Escritores que ganharam o Prêmio Nobel de Literatura.
1949: William Faulkner (1897-1962): escritor norte-americano muito conhecido internacionalmente, com destaque para os aprofundados romances em que é narrada a decadência da região Sul dos EUA, onde muitas famílias se arruinaram após a abolição da escravatura. Nascido como William Cuthbert Falkner, ele modificou a grafia do sobrenome introduzindo a letra “u”. Conta-se que tal fato se deveu a um erro de impressão na capa de um de seus livros, em que o editor se desculpou e William retrucou que para ele tanto fazia, preferindo inclusive a segunda versão. Situação um pouco semelhante havia ocorrido com o laureado de 1920, Knut Hamsun (v. Post 10). Esses são os pequenos erros que se prolongam por toda a eternidade. Além do Prêmio Nobel em 1949, Faulkner recebeu dois National Book Awards (1951 e 1955) e dois Prêmios Pullitzer de Ficção (é como o nosso Prêmio Jabuti, no qual existem premiações em diversas modalidades). Na França, onde Faulkner é extremamente cultuado pela juventude intelectual, só perdendo para a genialidade de Marcel Proust, ele recebeu a mais importante comenda do país, o Chevalier da la Légion d’Honneur. Uma rua em Paris leva o nome do escritor, naturalmente com a pronúncia afrancesada de “Faulknér”.
Sendo um jovem de baixa estatura, Faulkner foi recusado para o serviço militar, o que lhe proporcionou a primeira reflexão sobre se dedicar à escrita. No início da vida adulta abandonou os estudos para trabalhar no banco do seu avô. Em seguida foi empregado de livraria, carpinteiro e pintor de paredes. Sua vida universitária consistiu em um ano de estudos na Universidade de Mississipi, localizada em Oxford (homônima da famosa cidade universitária inglesa, assim como existe também a cidade de Cambridge, em Massachussets). São homenagens toponímicas que acabam por confundir as pessoas. Seu primeiro livro, Paga de Soldado (Soldier’s pay) foi publicado em 1926. Três anos depois Faulkner alcançou seu primeiro grande sucesso com Sartoris, que relata a saga de uma família norte-americana.
Faulkner, que era uma pessoa melancólica, propensa à solidão, resolveu inovar na sua forma de escrita. Em geral são textos complexos, de difícil leitura, com parágrafos muito longos, praticamente sem pontuação. Mas isso não seria um grande problema, dado que outros bons escritores também adotam tais características. O fato é que Faulkner, por algum desconhecido rasgo de entusiasmo, resolveu colocar personagens com o mesmo nome em diversas de suas obras. Assim, por exemplo, no livro “O som e a fúria” (The sound and the fury, 1929), possivelmente a obra mais emblemática de Faulkner, o prenome “Quentin” serve para designar tanto o irmão como também a filha do personagem principal, sendo que parte do livro é narrada por uma pessoa e parte por outra. O título da obra homenageia uma das mais famosas frases do escritor inglês William Shakespeare (1564-1616), no drama Macbeth: Life is a tale told by an idiot, full of sound and fury, signifying nothing (A vida é uma história contada por um idiota, cheia de som e fúria, sem significado nenhum).Comenta-se que os críticos apreciavam bem mais as obras de Faulkner do que seus leitores comuns.
Outro livro bastante conhecido de Faulkner é “Palmeiras selvagens” (The wild palms, 1939), no qual duas histórias distintas são narradas em capítulos alternados. Em Portugal a tradução foi intitulada “Palmeiras bravas”. Isso me faz lembrar os nomes em português atribuídos a um dos mais notáveis filmes do mestre Alfred Hitchcock (1899-1980), “Vertigo”: enquanto no Brasil o filme tem o vigoroso título de “Um corpo que cai”, em Portugal preferiram nomeá-lo como “A mulher que viveu duas vezes”. Cada povo com as suas características.
Por falar em cinema, Faulkner foi roteirista em diversos filmes do afamado diretor Howard Hawks (1896-1977), sendo os mais conhecidos “À beira do abismo” (The big sleep, 1946) e “Uma aventura em Martinica” (To have and have not, 1944) ambos estrelados pela magnética dupla Humphrey Bogart (1899-1957) e Lauren Bacall (1924-2014).
Existe o relato de que Faulkner recebeu a notícia do Prêmio Nobel enquanto arava a terra na sua fazenda no Mississipi. Fica aqui a curiosidade: quem lhe deu a informação, com qual tom de voz, em qual hora do dia, qual a reação do contemplado? Acho que nunca saberemos. A personalidade irrequieta e controversa de Faulkner o levou a ter aversão a premiações e homenagens. Parece que sua filha, de 17 anos, só ficou sabendo do Nobel do pai alguns dias depois, por meio do diretor da escola em que estudava. Veremos em outros Posts que alguns laureados também se sentiram incomodados com o galardão. Haveria reais motivos para tanto? Faulkner faleceu devido a um ataque cardíaco, um mês após ter sofrido a queda de um cavalo, o que lhe ocasionara uma grave trombose.
As línguas da Espanha (IV)
A língua galega (continuação)
Algumas diferenças entre o galego e o português (dois irmãos tão semelhantes) são apresentadas a seguir:
- Inexistência de vogais ou ditongos nasais. Assim: “irmã” é irmán; “mão” é man; “cão” é can (não nos parece muito difícil);
- Ensurdecimento das sibilantes sonoras. Assim: “casa” é pronunciado caça, como no espanhol; “gente” é pronunciado xente, como em algumas regiões do Brasil;
- Ortografia às vezes semelhante ao castelhano: nh → ñ; lh → ll; não se usa “ç” mas “z”
- Algumas pronúncias: “hoje” é “hoxe”, “pássaro” é “paxaro”. Alguma semelhança com a fonética das gírias cariocas é mera coincidência.
Verbo “ser”: eu son, ti es, él é, nós somos, vós sodes, eles son.
Verbo ir: vou, vás, vai, imos, ides, van
Aqui observamos um caso único dentre as línguas latinas: o pronome pessoal da segunda pessoa do singular é ti e não tu.
Pedir suco de laranja no restaurante? Zume de laranxa. Outras bebidas? Cervexa, viño. Agradecer? Grazas, resposta Non hai de que. “Por favor” é idêntico, assim como Boa tarde e boa noite. Mas, pela manhã, dizemos Bo dia. Uma frase útil: eu non falo moi bien o galego. Para começar uma amizade: Como te chamas? É um pracer coñecelo. “Depois”: evidentemente é Despois.
Numerais: o galego, assim como o português, mas não como o espanhol, faz a distinção de gênero nos dois primeiros numerais: Un/ Unha (pronúncia: una), dous/dúas, três, catro, cinco, seis, sete, oito, nove, dez.
Café-da-manhã é Almorzo, almoço é xantar, jantar é cea, sensacional, não é mesmo? Hoxe/Onte/Mañá: isso um recém-nascido sabe decifrar. Os dias da semana são irritantemente semelhantes: segunda-feira, terza-feira, corta-feira, quinta-feira, sexta-feira, sábado e domingo (que também pode ser expresso por primeira-feira). Não há como não gostar desse idioma.
Figuras de linguagem
Entimema: silogismo em que falta ou está subentendida uma premissa: Pedro está com febre, logo está doente (pois todos que têm febre estão doentes); O Jacinto é advogado, logo ele tem formação universitária (a premissa implícita é a de que os advogados têm formação universitária). O filósofo Michel de Montaigne, em sua magnífica obra Ensaios, fornece o divertido exemplo de um falso silogismo: Comer presunto nos leva a beber. E beber mata a sede. Portanto, comer presunto acaba com a sede.
Tmese: separação de dois elementos (normalmente adjacentes) que compõem uma palavra pela inserção de um termo intermediário; é sinônimo de mesóclise: amá-lo-á; beijá-la-ia. Trata-se de um floreio de linguagem muito pomposo, quase só usado na representação escrita. Quem se atrever a utilizá-lo na expressão oral corre dois riscos (absolutamente excludentes): ser ovacionado ou então retirado à força do recinto.
Frase para sobremesa: Dois petiscos de André Comte-Sponville, 1952- : A esperança é um desejo cuja satisfação não depende de nós, ao contrário da vontade, que é um desejo cuja realização depende de nós. A sabedoria é o máximo de felicidade no máximo de lucidez.
Até a próxima!