, mas sem se tornar um crítico muito severo. Durante o período da Primeira Guerra ele viveu em Paris e na Dinamarca. Sua primeira publicação foi “Angústia” (Ångest, 1916), um livro de poemas que abordavam o medo da morte, de grande significado no decorrer da guerra mundial. Cerca de dez anos depois ele, ainda jovem, publica uma Autobiografia “Guest of reality” (Gäst hos verkligheten, 1925), seguido, no ano seguinte, por um lírico livro de poemas, “Songs of the Heart” (Hjärtats sånger), dedicado à sua segunda esposa, com a qual ficou pelo resto da vida. Seu primeiro grande sucesso de público e crítica foi o livro “O Carrasco” (Bödeln, 1933), uma narrativa dura contra o Totalitarismo. Essa obra, na qual despontam fortemente os sentimentos de paixão e raiva, aborda o papel simbólico do executor da pena capital desde a Idade Média. No entanto, foi com o romance “O Anão” (Dvärgen) em que Lagerkvist alcançou a merecida fama internacional. O enredo, passado na Renascença Italiana, é composto por histórias fragmentadas que se entrecruzam, lançando um forte caráter de pessimismo sobre o futuro da espécie humana.   

Em 1950, portanto um ano antes de receber o Nobel de Literatura, Lagerkvist publica a obra que seria o carro-chefe de suas produções literárias: o livro “Barrabás” (Barabbas), que encontrou uma esfuziante recepção por parte do público. Trata-se de uma biografia romanceada sobre o controverso personagem bíblico Barrabás, condenado à morte por ataques contra as forças romanas que governavam a Palestina. Seu nome vem do aramaico Bar Abbas, que significa “filho do pai” (aliás, uma etimologia de lógica irrepreensível). Como é do nosso conhecimento, Pôncio Pilatos, na época governante da Judeia, ainda um pouco inseguro em relação à conveniência da condenação de Cristo, mandou trazer Barrabás ao palco – onde também estava Cristo – para que a população, em um plebiscito de urros, vaias e aplausos, escolhesse quem receberia o indulto do governo por ocasião dos feriados religiosos hebraicos. A turba preferiu a libertação de Barrabás. O premiado escritor francês André Gide, Nobel em 1947, aclamou o romance como uma “obra-prima”, o que, possivelmente tenha contribuído para a premiação de Lagerkvist com o Nobel. A maior parte da obra descreve a vida de Barrabás (ou seja, sua possível vida) após o marcante acontecimento, onde se mesclam os sentimentos de perplexidade, arrependimento, esperança e tantos outros que compõem a existência da maioria das pessoas. Sabe-se que um escritor, além de saber redigir bem, tem também de contar com um pouco de sorte. Hollywood decidiu filmar o romance em 1961, tendo na direção o aclamado norte-americano Richard Fleischer (1916-2006). Como na época ainda não existiam os truques de computador, foram contratados mais de dez mil figurantes para participarem das filmagens. A primeira cena do filme foi rodada em uma pequena cidade italiana no dia em que ocorria um eclipse solar, o que muito ajudou na criação de uma atmosfera fúnebre. O ator que fez o papel-título foi o muito conhecido mexicano Anthony Quinn (1915-2001). Para terminar, uma homenagem à escrita inspirada de Lagerkvist, representada pela conhecida frase encontrada no livro Sibyllan (A Sibila,1956): A malevolência, tal como o amor, precisa de poucas palavras.   

As línguas da Espanha (VI)

A língua basca (continuação)

Querem ler algo absolutamente exótico? Vejam os dias da semana em basco, começando com a segunda-feira: astelehen, astearte, asteazken, ortzegun, ortzirale, larunbat e igande. Mesmo aqueles leitores mais dedicados ao estudo de idiomas não conseguirão perceber alguma semelhança com qualquer língua. Outra curiosidade do basco: não há pronomes pessoais para a terceira pessoa, seja do singular ou do plural, vale dizer, os conhecidos “ele”, “ela” e “eles”. Mas como fazem então? Ora, usam em seu lugar os pronomes demonstrativos, como por exemplo, hau (este). Desta forma o quadro dos pronomes pessoais fica restrito a: ni (eu), hi (tu ou você), gu (nós), zu (vós), zuek (vocês). O idioma basco usa e abusa dos sufixos. Assim, por exemplo: etxe (casa), etxea (a casa), etxeat (as casas), ou seja, os artigos e numerais são incorporados ao final dos substantivos, exatamente ao contrário das línguas mais conhecidas, incluindo o português. Para quem pensa muito em comida, vamos lá: gozária (café da manhã), bazkária (almoço) e afária (jantar). Existe diferenciação entre os verbos “ser” izan) e “estar” (egon), o que, conforme já vimos, não ocorre em diversos idiomas do mundo ocidental, como o inglês (to be), francês (être) e alemão (sein). Querem um outro pequeno detalhe? Em basco a palavra “quando” só é encontrada na forma interrogativa (p. ex. quando você vai?), não existindo nas orações afirmativas (eu sairei quando o carro chegar). Para tal situação lança-se mão de sufixos. O conhecido movimento separatista ETA, que felizmente já abandonou a luta armada e o terrorismo, é a sigla de Euskadi Ta Azkatasuna, significando “Terra Basca e Liberdade”.

Deixamos para o final a panóplia de casos gramaticais existentes no idioma basco. Como todos sabemos, os casos gramaticais indicam, grosso modo, a função da palavra na frase. Os bascos usam, por exemplo, o exótico caso ergativo, encontrado também no groenlandês, georgiano e checheno. Isto significa que o agente de um processo, ou seja, o sujeito, se for de um verbo transitivo, é flexionado conforme as desinências correspondentes. Por exemplo, se digo “eu como o pão”, o “eu” deve ser flexionado. O caso nominativo (aquele que indica o sujeito da frase) só é usado como sujeito de verbos intransitivos. Portanto, em “eu durmo”, o sujeito “eu” é grafado de forma distinta do que em “eu como o pão”. Pergunto, como se pode dormir tranquilamente quando se está exposto a tantas variações?     

Vamos aproveitar o ensejo para listar os outros casos gramaticais encontrados no idioma basco: absolutivo (é o nome que se dá ao caso nominativo quando ele indica o sujeito de um verbo intransitivo), os tradicionais acusativo (indica o objeto direto), dativo (indica o objeto indireto), genitivo (indica possessão). Estes três últimos casos são encontrados no alemão, russo e vários outros idiomas. Só que no alemão os substantivos não são geralmente flexionados, apenas os adjetivos, pronomes, numerais etc. No russo, e aí está uma de suas grandes dificuldades, os nomes também são flexionados e observemos que lá existem três gêneros. Escreveremos mais sobre isso quando os respectivos idiomas forem abordados em Posts futuros. E como fica com o português? Pois bem, seguimos o caminho mais fácil, usando as preposições e pronomes oblíquos para aliviarem nossa vida. Não se impacientem, isso chegará na hora certa. Continuemos com os casos: instrumental (indica o objeto com o qual realizamos a ação), comitativo (dá o sentido de acompanhamento), locativo (local de permanência), ablativo (indica a origem do movimento), alativo (indica o objetivo do movimento), terminativo (indica o término, como p. ex. a preposição/ advérbio “até”), direcional (direção do movimento), benefactivo (o beneficiário de uma ação), destinativo (indica a destinação inanimada) e inessivo (local onde um objeto se encontra). São 16 casos em basco. Isto significa que os substantivos, adjetivos, pronomes, numerais, todos eles devem ser flexionados de acordo com as desinências correspondentes. Ufa!       

Figuras de linguagem

Aporia: Figura pela qual o orador simula uma hesitação a propósito daquilo que pretende dizer. Em Aristóteles: paradoxo nascido da existência de raciocínios igualmente coerentes e plausíveis que alcançam conclusões contrárias. A origem da palavra vem do grego aporos (a-não + póros-passagem, isto é, “que não tem passagem, que está embaraçado”).

Antiptose: Emprego de um caso por outro ou de uma preposição por outra: sou melhor que ti; amor do próximo.

Frase para sobremesa: O útil (economia), o bom (ética), o belo (arte) e o verdadeiro (filosofia) compreendem todo o saber (Benedetto Croce, 1866-1952)

Bom descanso!

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