Escritores que ganharam o Prêmio Nobel de Literatura.
1935: Não houve entrega do Prêmio (de novo a guerra!)
1936: Eugene O’Neill (1888-1953): Teria sido coincidência, que, logo após Pirandello, um outro dramaturgo da mesma envergadura tenha sido laureado? O norte-americano Eugene O’Neill apresenta uma das biografias mais conturbadas e trágicas na galeria dos autores premiados. Nascido em um quarto de hotel na Broadway, em Nova Iorque, filho de um ator de teatro irlandês, depressivo, avarento e alcoólatra e de uma mãe dependente química, Eugene passou seus primeiros anos de vida viajando com os pais e com o irmão em turnês pelos EUA. “Não tive infância” ele afirmava nas entrevistas. A partir da idade escolar foi matriculado em diversos internatos, sempre com desilusões e insucessos. Vinculado à escola literária do Realismo não é à toa que seus personagens sejam pessoas marginalizadas, desregradas, passando por tragédias pessoais e marcadas com um pessimismo crônico. O conhecido dramaturgo brasileiro Nelson Rodrigues afirmava ter sido bastante influenciado pelas obras de O’Neill.
Tendo atingido a idade universitária, Eugene é admitido na conceituada Universidade de Princeton, sendo expulso pouco tempo depois simplesmente por ter arremessado uma garrafa de cerveja na janela de vidro do gabinete do Reitor (que era Woodrow Wilson, futuro presidente dos EUA). A partir daí coleciona uma série muito variada de empregos, resolvendo então se casar aos 21 anos de idade. Dentre os diversos rompimentos com a esposa, o primeiro deles foi para ir trabalhar em uma mineração em Honduras. Logo depois torna-se marinheiro e sai pelo mundo, viajando principalmente para a África e a América do Sul. Há grandes chances de ele ter conhecido o Brasil, mas sua biografia nada apresenta sobre isso. Seus amigos na época eram quase todos desertores, exilados e marginais, o que deve ter aberto ao escritor um palco vivo para suas futuras peças. Morou por algum tempo em Buenos Aires, onde trabalhava na fábrica de máquinas de costura Singer. Ele perde o emprego e passa a dormir nas ruas. Ainda como marinheiro viaja a Liverpool (Inglaterra) onde se dedica avidamente ao vício do alcoolismo (enquanto isso a esposa devia esperá-lo pacientemente, malgrado a ausência de cartas e telefonemas). Já de volta aos EUA, ele termina o casamento (com um filho que só veio a conhecer 11 anos depois) e, para coroamento dessa fieira de tragédias, tenta o suicídio, consegue sobreviver e é logo internado em um sanatório para tratamento da tuberculose. Como a vida sabe dar muitas voltas, foi durante essa internação que Eugene encontra tempo, e, também, vontade, de ler as obras dos dramaturgos clássicos, a exemplo do norueguês Henrik Ibsen (1828-1906) e do sueco August Strindberg (1849-1912). Eugene, em um rasgo de inspiração, consegue redigir 13 peças em 15 meses.
Com 32 anos recebe o cobiçado Prêmio Pullitzer, tornando-se assim bastante conhecido no meio artístico, o que lhe serve de motivação para escrever um elevado número de livros. No entanto, aquela que é considerada sua obra-prima, “Longa jornada noite adentro” (Long day’s journey into night), escrita em 1941, só foi publicada após sua morte. Na dedicatória à esposa, ele escreve: “Te presenteio o manuscrito original desta peça. Ela fala de mágoas antigas e foi redigida com muitas lágrimas e sangue.” Ele havia solicitado que a esposa esperasse 25 anos após a morte do autor para publicá-la. Por alguma razão, a esposa não teve tanta paciência e vendeu a peça em 1956, sendo a mesma imediatamente encenada. Trata-se de um angustiante relato sobre os conflitos de uma família, com a trama se estendendo por toda a madrugada. Definitivamente, não é uma leitura agradável, apesar de um estilo soberbo de narrativa.
Eugene perdeu um filho por suicídio, ao passo que a filha (Oona O’Neill, 1925-91), expulsa de casa, tentava inutilmente contato com o pai. Quando Oona se casou com o cineasta Charles Chaplin ele com 54 anos, ela com 18, o rompimento com a filha tornou-se definitivo. Nos últimos dez anos de vida foi acometido pelo mal de Parkinson, o que o impediu de continuar escrevendo. Eugene O’Neill morreu de tuberculose, abandonado pela família, em um quarto do hotel Sheraton em Boston. Segundo o testemunho de um médico, as últimas palavras foram: “I knew it: born in a hotel room, died in a hotel room.”
Figuras de linguagem
Cacofonia: sequência silábica que provoque som desagradável:
- Cacófato: som obsceno: Hilca ganhou; esse time não marca gol; mande-me já isso.
- Eco: repetição desagradável de terminações iguais: Vicente sente dor de dente; não dão explicação para a demissão do João.
- Parequema: repetição da sílaba final no início da palavra seguinte: uma mala; vaca cara; voltou outro; virar artista; nunca comi miolos; levante-se cedo.
- Hiato: aproximação de vogais idênticas, geralmente “a”: traga a água; há aula aos sábados.
Não confundam:
Ter que: ter algo para: tenho muito que estudar;
Ter de: subentende-se a necessidade ou dever: tenho de pagar meu amigo.
Para consolo geral, acho que todos os escritores misturam esses dois conceitos, guiando-se mais pela sonoridade da frase.
Frase para sobremesa: Antes de tomar qualquer decisão não somos nada: vamos nos moldando a partir de nossas escolhas (Jean-Paul Sartre, 1905-1980)
Bom descanso!