Post 10

Escritores que ganharam o Prêmio Nobel de Literatura.

1918: Não houve entrega do prêmio, de novo a maldita guerra.

1919: Carl Spitteler (1845-1924): foi o único escritor, genuinamente suíço, a receber o prêmio.  Em 1946, o conhecido autor Hermann Hesse, nascido na Alemanha, mas, desde 1923, naturalizado suíço, fora galardoado com o Nobel. Spitteler cursou Direito na Universidade de Zurique, prosseguindo os estudos na área de Teologia em Zurique, Heidelberg e Basel. Convocado para ser um pastor ele declinou, na certeza de que uma longa carreira literária o aguardava. Estava coberto de razão. No período de 1871 a 1879 Spitteler viveu na Rússia, onde atuou como tutor de crianças e adolescentes em diversas famílias aristocráticas.

Dois anos após seu retorno à Suiça, escreveu sua primeira obra: Prometeu e Epimeteu, a mitológica história dos dois irmãos. No entanto, por determinado motivo (sempre existe algum) ele adotou o pseudônimo de Carl Felix Tandem. Não deixa de ser curioso que o prenome Carl é o mesmo, tanto no original quanto no nome criado. Este longo poema, que trata fundamentalmente da história da criação do homem, foi traduzido para o português por Manuel Bandeira. Em 1924, ano da morte de Spitteler, a obra foi republicada com o nome legítimo do autor, tendo o título sido alterado para “Prometeu, o Sofredor”(Prometheus, der Dulder). No entanto, sua produção mais conhecida – inclusive mencionada no texto da Academia Sueca para justificativa da escolha do vencedor – é “Primavera Olímpica”(Olympisher Frühling), um extenso poema em cinco volumes, todo ele composto em versos alexandrinos (aqueles de 12 sílabas), de novo abordando temas mitológicos, os quais eram tão caros ao autor.   

Outra obra significativa de Spitteler é Imago, publicada em 1906. Trata-se de uma autobiografia, em que são criados na mente do autor outros personagens com os quais ele dialoga. Carl Jung (1875-1961), conterrâneo de Spitteler, fundador da psicologia analítica, declarou que a criação do neologismo Imago como representação de uma pessoa formada no inconsciente durante a infância e conservada na idade adulta foi inspirada no título homônimo da obra de Spitteler.  

1920: Knut Hamsun (1859-1952): neste ano o prêmio Nobel volta à Noruega, na pessoa do escritor Knut Hamsun. De vida longa (faleceu aos 93 anos), não comum na época, ele pôde usufruir por 32 anos da honra concedida pela Academia Sueca. O mais curioso na biografia de Hamsun é que ele não recebeu uma educação formal, só frequentando, ocasionalmente, aulas em escolas itinerantes.  Nascido na região central da Noruega, filho de um alfaiate, com três anos de idade mudou-se para uma longínqua aldeia no Norte, próximo ao Círculo Polar Ártico, onde passou a ajudar o tio em afazeres da fazenda. Foi lá também, talvez impulsionado pela reclusão nos meses de inverno, que começou sua paixão pela leitura. Será que algum morador daqueles confins gelados, mirando a face avermelhada de Knut, pensaria que aquele menino levaria jeito para ganhar um Nobel de Literatura?

Escreveu o primeiro livro aos 18 anos sob o nome de Knut Hamsund, grafia original de sua família. Só que a editora, por um erro tipográfico, retirou a letra d final. Knut parece ter gostado da mudança, passando a adotar o sobrenome literário de Hamsun. Nos anos seguintes vários romances de sua autoria foram rejeitados pelos editores de Copenhage, onde eram publicados os livros de origem norueguesa (já vimos no Post-2 que ambas as línguas são muito semelhantes). Na incessante busca por publicações, ele solicitou o apoio do conterrâneo Bjørnstjerne Bjørnson, laureado em 1903 com o Nobel (v. Post-2), o qual lhe recomendou que seguisse preferencialmente a carreira de ator.

Mudou-se para a cidade de Cristiânia (que passou a se chamar Oslo em 1925), onde passou muitas dificuldades para sobrevivência. Seu livro Fome (1890), ambientado nessa situação, se revelou como seu primeiro sucesso. A vida itinerante de Hamsun prosseguiu com viagens aos EUA (onde trabalhou por alguns anos, inclusive como condutor de bonde em Chicago), a Paris (dois anos), à Finlândia (primeira década do século XX).

As duas obras mais conhecidas de Hamsun são “Filhos da época”(Børn av Tiden, 1913) e “Os frutos da terra”(Markens grøde, 1917), ambas constituindo relatos monumentais sobre a dura vida rural na Escandinávia (e, obviamente, no resto do mundo). No período entre as duas grandes guerras, ele viveu recluso. Anglofóbico por essência e inconteste adepto do nazismo, Hamsun enfrentou problemas nos círculos sociais escandinavos. Em 1943 doou sua medalha do Nobel a Joseph Goebbels, ministro da propaganda na Alemanha nazista, em sinal de grande estima. Veremos em um Post futuro que outro agraciado com o Nobel, Luigi Pirandello (1934), também doou sua medalha a Mussolini. Onde esses escritores andavam com suas geniais cabeças? A literatura de Hamsun influenciou autores do porte de Mann, Kafka, Gorki, Hesse, Hemingway e muitos outros. Ele foi um dos criadores da chamada “literatura psicológica” quando são usadas as técnicas de fluxo de consciência e de monólogos internos, ou seja, onde se lê a descrição detalhada dos pensamentos do narrador, largamente encontradas em Proust e Joyce.

Figuras de linguagem

Isócolo: construção de períodos que se decompõem em orações de extensão igual ou quase igual: quem ama o feio, bonito lhe parece; voe como uma borboleta, pique como uma abelha; rosas são vermelhas, violetas são azuis.

Epístrofe: repetição de uma palavra no fim de membros da frase ou das frases: tudo acaba com a morte e tudo se acaba com a morte, até a mesma morte; a seguinte frase já ouvimos tanto nos filmes americanos de tribunal: tell the truth, the whole truth, nothing but the truth.

Breve nota sobre o aprendizado de idiomas

Como o estudo de línguas se constitui obviamente em um dos pilares deste nosso Site, penso que seja oportuna uma curta introdução sobre assunto tão vasto, o qual será abordado em muitos outros Posts.

Em primeiro lugar deve-se destacar aquilo que todos nós já conhecemos, mas que não custa ser relembrado (a esse respeito me vem à mente a emblemática frase do filósofo e educador espanhol José Ortega y Gasset (1883-1955): Deve-se diariamente repetir aquilo que, por ser tão sabido, é diariamente esquecido). Portanto, chega-se à límpida constatação de que o estudo de idiomas pressupõe uma altíssima dose de boa vontade, ou seja, o incontornável passo inicial é de que queiramos, de fato, aprender o idioma. Há que se colocar ali pitadas de alegria, de entusiasmo e de perseverança, caso contrário o estudo se converterá em um insuportável rosário de inquietações e amarguras. Isto posto, cabe agora destacar que toda a linguística moderna concorda com a existência de duas vertentes (segmentos, direções, alternativas, escolham a palavra que mais desejarem) no processo de se estudar um idioma:

  • Aprendizado (learning): consiste no conjunto de métodos tradicionais para o desenvolvimento da compreensão oral e escrita, incluindo-se aqui o aprofundamento nas questões gramaticais (que alguns professores acham que poderia ser dispensada em benefício de formas mais efetivas de comunicação). O aluno jamais conhecerá um idioma de forma satisfatória sem o adequando conhecimento dos aspectos gramaticais;
  • Assimilação (acquisition): aqui entram todos os métodos, alguns muito em moda, de se utilizar recursos da mídia para se ouvir podcasts e blogs enquanto se dirige, se toma o café da manhã ou se pratica algum exercício mais leve, como caminhada. Não substitui o item anterior, apenas o complementa. Recomenda-se também a leitura de textos mais complexos, mesmo que a compreensão não seja integral, de tal forma a se ir desbravando, ousadamente, aquelas barreiras que qualquer idioma nos oferece.

A intensa conjunção dessas duas vertentes é o caminho ideal para se chegar ao objetivo fixado. 

Frase para sobremesa: Todas as coisas, Lucílio, nos são alheias, só o tempo é nosso (Sêneca, 4 a.C.- 65, em Cartas a Lucílio). Mal sabia Sêneca que ele seria uma das poucas pessoas famosas a cruzarem o calendário cristão. Este grandioso filósofo foi preceptor do imperador romano Nero (37-68), que, suspeitando da participação de Sêneca em uma conspiração para assassiná-lo, ordenou que cometesse suicídio (difícil imaginar uma forma mais brutal de castigo).  

Bom descanso!

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