Escritores que ganharam o Prêmio Nobel de Literatura.
1948: Thomas S. Eliot (1888-1965): Poeta e dramaturgo norte-americano, Thomas Stearns Eliot nasceu em uma família de classe média. Seu pai era empresário e a mãe, assistente social, tinha por principal atividade de lazer escrever poesias. Em rasgo de inesperada sinceridade, ela uma vez declarou não gostar dos poemas do filho. T.S. Eliot, como ficou conhecido em todo o mundo, foi um dos mais destacados representantes do chamado modernismo literário. Estudou Filosofia em Harvard, depois partiu para a Europa, onde foi aluno na Sorbonne (Paris) e na Universidade de Marburg (Alemanha). No início da Primeira Guerra Mundial emigrou para Londres, onde viveu o resto da sua vida. Mais ainda, ele foi naturalizado cidadão britânico em 1927. Seu reconhecimento internacional como escritor já havia começado em 1922, quando, com apenas 34 anos, publicou o livro de poemas “A terra desolada” (The Waste Land), considerado como sendo uma das obras modernistas mais importantes do século XX, lançado no mesmo ano e pela mesma editora em que James Joyce (1882-1941) publicara outra obra modernista de grande impacto, “Ulisses”. A tradução grega do livro de Eliot foi feita por outro representante da corrente modernista na literatura, Giorgos Seferis (1900-71), prêmio Nobel em 1963. De fato, Eliot estava bem acompanhado em suas pretensões literárias. O principal marco da literatura modernista na época era o denominado “fluxo de consciência” (stream of consciouness), o qual representa um mergulho mais profundo nas diversas camadas da mente humana, contudo deixando o leitor sem ter a certeza se se trata de uma narrativa real ou da descrição de meras lembranças. É curioso destacar que Eliot, um puro homem das artes, trabalhou por décadas no Banco Lloyd de Londres, o que, à primeira vista não combina muito com a vida de um poeta de fama internacional. Sob o ponto de vista religioso, Eliot era um piedoso fiel da Igreja Anglicana.
Eliot reconhece ter sido bastante influenciado pelo poeta francês Charles Baudelaire (1821-1867), partindo em seguida para uma fase de intenso misticismo oriental, quando, inclusive, começou a estudar sânscrito. Sua vida pessoal foi um pouco tumultuada, dado que, tanto ele quanto a esposa, sofriam de transtornos psiquiátricos. Eliot escreveu relativamente poucos poemas para alguém que carregava tanta fama. Uma outra obra sua muito conhecida é “Os homens ocos” (The hollow men), a qual, na avaliação dos críticos, termina com um dos versos mais citados de qualquer poeta do século XX: This is the way the world ends/Not with a bang but a whimper (É assim que acaba o mundo/Não com um estrondo, mas um gemido). Eliot faleceu em decorrência de um enfisema, sendo o corpo cremado em Londres.
As línguas da Espanha (III)
A língua galega
O galego, assim como o catalão, que já vimos anteriormente, é uma língua de origem ibero-românica. Ela tem o status de idioma oficial na Comunidade Autônoma de Galiza (no Brasil é mais usada o nome espanhol de Galícia), além de ser falada também nas comunidades autônomas de Astúrias e de Castela e Leão, abrangendo o total aproximado de três milhões de usuários.
Não custa destacar, para se evitar uma confusão bastante frequente, que existiu também um reino da Galícia na região da Europa centro-oriental. Quando ocorreu a primeira partilha da Polônia (este país foi tão fragmentado ao longo de sua história que chegou, literalmente, a desaparecer do mapa durante algumas décadas), a Galícia foi anexada pela monarquia dos Habsburgo, quando recebeu também a designação de Polônia Austríaca. A cidade de Lviv – cujo nome aparece frequentemente na mídia atual como a principal porta de fuga para os ucranianos que tentam escapar da insana invasão russa – já foi a capital da Galícia. Espero que, em um futuro não muito distante, algum leitor desse blog se espantará com tal afirmativa e perguntará, mais para si mesmo, que diabos de guerra foi essa? De 1864 a 1918 a Galícia fez parte do Império Austro-Húngaro, tendo posteriormente perdido seu significado geopolítico. O antigo território é atualmente dividido entre a Polônia e a Ucrânia.
Mas, voltemos à nossa língua galega. Eu não precisava de ter gastado tantas linhas apenas para dirimir uma inocente confusão de nomes. Pois bem, à semelhança do catalão, a expressão escrita e falada da língua galega também foi proibida durante a ditadura (1938-75) do Generalíssimo Francisco Franco. Para nós, que tanto apreciamos os idiomas, não deixa de causar espécie o emprego de um superlativo como título militar. O mais curioso é que o dito generalíssimo era galego de nascimento, tendo visto a primeira luz do mundo na cidade de Ferrol, localizada no norte da província galega de “A Coruña”. Como ele lá viveu até os 15 anos de idade, conclui-se que o garoto era um aplicado falante do galego, idioma esse que ele, mais tarde, derrubando todos os pilares da lógica, tentou exterminar, perseguindo e executando quem o desobedecesse. Mas, como sabemos que as línguas não morrem assim tão facilmente, pelo menos a maioria delas, observou-se um glorioso ressurgimento do galego após a derrocada da ditadura espanhola.
Originalmente o idioma era denominado de galego-português, tamanha a semelhança que ele guardava com nossa língua pátria (quando eu estava no ginásio – para quem não conhece o termo, consulte-o por favor na Wikipedia – o nome da matéria que estudávamos era essa bela expressão, língua pátria). A falta de comunicação entre a Galícia e Portugal (seu vizinho logo ao sul), motivada por questões políticas e geográficas, fez com que o galego fosse cada vez se afastando mais do português. Mas nem tanto, como veremos a seguir. Uma das dificuldades para a evolução do galego foi o fato de o idioma permanecer um longo tempo sem literatura e gramáticas. Atualmente um terço da população da galícia fala apenas em galego (embora, obviamente, conheçam perfeitamente a língua espanhola). Pesquisas feitas ao longo das últimas décadas mostram que, dentre as pessoas com mais de 65 anos, o galego é absoluto como primeiro idioma (80%), com o índice caindo para 40 % em relação aos jovens entre 16 e 25 anos. De qualquer forma, os percentuais são consideráveis, o que nos afiança a certeza da impossibilidade de desaparecimento daquela língua que nem o Generalíssimo podia falar, talvez ela só viesse nos seus sonhos. (continua no próximo Post)
Figuras de linguagem
Aférese: Supressão de um ou vários fonemas no início de uma palavra: enojo → nojo; enamorar → namorar; arrecife (vem do árabe arcif “caminho pavimentado”) → recife.
Síncope: Desaparecimento de um fonema no interior do vocábulo: mor (de maior), alma (do latim anima → alima → alma).
Vimos assim a trinca das supressões: apócope (no fim da palavra) (v. Post anterior), aférese (no início da palavra), síncope (no meio da palavra).
Frase para sobremesa: O tempo da vida é a duração do presente: o passado imediato é a sensação, o futuro imediato a ação (Henri Bergson, 1859-1941)
Bom descanso!