Escritores que ganharam o Prêmio Nobel de Literatura.
1925: George Bernard Shaw (1856-1950): Sem qualquer dúvida, um dos mais famosos dramaturgos do mundo. Na língua inglesa, muitas pessoas o consideram logo abaixo de Shakespeare no panteão dos imortais. Dois anos após o galardão de Yeats, de novo um irlandês sobe ao pódio máximo da literatura. Personalidade genial – e bastante controversa, como veremos a seguir – Shaw veio de uma família pobre, de confissão protestante. A exemplo de outros premiados no Nobel de Literatura, ele não teve uma educação formal, ou melhor, recusou-se a recebê-la. Com vinte anos de idade mudou-se para Londres, onde começou a escrever peças teatrais, críticas e resenhas, as quais foram sistematicamente recusadas pelos editores em um período de dez anos. A partir de uma certa idade, na adolescência, ele passou a usar barba para ocultar cicatrizes de varíola no rosto. Ele foi durante toda a vida contrário à vacinação, além de ter abraçado a causa vegetariana. Shaw foi ainda cofundador da prestigiosa London School of Economics.
Socialista convicto, Shaw criticava com veemência a exploração dos trabalhadores, lutando também por direitos iguais entre homens e mulheres. Até aí tudo muito justo e meritório. Eu dizia que era um indivíduo controverso? Pois vejamos: ele considerava Hitler “uma pessoa notável”; admirava Lenin, Mussolini e Stalin, tendo se encontrado pessoalmente com esse último em Moscou (1931), onde foi brindado com um banquete, ao final do qual emitiu a opinião de que “vi todos os terrores atribuídos a Stalin e posso dizer que me senti terrivelmente agradado por eles.” Imagino que Shaw, definitivamente, deve ter sido uma pessoa muito polêmica em suas conversas nos pubs londrinos.
Quando recebeu o Nobel, em 1925, Shaw pensou em simplesmente recusá-lo (outros já o fizeram), mas foi convencido pela esposa a aceitá-lo como uma forma de homenagem à Irlanda. Ele obedeceu, todavia, rejeitou o dinheiro (atualmente oscila em torno de um milhão de euros, em dependência das finanças da Fundação Nobel), solicitando que o montante fosse investido na tradução de livros suecos para a língua inglesa. Mais de vinte anos depois, em 1946, recusou também a cobiçada Ordem do Mérito do governo inglês sob alegação de que o mérito de um autor nunca poderia ser determinado na atualidade, há que se aguardar a posteridade para confirmá-lo.
Do seu grande catálogo de publicações, possivelmente “Pigmalião”, escrita em 1913, seja a mais conhecida. A peça descreve o empenho de um professor de fonética em transformar uma jovem florista, de pouca cultura, em uma grande dama em apenas três meses. Claro que se tratava de uma aposta. A inspiração veio do nome de Pigmalião, rei da ilha de Chipre, que se apaixonou por uma estátua que esculpira. Em 1964 a peça foi adaptada para o cinema no filme “Minha bela dama” (My fair lady), dirigido por George Cukor (1899-1983) e estrelado por Audrey Hepburn (1929-93) e Rex Harrisson (1908-90). Antes disso, em 1938 (portanto, 25 anos após a publicação), houve uma primeira versão cinematográfica, em que Shaw recebeu o Oscar pelo melhor roteiro adaptado. Desta forma, ele e Bob Dylan são, até hoje, os únicos mortais laureados com um Nobel e um Oscar. Shaw faleceu na avançada idade de 94 anos como consequência da queda de uma árvore, em sua propriedade, onde ele estava instalando enfeites. Pergunto-me, quem teria permitido que um ancião já tão longevo subisse sozinho em uma árvore? Onde estavam a esposa e os filhos?
Figuras de linguagem
Eufemismo: emprego de palavras ou expressões mais agradáveis: toalete (por privada), tumor maligno (por câncer), mal de Hansen (por lepra), faltar à verdade; dar o último suspiro; subtrair; foi convidado a se retirar e os seguintes, que estão bem na moda: terceira idade e secretária (no lugar de empregada).
Ironia: sugerir, pela entoação e contexto, o contrário do que as palavras exprimem: que menina linda! (quando é feia, o contrário também é possível); fino como um hipopótamo; corre rápido como uma tartaruga.
Senão ou se não?
Senão: do contrário, de outro modo, a não ser, mas sim, mas também: estude bastante, senão você não passa; depois do resultado, o ambiente não era outro, senão de alegria e festa; ninguém senão seu melhor amigo poderá ajudá-lo.
Se não: caso não, quando não: haverá jogo se não chover; é difícil, se não impossível, eliminar a pobreza; é rico, se não riquíssimo.
Conselho aos mais estressados: tais distinções nem sempre se estabelecem com facilidade. Confundi-las é um erro muito comum, inclusive entre os revisores de textos. Ninguém, a não ser um louco, vai importuná-los por causa disso.
Frase para sobremesa: Se Deus é onipotente, não será capaz, por exemplo, de construir uma pedra tão pesada que Ele próprio não consiga erguê-la? (São Pedro Damião, 1007-1072)
Até a próxima!