Escritores que ganharam o Prêmio Nobel de Literatura.
1926: Grazia Deledda (1871-1936): Segunda mulher a receber o Nobel de Literatura (após Selma Lagerlöf em 1909), Grazia Maria Cosima Damiana Delleda (longo e belo nome) nasceu na Ilha da Sardenha, que faz parte da Itália. Futuramente vocês terão um Post sobre o fascinante idioma sardo, algo assim entre o italiano e o espanhol, mas que nem os italianos e muito menos os espanhóis podem compreender, só os sardos o dominam. Originária de uma família de sete filhos, Deledda frequentou a escola apenas até o quarto ano, sendo posteriormente educada em casa, por alguns anos, por um professor poliglota e depois se instruiu de forma autodidata. Seu pai, que compunha versos em sardo, tinha uma pequena editora. Convenhamos que Deledda encontrou um caminho já parcialmente pavimentado. Ela própria começou a escrever contos na infância, tendo uma publicação, em um jornal local, com apenas 13 anos de idade.
Deledda relata que, na sua cidade natal (Nuoro, uma vila montanhosa que servia de refúgio para os famosos bandidos sardos) os pais recebiam muitas pessoas em casa, notadamente camponeses que chegavam para trocar ideias e tomar um trago de vinho. O agudo senso de observação de Deledda a levava a contemplar com muita atenção os gestos, rostos, roupas e outros detalhes daquelas pessoas, os quais permitiram que ela criasse uma extensa galeria de personagens que compõem o enredo de suas quase 40 obras.
Casou-se em 1900 e foi morar em Roma, onde havia mais facilidades para escrever e editar os livros. Suas obras, que permaneceram, quase todas, voltadas à vida camponesa na Sardenha, abordam as crises existenciais e as fragilidades daquela gente sofrida e inculta. A par deste mergulho na alma agropastoril, Deledda descrevia com muita sensibilidade e competência as diversas paisagens e as características geográficas de sua amada ilha. A obra mais conhecida de Deledda é o romance “Caniços ao vento” (Canne al vento), publicado em 1913 (inicialmente em folhetins e depois por uma editora de Milão) e que foi o motor propulsor para sua indicação ao prêmio Nobel. Este belíssimo livro conta a história de Giacinto, um forasteiro que chega a uma aldeia sarda. São expostas as fragilidades humanas e os frequentes confrontos de aceitações e recusas. Um crítico comentou que “ali o passado é presente e o futuro será sempre como o passado”, fiel retrato das monótonas vidas em remotas regiões de uma ilha.
Deledda, apesar da presença dos filhos na casa de Roma, sempre encontrava tempo para escrever, tendo publicado a média de um livro por ano. Ela dizia que o melhor momento do dia para se dedicar à escrita era nas horas que antecediam o jantar. Naturalmente ela devia ter as suas razões para tal escolha. Deledda ainda colaborava com artigos para jornais de mulheres nacionalistas, as quais, no entanto, costumavam criticá-la por sempre mostrar as dores e sofrimentos das mulheres em vez de destacar sua autonomia. Conta a história que, ao receber a notícia de sua escolha para o prêmio Nobel daquele ano, ela emitiu uma única palavra: Già? (Já?). Deledda passou a ser conhecida em toda a Itália e em grande parte da Europa, tendo sido inclusive presenteada com um retrato autografado por Mussolini (de novo ele, surgindo aqui nos meus Posts!). A crescente fama da escritora fez com que sua casa em Roma fosse inundada por visitas de amigos, familiares, repórteres, o que levou Deledda a proferir a frase que ficou famosa no folclore italiano: “Se Checca (nome da sua cachorrinha) já não aguenta mais, imaginem só eu!” Deledda morreu de câncer de mama aos 64 anos.
Figuras de linguagem
Prosopopeia: atribuição de qualidades e sentimentos humanos a seres irracionais e inanimados: as árvores são imbecis, se despem no inverno; a raposa disse algo que convenceu o corvo; que ruazinha mais triste; o dever chama. Ou seja, é uma saborosa volta à infância.
Antítese: emprego de palavras ou expressões contrastantes: com luz no olhar e trevas no peito; ele está entre a vida e a morte; estarei lá, faça chuva ou faça sol. Na homenagem ao Jobim: tristeza não tem fim, felicidade sim.
Oximoro: antítese levada ao extremo: obscura claridade; música silenciosa; doce veneno; ilustre desconhecido.
Segundo capítulo do pequeno compêndio para enlouquecer os estrangeiros que se esforçam por aprender o idioma português
A metafonia é a modificação do timbre de uma vogal (particularmente o “o”), a qual ocorre frequentemente na formação do plural:
Vogal aberta no plural: poço, tijolo, morto, porto, corpo, fogo e a lista quase não teria fim.
Vogal permanece fechada no plural: rosto, moço, globo, sopro e por aí afora.
Terra sem lei!
O maior livro do mundo
As imagens acima (fotos do autor) mostram as características das pedras de mármore que compõem o que é conhecido como “o maior livro do mundo” (Tipitaka). Esta obra monumental, localizada no Templo Khutodaw em Mandalay, no país Mianmar, consiste em 729 pedras, abrigadas individualmente em pequenas construções (410 contam sobre a vida de Buda, 208 contêm os ensinamentos budistas tradicionais e 111 explicam as regras que monges e monjas devem obedecer). São livros maravilhosos, só que um pouco difíceis de se carregar.
Frase para sobremesa: Entre os indivíduos não existe um amor natural, mas somente uma explosiva mistura de temor e necessidade recíprocos que, se não for disciplinada pelo Estado, originará uma incontrolável sucessão de violências. (Thomas Hobbes, 1588-1679, autor de Leviatã)
Até a próxima!