Post 28

Escritores que ganharam o Prêmio Nobel de Literatura.

1945: Gabriela Mistral (1889-1957): A poetisa chilena Gabriela Mistral foi o primeiro autor latino-americano a ser contemplado com o Nobel de Literatura. Seu nome verdadeiro era Lucila de Maria del Perpetuo Socorro Godoy Alcayaga, tão longo e rebuscado, que o pseudônimo se apresenta como uma opção melhor. A escolha foi feita em homenagem a dois poetas muito admirados por ela: o italiano Gabrielle D’Annunzio (1836-1938) e o francês Frédéric Mistral (1830-1914), prêmio Nobel em 1904 (v. Post 2). Nascida na pequena aldeia de Vicuña, cerca de 500 km ao norte de Santiago, Gabriela viveu entre os três e nove anos na cidade vizinha de Monte Grande, a qual, curiosamente ela considerava, por questões afetivas, como sendo sua cidade natal e onde sempre falava que gostaria de ser sepultada. Seu pai abandonara a família quando Gabriela tinha apenas três anos, retornando de vez em quando para reencontrar os filhos. Ela defendia as ações do pai, a quem amava bastante.

Mistral, que recebeu uma educação formal só até os 12 anos de idade, iniciou sua vida profissional como professora primária, atividade essa que a levou a diversas regiões do Chile na qualidade de funcionária concursada. Em uma de suas viagens conheceu o também poeta Pablo Neruda (1904-73), prêmio Nobel em 1971, com o qual manteve uma longa e sólida amizade. Na jovem idade de 25 anos Gabriela venceu um festival literário, o qual a projetou nacionalmente como poetisa. Anos mais tarde ingressou na carreira diplomática, quando então sua fama de autora atingiu uma dimensão internacional. Gabriela ocupou postos diplomáticos em diversos países do mundo, inclusive no Brasil. Antes disso ela morara dois anos no México participando de um programa nacional de alfabetização.

Quando foi comunicada sobre o recebimento do Nobel de Literatura, Gabriela era consulesa chilena no Rio de Janeiro residindo, todavia, por questões de saúde, na cidade serrana de Petrópolis, cuja biblioteca municipal leva o nome da poetisa. Existe a informação de que foi o então presidente Getúlio Vargas quem providenciou a gentileza do transporte de navio para a recepção do prêmio na Suécia.  

Os temas principais na obra lírica de Mistral são o amor pelos humildes e os direitos de pobres, mulheres e crianças. Durante toda a vida a poetisa foi considerada como um forte exemplo de honestidade moral e intelectual. Algumas tragédias marcaram o destino de Mistral, exercendo profundas influências em sua produção artística, como, por exemplo, o suicídio do seu primeiro namorado, o abandono do segundo e de novo um suicídio, desta feita de um sobrinho que ela considerava como sendo um filho. Na sua discreta vida pessoal, Gabriela teve alguns relacionamentos de longa duração com mulheres. Assim como Pearl Buck (Nobel em 1938, v. Post 25), ela era muito próxima da primeira-dama norte-americana Eleanor Roosevelt, a qual, em seu vasto círculo de amizades, contava, portanto, com a presença de duas mulheres ganhadoras do Nobel de Literatura. Mistral faleceu em Nova Iorque vitimada por um câncer no pâncreas. No seu testamento, além de pedir para ser enterrada em Monte Grande, a sua “casa” natal, o que, de fato, ocorreu, ela determinou que todo o seu patrimônio e os rendimentos auferidos por direitos autorais, atuais e futuros, fossem destinados às crianças pobres de Monte Grande.

Línguas, idiomas e dialetos: alguns conceitos de linguística

Faremos aqui, em breves traços, um apanhado geral sobre os conceitos de língua, idioma e dialeto, que, para confusão na cabeça dos leitores, podem se sobrepor em um cenário onde as fronteiras não estão claramente definidas.

Língua (do latim lingua): Além de designar o órgão muscular responsável pela mastigação, deglutição e produção de sons,esse termo, em uma simples analogia, indica também o sistema de representação constituído por palavras e usado como meio de expressão. É curioso observar que algumas línguas, principalmente as de origem latina, utilizam uma mesma palavra para representar os dois conceitos. Assim temos, por exemplo, além do português: em espanhol lengua, em italiano língua, em francês langue, em russo Язык (iazik). Já o inglês lança mão de duas palavras distintas: language (expressão) e tongue  (anatomia). Da mesma forma o alemão: Sprache (expressão) e Zunge (anatomia), o que é uma característica das línguas anglo-saxônicas.

Idioma: Em uma das conceituações, dada a amplitude léxica do termo, uma língua se torna idioma quando passa a ser falada oficialmente. Desta forma, o basco por exemplo seria uma língua, mas não um idioma (afirmativa bastante controversa, por favor nunca digam isso no País Basco). A origem grega do termo indica o étimo idios, que significa próprio, particular, peculiar. Desta maneira o idioma seria a língua própria de um povo. Não custa lembrar que a palavra idiota, usada com muito mais frequência do que deveria, colhe suas origens no homem do povo ou gente da plebe, em oposição ao homem de Estado, que formava a aristocracia.  

Dialeto (do grego dia, i.e., através de, por meio de, seguido de leksis, palavra): aqui as conceituações se confundem e se entrelaçam, senão vejamos: forma de comunicação que apresenta variações linguísticas acentuadas em relação à língua padrão; modalidade regional de uma língua que não tem literatura escrita; língua que, embora tendo literatura escrita, não é língua oficial de nenhum país. Se tivéssemos a invejável capacidade de concisão, poderíamos resumir, de forma absolutamente aproximada, que “dialeto” é exatamente isso que vocês estão pensando, ou seja, a existência de fortes diferenças regionais em um mesmo idioma nacional. Acho que assim ficamos bem.

Vamos agora simplificar a vida. Aqui neste Blog intitulado Literatura e Idiomas (acho mais sonoro que Literatura e Línguas) usaremos os conceitos irmãos de língua e idioma de uma forma mais relaxada, o que evita, inclusive, que caiamos na armadilha de designações pouco justas.       

Figuras de linguagem

Erotesis: Pergunta apenas de ênfase retórica, não exigindo uma resposta: Você está vendo isso, meu Deus?

Epiplexis: Muito semelhante à figura anterior, mas em que as questões são postas mais em um tom de repreensão: O senhor não tem nenhuma decência?; Quando é que a polícia finalmente vai agir?

Anacoenosis: Também pertence à mesma família das figuras de linguagem relatadas acima. Ocorre quando o orador coloca uma pergunta para a audiência com o objetivo de demonstrar um interesse comum, dispensando as respostas: Vocês pensam que todas essas possibilidades existem?; Vocês acreditam que é a poluição por esgotos que está prejudicando a lagoa?

Frase para sobremesa: Em homenagem à dignidade de vida de Gabriela Mistral: Tenho um dia. Se souber aproveitar, tenho um tesouro.

Até a próxima!

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