Post 25

Escritores que ganharam o Prêmio Nobel de Literatura.

1938: Pearl S. Buck (1892-1973): Foi o terceiro prêmio Nobel concedido a norte-americanos em um período de apenas nove anos (1930-38), ou seja, uma média avassaladora. A escritora Pearl S. Buck, extremamente prolífica na sua produção literária é, provavelmente, a laureada que mais teve edições aqui no Brasil. Na geração dos nossos pais (ou dos avós, dependendo da idade do leitor), poderíamos dizer, naturalmente com um certo exagero, que suas obras (ou pelo menos uma) eram encontradas nas estantes dos lares brasileiros. Na verdade, o nome pelo qual ela ficou conhecida era um pseudônimo, cuja adoção é frequente no âmbito de escritores. Nascida como Pearl Comfort Sydenstricker, criou o nome artístico de Pearl Sydenstricker Buck, em uma curiosa transmutação, simplesmente trocando o Comfort (até mais sonoro e amigável) por Buck. Certamente ela teve suas razões para esse movimento. Era filha de missionários presbiterianos que atuavam na China e que se deslocaram aos EUA para o nascimento do bebê. Com ela tendo três anos de idade eles retornam para a China, levando na bagagem a garotinha que viria a ganhar um Nobel, quem diria. Lá ela ficou até os 15 anos de idade, aprendendo, portanto, a falar e escrever perfeitamente o idioma mandarim. De volta aos EUA, formou-se em Psicologia em 1914, retornando logo depois à China, onde desposou um americano especialista em Agricultura. A primeira filha do casal nasceu com uma deficiência mental, um duro golpe nos projetos de vida de Buck. De 1920 a 1933 ela foi professora de Literatura Inglesa na Universidade de Nanjing ou Nanking (sim, é de lá que vem o nome da tinta nanquim), permanecendo na China até o início da década de 30, o que perfaz três década de convivência com uma civilização bem distinta daquela de suas origens americanas. Não é de se estranhar que uma grande parte de suas obras literárias abordem as características desse enorme país. Desgostosa com o andamento das questões políticas na China, frequentemente envolvida em guerras civis, Buck deixa o país, desta feita de forma definitiva. Após obter um mestrado em Literatura pela afamada Universidade de Cornell, Buck inicia sua vida de escritora. A primeira obra, publicada em 1930, foi muito bem recebida pela crítica. Seu segundo livro, a arrebatadora história de “A boa terra”, (em Portugal “Terra bendita”) (The good Earth, 1931) se constituiu em estrondoso sucesso, vendendo dois milhões de cópias em um ano e lhe proporcionando o recebimento do Prêmio Pullitzer de Romances. Só no Brasil esse livro teve 15 edições publicadas por cinco editoras. Pronto, as portas estavam abertas para uma invejável carreira literária, trilhada com muito entusiasmo e competência por uma das escritoras mais populares do mundo, autora de mais de cem livros e de inúmeras novelas de rádio.    

No início de sua fama, Buck já estava separada de seu primeiro marido, tendo se casado com seu editor (antes que vocês, caros leitores, pensem que ela ficou famosa por causa dele, saibam que ocorreu exatamente o contrário). É curioso observar que Buck adotou, em diversas publicações, principalmente na fase mais jovem, o pseudônimo literário (pen name) de John Sedger, sim, um nome masculino, o que, na época facilitava muito a aceitação de manuscritos para publicação.

Um dos temas favoritos nas obras de Buck é a questão do amor interracial. Junto com a primeira-dama Eleanor Roosevelt, sua amiga muito próxima, Buck entrou em uma campanha para defesa do direito das mulheres e implementação da igualdade racial, criando ainda uma Fundação para o combate à pobreza das crianças asiáticas. Durante o governo de Mao Tsé-Tung, que se estendeu desde a criação da República Popular da China (1949) até sua morte (1976), Buck foi considerada uma agente imperialista e impedida de visitar o país que ela tanto amava e agora gostaria muito de rever. Quando, em 1972, o presidente americano Richard Nixon realizou a primeira visita oficial à China, ela tentou de todas as maneiras conseguir um lugar na delegação diplomática, sendo sistematicamente recusada pelos dirigentes chineses. No ano seguinte Buck faleceu de câncer do pulmão, não tendo podido realizar o desejo de retornar à “Boa Terra”. No seu túmulo o nome de Pearl S. Buck vem escrito unicamente em caracteres chineses. Após a morte de Mao a escritora foi reabilitada pelo governo chinês, recebendo homenagens póstumas e até um museu em sua honra. É o que já dizíamos em um Post passado, vejam como o mundo dá voltas.

A outra língua oficial de Portugal: o mirandês

Não sei se é do conhecimento de todos vocês que, desde 1999, Portugal tem uma segunda língua oficial, conhecida por mirandês. Como o nome indica, ela é falada na pequena região de Terra de Miranda, no noroeste de Portugal. Este idioma tem fortes semelhanças com uma língua regional espanhola, o asturo-leonês, que será comentada em um Post próximo sobre Línguas da Espanha.

Não se sabe o número exato de falantes da língua mirandesa, mas se pode estimar algo em torno de 20.000 pessoas. Curiosamente, esse idioma de divulgação tão restrita, proveniente do ramo ibérico das línguas latinas, possui três subdialetos: o central, o setentrional e o meridional. Apenas como comparação, a língua russa, falada por 150 milhões de pessoas, distribuídas em mais de 17 milhões de km2, não possui nenhum dialeto, apenas algumas poucas e suaves diferenças de pronúncia. Sem recear estarmos incorrendo em algum erro grosseiro, podemos afirmar que, quanto menor o número de falantes de um idioma, mais dialetos ele costuma apresentar. Veremos como isso é verdade em muitos Posts futuros. A maioria dos moradores em Terra de Miranda são quadrilíngues (quanta inveja!) desde a idade escolar, falando, lendo, escrevendo e entendendo, além do mirandês, o português, o castelhano e o galego.

O relevo da região, com a presença de diversos rios e montanhas, atua como uma barreira natural, tanto para a disseminação da língua, quanto para o recebimento de influências externas. Veremos, em outros Posts, como isso ocorre em diversas regiões do planeta. O mirandês é um ótimo exemplo de diglossia (sinônimo de bilinguismo) em que os falantes desse idioma entendem perfeitamente o português, mas, obviamente, o inverso não é verdadeiro. Vejam esse exemplo de frase em mirandês, a qual dispensa tradução: you falo como bós, bós nunca falais como you.

O ensino de mirandês é opcional no curso básico. Algumas de suas características: não existe o “ão”, assim: pan, perdon. O cedilha “ç” pode ser encontrado tanto no início de uma palavra (çculpe) quanto no final (belheç, madureç). Exemplos de expressões: Buonos dias/Buonas tardes/Buonas nuites, Cumo stá? Por fabor, Oubrigado (a), Anté lougo, um, dous, três, quatro, cinco, seis, siete, uito, nuobe, dieç, Onte/Hoije/Manhana, Pequeno almuorço/Almuorço/Jantar, cerbeija, auga (obviamente significa água), polho (obviamente é frango). Em suma, todos os caros leitores podem inserir nos seus respectivos currículos mais um idioma em que podem ler e, em muitos casos, entender. No entanto, para falar e escrever vocês devem passar uma longa temporada estudando na bela Terra de Miranda.          

Frase para sobremesa: Um tributo a Pearl S. Buck: Como Confúcio, estou tão absorvida pelo encanto que sinto pela terra e pela vida que a habita que não tenho tempo de pensar no paraíso nem nos anjos. 

Bom descanso!

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