Escritores que ganharam o Prêmio Nobel de Literatura.
1950: Bertrand Russell (1872-1970): Um dos maiores intelectuais do século XX, brilhante em diversas áreas do conhecimento, Bertrand Arthur William Russell, 30 conde Russell, nasceu no País de Gales (embora sempre se considerasse como inglês) no seio de uma família altamente aristocrática. Seu avô paterno fora por duas vezes primeiro-ministro da Inglaterra nas décadas de 1840 a 1860. Russell, que tinha as formações universitárias de matemático e de filósofo (e como elas se complementam bem), obtidas na universidade inglesa de Cambridge, foi um dos expoentes da chamada Filosofia Analítica, na qual as verdades matemáticas podem ser deduzidas a partir das verdades lógicas. Conhecido por seu acentuado pacifismo e pela divulgação de ideais humanitários, Russell veio a ser uma das mais populares figuras científicas não só no Reino Unido mas em grande parte do mundo. Como seus pais morreram quando ele ainda era criança, a mãe por difteria e o pai por bronquite, Russell foi educado pelos avós. Aos dez anos de idade já se interessava pelos mistérios da Matemática, sendo capaz de resolver intrincadas questões. Durante a Primeira Guerra Mundial ele chegou a ficar preso por seis meses em decorrência de sua postura pacifista. Já na Segunda Guerra Mundial apoiou publicamente o conflito contra Hitler, argumentando que ele seria o menor de dois males. Era um crítico ferino de Stalin, além de ter se posicionado contrariamente ao envolvimento dos EUA na Guerra do Vietnã.
Na sua vida pessoal destaca-se a movimentada trajetória conjugal do renomado cientista. Casou-se por quatro vezes, uma delas com a governanta de seus filhos, estimando-se ainda a presença de várias amantes nesse conturbado percurso. Fez visitas à Rússia, na qual publicou muitas críticas em relação aos aspectos políticos do país e viveu um ano na China, lecionando em universidades locais. Nessa ocasião, em que ficou gravemente enfermo de pneumonia, a imprensa japonesa (não a chinesa) chegou a publicar a notícia de sua morte. A esposa que então o acompanhava divulgou um comunicado em que “como o Sr. Russell faleceu, conforme informação de jornais japoneses, ele infelizmente não poderia conceder entrevista à mídia desse país.” Já bastante popular em toda a Europa, Russell participava de programas de rádio com o objetivo de divulgar a Ciência para os leigos. Além disso escreveu diversos livros, altamente populares, sobre Física, Ética e Educação. Em 1939 foi nomeado professor na Universidade da Califórnia em Los Angeles. Logo depois foi contratado como professor no City College, em Nova Iorque. No entanto, como Russell era abertamente ateísta, tal convite desagradou a parte da população, o que fez com que um tribunal decidisse pela revogação do contrato do renomado professor. Que vergonha.
Uma outra cena curiosa de sua vida foi quando, em 1948, ele foi um dos 24 sobreviventes (entre 43 passageiros) na queda de um avião que voava para Trondheim, na Noruega. Quando lhe perguntaram se ele agradecia a Deus por tal rasgo de sorte, ele contestou que devia sua vida simplesmente ao fato de ser fumante, já que as vítimas fatais, que se afogaram nas águas geladas do Mar do Norte, estavam todas na área de não fumantes da aeronave.
Em 1955 Russell redigiu, juntamente com Einstein, um conhecido manifesto alertando sobre o perigo da proliferação de armas de destruição em massa. Em 1962, quando já contava com 90 anos, Russell teve participação ativa como mediador no conflito dos mísseis de Cuba. Ele enviou telegramas, de redação muito firme, para os presidentes da Rússia, Nikita Khrushchov (1894-1971), e dos EUA, John Fitzgerald Kennedy (1917-63), este último contendo um texto avaliado como “muito desaforado”.
Russell faleceu também no País de Gales, vitimado pela influenza poucos meses antes de completar 98 anos. Seu corpo foi cremado e as cinzas lançadas sobre as montanhas galesas.
Dentre suas principais obras, podemos destacar:
- “História do Pensamento Ocidental” (History of Western Philosophy, 1945): grandiosa explanação sobre o assunto, se constituindo em leitura obrigatória para aqueles que se interessem pelo caminhar do nosso planeta;
- “A Conquista da Felicidade” (The conquest of happiness, 1930); obra de inegável importância para as reflexões sobre a principal aspiração de cada ser humano. Russell indica e comenta as principais causas da infelicidade (competição, tédio e excitação, fadiga, inveja, sentimento de pecado, mania de perseguição, medo da opinião pública) e da almejada felicidade (entusiasmo, afeição, família, trabalho, interesses impessoais, esforço e resignação). As três paixões mais importantes que ele abraçava eram o anseio por amor, o ímpeto por conhecimento e uma insuportável compaixão pelo sofrimento da humanidade.
- “Por que não sou cristão” (Why I am not a Christian, 1957): neste polêmico livro, escrito, todavia, com muita honestidade e inspiração, Russell argumenta que a Igreja valoriza mais a ausência do pecado do que a prática de ações positivas. Ele destaca que as principais características do homem virtuoso são a bondade e a inteligência. Quanta lucidez em tão poucas palavras.
As línguas da Espanha (V)
A língua basca
Esta língua, denominada Euskara no idioma basco, constitui-se em um dos maiores desafios para os linguistas. Não se conhece qualquer correlação concreta do basco com algum outro idioma, o que o coloca no seletíssimo grupo das línguas isoladas. Por mais que os estudiosos se aprofundem no diacronismo (evolução histórica de uma língua) do idioma basco, as dúvidas surgem com muito mais frequência do que as respostas. Ele é falado por cerca de 750.000 pessoas residentes em algumas regiões do norte da Espanha e do sul da França. Na Espanha ele é a língua oficial nas regiões autônomas do País Basco (capital: Vitoria-Gasteiz, cidades mais conhecidas: Bilbau, San Sebastián) e de Navarra (capital: Pamplona, aquela da insana corrida de touros na Festa de São Firmino). O conhecido time de futebol do Atlético de Bilbao (Bilbao em castelhano, Bilbau em português, Bilbo em basco) só aceita em sua equipe jogadores bascos ou de ascendência basca. Exceção é feita apenas para os treinadores.
Estima-se que o idioma basco já era falado na região em torno de 6.000 a. C., portanto bem antes do latim. No entanto, a língua escrita só foi registrada a partir do século XVI. Como o basco apresenta atualmente cinco dialetos tradicionais, foi criada uma versão unificada (euscara batua) que é utilizada na educação, literatura e nos meios de comunicação. Para aumentar o fascínio sobre a origem e desenvolvimento da língua basca, constatou-se a existência de um dialeto na região da Islândia, sendo chamado basco-islandês, provavelmente em função de migrações para a pesca da baleia. Se vocês ainda acham isso de pequena monta, verificou-se a presença de outro dialeto basco na região canadense de Terra Nova (Newfoundland). Por favor, consultem o mapa e tentem explicar como ele pôde chegar tão longe.
Não existem gêneros gramaticais no basco. Até que a fonética não é muito complicada. Por exemplo o “x” tem o som de “ch” (como no galego), o “z” é pronunciado como “s”, o “s” como “x”, o “g” é como o nosso, o dígrafo “tz” soa como o “z” italiano (em pizza), o “j” é “ya” e o “h” é mudo. Estamos prontos? Alguns exemplos: Eskérrik asko (muito obrigado), ongi etorri (bem-vindo), kaixo (olá), égun on (bom dia), gero arte (até logo), agur (adeus), zorionak (felicidades), barkatu (perdão), mesedez (por favor), ez dut ulertzen (“não entendo”, utilíssima expressão), maite zaitut (“eu te amo”, essa de utilidade mais restrita). Os números de 1 a 10? Bat, Bi, Hiru, Lau, Bost, Sei (ufa, finalmente alguma analogia!), Zazpi, Zortzi, Bederatzi, Hamar. (continua no próximo Post).
Figuras de linguagem:
Analepse: é a interrupção de uma sequência cronológica pela inserção de eventos ocorridos anteriormente, popularmente conhecida como flashback.
Subjeção: figura em que o orador interroga o adversário e, pressupondo a resposta, emite logo a réplica; muito comum entre policiais e professores.
Frase para sobremesa: Seguem duas pérolas cultivadas por Bertrand Russell: A vida virtuosa é uma vida inspirada pelo amor e guiada pelo conhecimento; A felicidade não é absolutamente menor e menos verdadeira apenas porque deve, necessariamente, chegar a um fim e tampouco o pensamento e o amor perdem seu valor por não serem eternos.
Bom descanso!