Inaugurando o Literatura e Idiomas

Caros leitores, este é o primeiro Post sobre o tema Literatura e idiomas. A ideia é que sejam feitas, em média, duas postagens semanais, para que o conteúdo possa ser digerido sem muita pressa, mas, por outro lado, não se guardando intervalos muito longos, o que poderia diminuir o entusiasmo pelas leituras.

Penso que uma boa maneira de começarmos a falar sobre literatura seria uma abordagem dos diversos autores ganhadores do Prêmio Nobel. Em um desafio feito comigo mesmo, me propus a ler pelo menos uma obra de cada autor (até a premiação de 2022 são 119 laureados), o que logrei alcançar em aproximadamente um ano e meio (benefício indireto do recolhimento por ocasião da pandemia). Muitos desses autores eu já havia lido em épocas anteriores, naturalmente alguns com maior intensidade do que outros. A disponibilização de diversos livros na forma eletrônica ajudou bastante na celeridade das leituras. No entanto, para vários dos premiados foi mais fácil adquirir os livros físicos. No total, já li 210 obras dos galardoados com o maior prêmio da literatura universal. Alguns autores se constituíram em gratas surpresas pela qualidade do texto, ao passo que outros me provocaram um inesperado sentimento de decepção. Evidentemente se trata de abordagem altamente subjetiva, podendo variar de pessoa para pessoa e, também, conforme a época da vida. Mas, em alguns casos, não resistirei a deixar com vocês alguns comentários.

1901: Sully Prudhomme (1839-1907), poeta francês, teve a honra de ser o primeiro autor laureado com o Prêmio Nobel de Literatura. Seu nome verdadeiro era René Armand François Prudhomme (não confundir com Pierre-Joseph Proudhon, 1809-1865, filósofo francês, o primeiro grande ideólogo do anarquismo). Os poemas de Prudhomme, de inegável beleza, buscam a sonoridade e a perfeição da forma, dentro da clássica escola parnasiana. Não é difícil de imaginar que a escolha de Prudhomme foi cercada de muita controvérsia, dado que outros autores, de maior envergadura internacional, foram preteridos. Bastaria mencionar o nome de Liev Tolstoi (1828-1910) na época considerado por muitos como sendo o maior escritor vivo. Duas de suas obras (Guerra e Paz, Anna Karênina) têm lugar cativo no panteão dos livros imortais. Também merece destaque o nome de um outro russo, Anton Tchekhov (1860-1904), possivelmente o maior dramaturgo na história da literatura, o qual, no ano da concessão do primeiro prêmio Nobel, já sofria de uma tuberculose em estado avançado. O laurel seria, portanto, uma merecida homenagem enquanto Tchekhov ainda estivesse vivo. Por fim, pois são tantos os autores apontados como injustiçados, vale nos lembrarmos de Thomas Hardy (1840-1928), um dos maiores romancistas ingleses da época, autor de clássicos como Longe do insensato mundo, Tess e Judas, o obscuro, o qual ainda permaneceu longos 27 anos aguardando a premiação que nunca veio. No fundo, muitos críticos apontam para a existência de uma disputa ferrenha entre as maiores literaturas da Europa, a saber, a francesa, a russa e a inglesa. A alemã, também considerada como muito expressiva, foi contemplada no prêmio Nobel do ano seguinte.  

1902: Theodor Mommsen (1817-1903), historiador alemão, conseguiu receber o prêmio ainda em tempo de usufruí-lo, vindo a falecer no ano posterior. Sua obra mais conhecida são os cinco volumes da monumental História de Roma, até hoje usada como uma das principais referências nos estudos da história latina. Com uma bolsa financiada pelo rei da Dinamarca passou três anos em Roma, onde frequentava diariamente, até altas horas, o Instituto Arqueológico para a coleta de dados a serem inseridos nos livros que redigiu. Foi o segundo autor mais velho (85 anos) a receber o prêmio Nobel, sendo superado apenas pela britânica Doris Lessing, laureada em 2007 com 87 anos de idade.

Nos próximos blogs continuaremos a descrição dos ganhadores do Prêmio Nobel de Literatura.

Figuras de linguagem

Estas são um dos recursos estilísticos mais empregados no âmbito da literatura mundial. Usamos aqui o conceito amplo de figuras de linguagem para se designar as figuras de palavras, de sintaxe ou construção, de pensamento e de som ou harmonia. Elas colorem as frases, dão vida aos textos, quebram a monotonia dos padrões rotineiros de escrita, em suma, são a cereja de um bolo muito saboroso. Por favor, caros amigos, não pensem que vocês caíram na armadilha de reencontrarem aqui temas da língua portuguesa, talvez de ingrata memória, principalmente pela imposição de se decorar as definições das figuras de linguagem mais importantes. Não, este blog é direcionado ao lazer, todavia com embasamento cultural. Comentarei aqui muito mais figuras de linguagem do que as normalmente encontradas nos compêndios de língua portuguesa. Como tal assunto sempre foi uma distração para mim, que buscava informações em livros mais aprofundados, de diversos idiomas, tive a oportunidade de colecionar um elevado número dessas bailarinas. Divirtam-se com as definições, os exemplos (muitos deles retirados do Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa) e com a complexa nomenclatura, assustadora no início, mas que não faz mal a ninguém. Comecemos com as mais tradicionais:

Metáfora: é a rainha das figuras de linguagem, usada largamente por renomados escritores, talvez o melhor exemplo seja o grandioso Marcel Proust. Trata-se simplesmente do emprego de uma palavra fora do seu sentido normal. Portanto, até crianças podem utilizá-la facilmente. Nada melhor que alguns exemplos: Amazônia é o pulmão do mundo; ter vontade de ferro; ele é uma raposa. 

Metonímia: consiste na substituição de um nome por outro em virtude de haver entre eles algum relacionamento ou então o uso de uma palavra fora do contexto normal por haver uma afinidade de sentido. Mas não é parecido com metáfora? Claro que é, mas isso não deve nos perturbar. Vejamos alguns exemplos: ler Tolstoi; ele é uma pena brilhante; um bom garfo; eduquei vocês com o suor do meu trabalho e por aí afora.

Sinédoque: reparem como os nomes são elegantes, provocam boa impressão até em mesa de bar. A sinédoque é um tipo especial de metonímia, mas que explora o conceito de extensão. Como assim? Vejam: braços para a lavoura; tenho quatro bocas para sustentar, meu tio tem mil cabeças de gado. Não é difícil perceber que aqui é usada uma parte para representar o todo. Uma observação, quiçá seja até um conselho: à exceção de linguistas puros, protetores da castidade do idioma, todos nós, pobres mortais, eventualmente confundimos essas três figuras de linguagem as quais podem guardar grandes semelhanças. Relaxemos, esse é o menor dos pecados que cometeremos na vida. 

No próximo post daremos sequência às figuras de linguagem.

Frase para sobremesa: ao final de cada post pretendo deixar uma reflexão, já  que elas fazem bem para a cabeça e para a alma. O mais fascinante é que cada um de nós pode desenvolver sua própria interpretação. Comecemos por um antigo patriarca:

Até a próxima !

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