Post 24

Escritores que ganharam o Prêmio Nobel de Literatura.

1937: Roger Martin du Gard (1881-1958): Nascido em uma família de advogados e juízes, o francês du Gard foi formado em Letras e Paleografia (datação de manuscritos históricos). Embora fortemente vinculado a ideias pacifistas ele foi levado a lutar na linha de frente durante a Primeira Guerra Mundial. Logo após seu retorno à casa, du Gard iniciou a redação de sua monumental obra-prima “Os Thibault” (Les Thibault), que foi a referência para que lhe fosse concedido o Nobel de Literatura. Trata-se de um romance-rio (mais conhecido pela acepção francesa de roman-fleuve), ou seja, onde é descrita, como um rio que corre, a história de várias gerações, obviamente comportando uma extensa galeria de personagens. Normalmente tais romances, ou sagas familiares, são formados por volumes independentes, os quais, no seu conjunto, formam uma unidade literária. Certamente um dos romances-rios mais conhecidos é o esplêndido livro “Em busca do tempo perdido” (A la recherche du temps perdu), escrito de 1908 a 1922, em que o escritor Marcel Proust (1871-1922) criou uma das maiores contribuições para o brilho da literatura universal. Falaremos sobre essa obra em um Post futuro. Para escrever Les Thibault, du Gard ocupou uma razoável parte de sua vida (1922-40), sendo o único caso até hoje de um autor que tenha recebido o Nobel e que tenha continuado posteriormente a complementação de sua mesma obra. O romance, como indicado pelo nome, descreve a vida da família Thibault logo antes do início da Primeira Guerra Mundial. Não conheço nenhuma outra obra que defenda, com tanta envergadura, a bandeira do pacifismo. Ela deveria fazer parte obrigatória das bibliotecas nos Ministérios de Relações Exteriores de todos os países do mundo, para que, pelo menos, algum diplomata mais iluminado se deixasse sensibilizar pela narrativa e fizesse esforços para evitar a eclosão de guerras, cruéis e supérfluas como todas elas o são. A versão francesa do romance ocupa oito volumes. Nas diversas edições feitas pela Editora Globo, de Porto Alegre, fundada por Érico Veríssimo, ela foi acomodada em cinco volumes. Em todos, na contracapa, a editora reproduz uma foto, com dedicatória, que du Gard encaminhou à referida editora. Vale destacar que a primeira edição foi lançada em 1941, o que levou o Brasil a ser um dos primeiros países do mundo a divulgar o portentoso romance.

Roger Martin du Gard escreveu ainda outros títulos, mas que, de alguma maneira, foram obscurecidos pelo impacto do Les Thibault. O autor conta que sua motivação para ser escritor veio aos 17 anos, quando acabara de ler Guerra e Paz de Liev Tolstoi (1828-1910), outro exemplo clássico de um romance-rio. Na juventude, du Gard conheceu Gaston Gallimard (1881-1975), que depois fundou uma das maiores editoras europeias, que leva seu nome. Esta amizade ampliou o desejo de du Gard relativo à escrita, consolidado posteriormente por uma forte amizade com André Gide (1869-1951), o qual veio a receber o Nobel dez anos depois de du Gard. Outros amigos do seu respeitável círculo literário foram Albert Camus (1913-1960), ganhador do Nobel em 1957, e Georges Duhamel (1884-1966), celebrado escritor francês, responsável pela renovação dos cursos de línguas da Aliança Francesa em todo o mundo. Na laje do túmulo de du Gard, na cidade normanda de Bellême, pode ser lido o seguinte epitáfio em latim: Sum quod eris (Eu sou o que você será). Deixo aqui o espaço aberto para reflexões.

Figuras de linguagem

Ambiguidade (ou Anfibologia): duplicidade de sentido causada por má construção da frase: Venera o filho o pai; o policial levou o bêbado a sua casa; mataram a vaca da sua tia.

Preciosismo: exagero na linguagem, em prejuízo da clareza. Esta é uma figura bastante explorada em programas humorísticos, quando alguém (quase sempre um político) tenta mostrar erudição. Um esboço de exemplo: Na pretérita centúria, meu progenitor convolou núpcias com apenas quatro lustros de vida. Na vida real ninguém aguenta.

A graciosidade das concordâncias

Um e outro chegaram cedo (também é possível “chegou cedo”).

Um ou outro o receberá.

Nem o policial nem o detetive chegaram a tempo.

Nem um nem outro esteve lá.

Ele me explicou um e outro aspecto obscuros.

Uma e outra causa juntas.

Frase para sobremesa: Deixo aqui um conhecido trecho recolhido do livro Les Thibault: Não sou como a abelha saqueadora que vai sugar o mel de uma flor, e depois de outra flor. Sou como o negro escaravelho que se enclausura no seio de uma única rosa e vive nela até que ela feche as pétalas sobre ele; e, abafado neste aperto supremo, morre entre os braços da flor que elegeu.

Resposta sobre a foto publicada nas redes sociais: a palavra “bunda” na língua tcheca não assusta ninguém, significando apenas jaqueta.

Até a próxima!

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